BOLETIM FINANCEIRO


ANO 2 .......................................No. 5

JANEIRO-FEVEREIRO 1997....................Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Este é o primeiro número do BOLETIM FINANCEIRO de 1997.

Esta edição será um pouco diferente das anteriores. Em vez de apresentarmos uma companhia em detalhe trataremos de assuntos mais genéricos.

Agora que a nossa presença parece ter-se estabilizado é nossa intenção passar a publicar o BOLETIM de dois em dois meses. As edições serão, no entanto, mais pequenas.

Nos números anteriores apresentámos acções de companhias de primeira qualidade, as chamadas "blue chips". No entanto existem outras que sem alcançar essa classificação, se afirmam bastante prometedoras. Falaremos abaixo de quatro dessas companhias.

Finalmente manifestamos a nossa satisfação devido à actuação das companhias analisadas no BOLETIM FINANCEIRO. No número 1 (Janeiro, Fevereiro e Março) apresentámos BCE INC. Na primavera os americanos descobriram a companhia e o preço das acções subiu vertiginosamente. No número 2 apresentámos o BANCO DE MONTREAL. Todos sabemos o que aconteceu às acções dos bancos. Boas actuações também de IMPERIAL OIL (Número 3) e TRANSCANADA PIPELINES (Número 4)


RESUMO DE 1996

Até próximo do fim do ano tudo parecia indicar de que a grande controvérsia de 1996 seria à volta de SHERRITT INTERNATIONAL CORP. A decisão da companhia de investir massivamente em Cuba tem causado grande irritação nos meios políticos dos Estados Unidos e constitui um desafio a uma proposta legislativa apresentada pelo Congresso, conhecida como a lei "Helms-Burton", mas cuja aprovação final tem sido adiada pelo presidente Clinton.

Pouco interessa que os americanos gostem ou não dessas actividades. SHERRITT INTERNATIONAL CORP. insiste em aumentar a sua presença em Cuba. E a ilha continua a abrir os braços a investimentos e à penetração capitalista. Há planos para investimentos em refinarias de petróleo, plantações de açucar, imobiliário e comunicações. O envolvimento de SHERRITT em Cuba tão profundo que a companhia já teve uma das reuniões de directores em Havana. Com a possibilidade de uma "escapadela" até à praia pensamos que nenhum deles faltou à reunião.

Os dirigentes de SHERRITT INTERNATIONAL CORP. estão tão entusiasmados com os projectos nas terras de Fidel Castro que até já sugeriram que a companhia se tornará uma Canadian Pacific de Cuba. Um aviso aqui: se bem que CANADIAN PACIFIC LTD. apresente resultados favoráveis no momento os seus accionistas da "sofreram" muito durante cerca de década e meia.

Entretanto nos Estados Unidos a famosa lei "Helms-Burton" tenciona castigar companhias que têm a actividades em Cuba, mas não quaisquer actividades, apenas aquelas que envolvem o uso de propriedades confiscadas aos americanos durante a revolução de 1959 sem pagamento de indemnização. Isto é o caso de todas as companhias americanas que operavam em Cuba na ocasião. A lei, sem dúvida, provoca controvérsia, pois que se aplica fora dos Estados Unidos. E não é a primeira vez que os americanos usam tais leis. Não admira que tanto o Canadá como a União Europeia protestem. Mas quando se trata de aprovar legislação, ou de aplicar leis extra territoriais, nem o Canadá nem a União Europeia têm as mãos limpas. O Canadá impõe as suas leis em águas internacionais, quando apreende barcos de pesca espanhóis, e países europeus punem Canadá por causa da pesca das focas. Assim não há inocentes nestas actividades diplomáticas e políticas.

Para financiar os seus investimentos na ilha, SHERRITT INTERNATIONAL CORP. emitiu debenturas (títulos de crédito) no valor de 675 milhões de dólares. A emissão foi bem aceite pelo mercado e vendida ràpidamente.

Accionistas da companhia sujeitam-se a grandes riscos. Mais tarde ou mais cedo Fidel Castro e o seu irmão Raúl desaparecerão da cena política. Revolução, um golpe de estado... muita coisa pode acontecer. Se o regime cair há uma forte possibilidade de que os expatriados, especialmente aqueles residentes na Florida, readquiram influência ou passem a fazer parte do governo. Propriedades expropriadas por Castro serão devolvidas aos seus donos primitivos... Se assim acontecer então será a vez de SHERRITT INTERNATIONAL CORP. de experimentar os efeitos duma expropriação sem compensação.

Este parecia ser o caso do ano até que um outro passou a ocupar as primeiras páginas dos jornais canadianos: o caso da BRE X MINERALS LTD. e dos depósitos Busang na Indonésia.

BRE X MINERALS LTD. era, até então, uma daquelas firmas pequenas - conhecidas como "júniores" - envolvidas na descoberta e exploração mineira. De repente a companhia acertou no Loto quando explorações preliminares na Indonésia indicaram a presença de ouro. Mais importante do que a própria descoberta (e era para isso que a companhia lá estava) foi a notícia de que esses depósitos seriam os maiores dos últimos tempos.

Assim que as notícias apareceram nos jornais o preço das acções da BRE X MINERALS LTD. subiu vertiginosamente. Quando a informação ainda não tinha chegado ao público, o gerente duma agência bancária, numa pequena localidade de Alberta, recomendou a compra de acções da companhia a amigos e clientes do banco. Alguns dos que seguiram o conselho tornaram-se milionários instantâneamente.

Até esse momento tudo parecia que iria correr o melhor possível para o novo "gigante" da indústria dos metais preciosos, mas problemas criados pelo governo da Indonésia começaram a aparecer.

BRE X MINERALS LTD. fez o investimento, estabeleceu planos, transportou pessoal, fez investigações geológicas... mas o "filão" era grande demais para uma firma pequena a operar num país caracterizado pela corrupção dos seus governantes. O governo do país começou a criar uma série de obstáculos burocráticos à companhia.

Quando os jornais anunciaram que Peter Munk, que controla BARRICK GOLD CORP., tinha partido para a Indonésia soube-se logo que havia interesses especiais nessa viagem. Quando se soube que ele se iria encontrar com o presidente do país, as suspeitas aumentaram. Elas foram confirmadas quando Suharno ordenou a BRE X que iniciasse nogociações com BARRICK para a exploração em conjunto dos depósitos de Busang. Além disso, como associado passivo, o governo da Indonésia pediu uma participação no projecto.

Não nos devemos esquecer que BARRICK conta entre os seus directores um antigo Primeiro Ministro do Canadá, Brian Mulroney, e um antigo Presidente dos Estados Unidos, George Bush.

Tal como folhetins de televisão o que virá a seguir não se sabe. Um filho de Suharno foi convidado para director de BRE X, mas a filha predilecta, ao que consta, está "unha e carne" com BARRICK. O folhetim continua...


PROMESSAS PARA 1997

O panorama de investimentos no Canadá continua favorável. As previsões dos especialistas (sempre sujeitas a erros e correcções) são geralmente optimistas.

A maioria das previsões acerca do índice da Bolsa de Toronto são para que ele esteja mais alto no fim de 1997. O índice tem uma percentagem elevada da indústria de matérias primas. Este sector costuma sobressair na parte final dum mercado em ascendência (bull market).

Com juros baixos e fundos de investimento a captarem um número recorde de novos investidores, contribuições têm que ser aplicadas. Tal exerce grande pressão no preço das acções. A procura contribui para o aumento de preço. Isto tem uma inconveniência : pode resultar em ter que se pagar mais por investimentos do que o seu valor intrínseco.

Se bem que ainda haja certo entusiasmo por technologia, existe igualmente o reconhecimento de que muitos dos grandes produtos de hoje serão obsoletos amanhã.

Para aqueles que pretendem investir em novas tendências, ou em indústrias com futuro prometedor, uma área que deve ser considerada é a de medicina e saúde.

Duas companhias atraíram a nossa atenção durante o ano passado. Uma é relativamente pequena, DYNACARE INC., a outra é mais conhecida e com capitalização mais elevada, M.D.S. LABORATORIES. Ambas estão no mercado de análises farmacêuticas e definitivamente lançadas para crescimento. Tencionamos examinar uma delas, M.D.S., num dos próximos números. Qualquer das firmas deve apresentar bons resultados no futuro e as acções são candidatas para aumento de preço.

Enquanto há companhias que parecem oferecer boas perspectivas futuras, outras parecem ser candidatas a uma estagnação permanente.

Por exemplo: duas companhias negociadas no Toronto Stock Exchange, em indústrias diferentes, deverão beneficiar da modernização e do crescimento das economias mundiais. Mas se em vez de crescimento tivermos uma recessão e subsequente proteccionismo económico, as possibilidades deste género de companhias serão enormemente reduzidas. As companhias em referência são: TESMA INTERNATIONAL INC. e NEWCOURT CREDIT GROUP.

TESMA INTERNATIONAL INC. é pràticamente desconhecida do público. Oficialmente a companhia tem apenas um ano de existência, mas em prática é antiga, pois que foi criada a partir duma divisão da conhecida MAGNA INTERNATIONAL. Enquanto as actividades de MAGNA são seguidas atentamente, o mesmo não acontece com TESMA. Apesar de ter apenas um ano de existência como companhia independente, TESMA tem produção na América do Norte e na Europa. Os clientes encontram-se nos quatro centros de produção automobilística: Europa, América do Norte e do Sul e Sudoeste Asiático. As suas peças encontram-se tanto em Volkswagens como em carros da General Motors. MAGNA INTERNATIONAL é a maior accionista e a mão de Frank Stronach faz-se sentir na companhia,

NEWCOURT CREDIT GROUP é outra firma desconhecida fora dos meios financeiros. É sólida e tem uma gerência competente. A companhia financia grandes projectos, tais como construção de barragens e de auto estradas e tem demonstrado boa capacidade para encontrar clientela.

Tanto TESMA INTERNATIONAL, dependente de produção de automóveis, como NEWCOURT CREDIT GROUP, financiadora de grandes projectos de construção, estão dependentes de expansão e crescimento económico, DYNACARE INC. e MDS LABORATORIES não são tão afectadas por tais factores, pois que saúde, vacinas e exames de sangue terão que continuar quer haja expansão ou contracção económica.

Fundos de Investimento procuram qualidade e diversidade. Estas são companhias geralmente incluidas nas pastas desses Fundos.


(Preparado: Janeiro de 1997).

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