BOLETIM FINANCEIRO


ANO 2 ........................................ No. 7

MAIO - JUNHO 1997........................ ..Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Os mercados financeiros do Canadá foram perturbados pelo maior escândalo de sempre quando foi revelado de que o que se afirmava ser a descoberta dum dos maiores depósitos de ouro dos tempos modernos foi afinal uma fraude sem paralelo na indústria mineira do país. E nós que não pensávamos escrever mais sobre Bre-X voltamos de novo à companhia.

A história começou em 1995 quando Bre-X, uma companhia até então desconhecida, uma daquelas referidas como juniores, iniciou explorações mineiras na ilha de Borneo, numa área chamada Bansung. De repente uma notícia excitou a comunidade financeira. Dirigentes da companhia, o chefe geologista e o presidente, proclamaram que os depósitos continham algo como 71 milhões de onças de ouro. E haviam os resultados de análises a espécimes minerais extraídos da propriedade para o provar. De centavos, o preço das acções atingiu a estratosfera. Quando chegaram a um preço elevado, cada acção foi transformada em dez novas acções. Recentemente, o preço das novas acções chegou a mais de 28 dólares.

As primeiras suspeitas acerca do valor da propriedade de Bre-X apareceram quando, em 19 de Março último, Michael de Guzman, o geologista chefe da mina (o segundo em importância na companhia), se "suicidou" atirando-se dum helicóptero que sobrevoava a região. Ele deixou uma nota justificando a sua acção numa doença incurável. Isso foi uma surpresa para todos e especialmente para a família do geologista, que não lhe conhecia problemas de saúde mais graves do que alguns ataques de malária no passado. Dúvidas sobre a morte ou se o corpo encontrado era o de Guzman continuaram a pairar no ar. Igualmente estranho que a tripulação do helicóptero não fosse a usual.

A partir desse momento uma onda de suspeita rodeou a companhia.

A 26 de Março uma firma que se iria associar à Bre-X, na exploração da mina, Freeport McMoRan Copper & Gold Inc., empresa americana de New Orleans, desde há muito envolvida em explorações na Indonésia, anunciou que numa prospecção inicial feita no local não tinha encontrado resíduos de ouro que justificassem exploração comercial. Foi então a vez dum auditor independente ser chamado para analisar as amostras em poder de Bre-X e extrair novos espécimes. A firma concluiu que as amostras da Bre-X, aquelas que tinham iniciado a "febre do ouro", tinham sido alteradas intencionalmente e os auditores foram ainda mais longe, classificando o caso como "Uma falsificação sem precedentes na história da indústria mineira".

Os associados americanos de Bre-X e o Grupo indonésio Nusamba, ambos preparados para beneficiar da descoberta, cancelaram imediatamente os respectivos contratos com Bre-X. O presidente de Bre-X, David Walsh, afirmou-se "estarrecido" com os acontecimento e prometeu uma investigação e, custe o que custar, "pôr o caso em pratos limpos".

Tanto David Welsh, o presidente de Bre-X, como o geologista chefe John Felderhof, fizeram milhões de dólares ao venderam acções da companhia. Em 1996 o presidente e a mulher só em opções ganharam 35 milhões. Igualmente, no ano passado, John Felderhof vendeu acções no valor de 42 milhões de dólares. Grande parte do dinheiro tem sido transferido para fora do país.

Felderhof e mulher mudaram-se para Cayman, uma ilha nas Caraíbas, aonde chegaram a 22 de Abril. O geologista afirmou estar "chocado" com o relatório do resultado das análises apresentado pelo auditor. Continua a acreditar que existe ouro na propriedade e aposta na honestidade de todos os colegas e subalternos e não acredita que alguém da sua equipa tivesse falsificado as amostras. O casal vive numa propriedade avaliada em 3 milhões de meio de dólares canadianos e ambos já pediram para serem aceites como residentes permanentes na ilha.

Aqueles que compraram e mantiveram acções de Bre-X até ao fim perderam o investimento na totalidade e se há quem vá ainda fazer dinheiro com a companhia serão os advogados que se preparam para numerosas acções no tribunal. Os processos judiciários multiplicam-se. Há acções contra a companhia, contra o presidente e o geologista chefe. A própria companhia queixou-se à policia contra desconhecidos, afirmando ter sido vítima de fraude. Há acções contra a Canadian Securities Commission e uma firma de investimentos... E as coisas não irão ficar por aqui.

À sombra destas acontecimentos e de valores que na realidade não existiam, milhões de dólares foram ganhos e milhões foram perdidos. As perguntas que se fazem agora são: como foi possível tanta gente ter sido enganada durante tanto tempo? Porque não foram feitas análises ao terreno por firmas independentes? Como foi possível que instituições financeiras de responsabilidade mundial terem recomendado as acções da companhia a clientes sem provas mais concretas do valor mineral do área? Como foi possível que as maiores firmas canadianas de fundos de investimento tivessem posto dinheiro na companhia e que até uma companhia americana como Fidelity não procurasse provas mais concretas da existência do ouro? Se havia até quem já tivesse explorado a área sem nada de valor ter encontrado... E onde estavam os auditores para confirmar a descoberta? Claro que todas estas suspeitas são agora evidentes, mas na ocasião muitos foram influenciados pelo entusiasmo de outros e não investigaram a companhia devidamente. Se há responsáveis pela listagem e aceitação da companhia nas bolsas eles devem ser procurados entre aqueles que se encontram na primeira linha da indústria de investimentos.

O governo da Indonésia ficou comprometido com o fiasco e a polícia canadiana continua em investigações no Canadá e na Indonésia. O caso ainda irá dar ainda muito que falar. A falsificação foi imaginativa e logrou muita gente. Dir-se-ia que atrás dela esteve o dedo astuto dum Mr. Goldfinger.

Um acontecimento importante, mas mais simbólico do que prático, aconteceu no Canadá. A sala de transacções da bolsa de Toronto, conhecido como o "floor" desapareceu. Ofuscada pelas notícias sobre Bre-X, o acontecimento foi praticamente ignorado até mesmo pela imprensa da especialidade. É certo de que a bolsa, na presente residência, já era muito diferente da antiga na Bay Street (a Wall Street do Canadá). Quando viemos para o Canadá podia-se ir à bolsa, entrar no "floor" misturarmo-nos com os corretores sem que ninguém nos prestasse atenção ou impedisse a entrada. Mas isso era nesse tempo. A nova bolsa, em instalações modernas, já tinha guardas de segurança e só as pessoas autorizadas e exibindo identificação pessoal podiam entrar na sala. O público apenas tinha a possibilidade de ver transacções através dos vidros duma galeria de observação. Tal como noutras bolsas, Londres, por exemplo, o histórico "trading floor" de Toronto desapareceu. Ele foi substituído por um sistema de computadores e terminais. Naturalmente grande parte das transacções já eram feitas por computadores e terminais. No entanto restava ainda a sala onde por vezes parecia reinar a anarquia com agentes gritando e gesticulando frenèticamente na compra e venda de títulos. Isso contribuía para a atmosfera característica dos mercados financeiros. Mas essa atmosfera agora tornou-se mais uma memória do passado.


ACÇÕES DE PRIMEIRA QUALIDADE

IMASCO, LTD

Acções da IMASCO, LTD são daquelas que investidores "compram e conservam". Conhecida como uma companhia de tabaco, tal como outras companhias do mesmo ramo, IMASCO LTD. representa muito mais do que tabaco. A companhia tem diversificado e entrado na área de produtos e serviços para consumidores. A simples ideia de tabaco pode assustar muitos investidores, mas as companhias nesta indústria representam os melhores valores do mercado. Basta só olhar para o sul e avaliar Phillip Morris. Há três anos atrás o preço das acções do gigante americano rondava pelos quarenta e tal dólares. Recentemente houve um "split" em que cada acção foi transformada em três. As novas acções já estão de novo na casa dos 40 dólares. Em três anos as acções triplicaram em preço, e isto não contando com os dividendos generosos pagos periòdicamente. IMASCO, LTD. não tem o poder dum Phillip Morris mas merece um lugar numa pasta de investimentos diversificada. As principais subsidiárias da firma são: Imperial Tobacco, Canada Trust, Shoppers Drug Mart/Pharmaprix e Genstar Development Company.

Imperial Tobacco é a principal subsidiária. A companhia que produz cigarros é a mais lucrativa do grupo. Vende para 2/3 do mercado canadiano e exporta para o estrangeiro. Imperial Tobacco tem mostrado grande capacidade de adaptação às transformações do mercado. As fábricas de produção de cigarros de Montreal e Guelph foram modernizadas com a instalação de equipamento mais produtivo e o sistema de preparação de tabaco foi centralizado em Aylmer (Ontário). Reconhecendo interesses comuns, gerência e sindicatos tem colaborado nessas transformações. O movimento anti-tabaco continua a crescer mas não deverá afectar lucros. Existe legislação do Parlamento do Canadá para proibir publicidade a tabaco, mas a indústria promete lutar contra ela usando todos os meios legais. Legislação anterior "encalhou" quando o Supremo Tribunal do Canadá a considerou anti-constitucional. Possìvelmente a indústria poderá até beneficiar duma lei proibindo publicidade do tabaco. Mesmo num mundo sem reclames a marcas de cigarros fumadores manterão o vício e a juventude continuará a fumar da mesma maneira. E as companhias deixarão de dispender milhões em publicidade e patrocínio de artes e acontecimentos desportivos.

Através de CT Financial Services (98% participação), Imasco possui Canada Trust. Após Imperial Tobacco, Canada Trust é a firma mais visível do grupo. Canada Trust continua a contribuir generosamente para os cofres de IMASCO, LTD. Nos últimos 3 anos a contribuição para a companhia mãe tem aumentado 20% anualmente.

A outra subsidiária de IMASCO, LTD conhecida pelo publico canadiano é Shoppers Drug Mart, Pharmaprix no Québec. Shoppers vende dois produtos para os quais não há quebra de procura: medicamentos e cosméticos. Nos princípio de 1966 IMASCO adquiriu o grupo Big V (135 farmácias) com operações no Ontário, integrando-o com as operações de Shoppers Drug Mart.

Recentemente a secção de receitas médicas da farmácia começou a ressentir-se duma competição que não existia anteriormente. Quando farmácias aviam medicamente elas incluem uma verba fixa para serviço chamado "dispensing fee" (aviamento de uma receita). No Drug Mart essa importância são $10.99. Por exemplo: ao aviar uma receita de 20 comprimidos BROMAZEPAN 3Mg paga-se $14.57. Enquanto os comprimidos custam apenas $3.55, paga-se de serviço $10.99, perfazendo o total de $14.57. Com um custo de serviço a $10.99, comprimidos que custam 2 ou 3 dólares passam a custar 13 ou 14 dólares. Recentemente outras farmácias começaram a aparecer cujo serviço é bastante mais barato. Para manter a sua percentagem no mercado, Shoppers Drug Mart está a oferecer serviços especiais, como por exemplo, o programa HealthWatch, que é um arquivo computadorizado em que se regista a história de cada cliente, com informação dos medicamentos comprados e outros dados de utilidade, a oferecer descontos especiais para pessoas da terceira idade e outras iniciativas.

Genstar está na área de comunidades planificadas. A companhia compra terrenos e prepara-os para habitação. Após as estruturas necessárias vende-o em lotes a construtores civis. A companhia está presente no Canadá e nos Estados Unidos, mas o crescimento previsto é no lado americano. Genstar também teve resultados financeiros satisfatórios no primeiro trimestre de 1997.

IMASCO, LTD. vendeu uma divisão improdutiva - restaurantes. Roy Rogers e a cadeia americana Hardees Food Systems já não pertencem à companhia. E CT Financial desfez-se de First Federal Savings and Loan Association of Rochester, nos Estados Unidos.

No aspecto de resultados financeiros, lucros continuam a aumentar anualmente. Imperial Tobacco e Canada Trust foram os melhores contribuintes. Shoppers Drug Mart/Pharmaprix e Genstar deram uma boa ajuda. Dividendos têm aumentado 11% anualmente, o que é excelente considerando a taxa baixa de inflação no país. O dividendo anual é de $1.20 por acção. O preço actual das acções é de $39.20 (16 de Maio 1997). Nos dois últimos anos preços oscilarem entre $19.75 e $27.25 (1995) e $24.75 e $34.75(1996).

IMASCO é uma boa companhia, que oferece estabilidade e crescimento. E tudo indica que continuará a crescer no futuro próximo.

(Preparado: Maio de 1997).


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