BOLETIM FINANCEIRO


ANO 2 ........................................ No. 8

JULHO - AGOSTO 1997........................ ..Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Enquanto optimistas e pessimistas apresentam uma abundância de argumentos para justificar as suas convicções, os índices das bolsas de Nova Iorque e Toronto continuam a actuar como o têem feito nestes últimos seis anos, isto é - a subir. A subida tem sido de tal maneira que até os próprios optimistas se mostram surpreendidos com os ganhos.

Pouca inflação permite que juros de empréstimo se mantenham baixos. Depósitos a prazo a darem juros de 3% anualmente contribuem para que pequenos investidores fujam para fundos de investimento. Tudo isto concorre para uma corrida para a bolsa.

Entretanto os optimistas encontraram um novo argumento para reforçar as suas convicções. Eles afirmam que capital europeu, "cansado" das incertezas e polémicas rodeando a moeda única, decidiu procurar refúgio na estabilidade do dólar americano. Isto resulta numa valorização do dólar e aumento de confiança na economia norte-americana.

Mas o ritmo da subida causa apreensões a outros. A pergunta que estes fazem é: quando começará a queda? É certo que já houve descidas mas elas foram apenas ligeiras correcções. Após cada uma delas, o avanço continuou com mais energia do que nunca. Mas na próxima vez poderá ser diferente...

No passado dia 23 de Junho, o índice do New York Stock Exchange teve a maior baixa diária desde Outubro de 1987. Essa descida foi provocada por afirmações do primeiro ministro japonês insinuando uma possível repatriação do capital nipónico que se encontra investido nos Estados Unidos. No dia seguinte tudo voltou á normalidade e o índice "vingou-se" com uma subida igualmente espectacular.

Os acontecimentos de 23 de Junho não devem, no entanto, ser esquecidos. Eles põem em foco a realidade da situação financeira dos Estados Unidos em relação ao resto do mundo. O país que, no passado, era o maior credor mundial; é hoje o maior devedor. E uma parte considerável do capital estrangeiro nele investido é proveniente do Japão.

Existe sempre a possibilidade de que a qualquer momento os japoneses se desfaçam de dólares e transfiram capital para o Japão para reinvestimento nas indústrias locais. Conhecendo o patriotismo dos japoneses tal não seria de surpreender. Numa tal hipótese a economia dos Estados Unidos, dependente desse capital, entraria numa crise profunda. Canadá seria igualmente afectado não só pela fuga do Iene, mas ainda pela sua dependência na economia americana.

As companhias apresentadas no BOLETIM continuam a ter excelente actuação. As suas acções persistem numa subida vertiginosa. Umas mais do que as outras. Por exemplo: as acções do BANCO DE MONTREAL que rondavam pelos 43 dólares nos fins de 1996, princípios de 1997, agora, seis meses mais tarde, transaccionam a $57.50 (17 de Julho de 1997) O mesmo se pode dizer para BCE INC.

Como curiosidade, no segundo trimestre de 1997, o índice dos serviços financeiros aumentou 18% e o das utilities 16%.

COMENTÁRIO

No outro dia, ao lermos o suplemento "Report on Business", do jornal canadiano Globe & Mail (17-Maio-1997), deparámo-nos com duas pequenas notícias que inspiraram este breve comentário.

As notícias referiam-se a duas companhias que actuam em ramos da economia totalmente diferentes. A primeira é CARMA CORP. Esta companhia está na área de construção de propriedades residenciais e tem a sua base na província de Alberta. Preço das acções nesse dia: $6,40. A firma é vista favoràvelmente no meio financeiro e o preço das suas acções tem tendência a subir.

A outra é PALLET PALLET INC. Esta companhia manufactura estrados tanto em madeira, como plástico ou metal. Eles são usados como base para o transporte de mercadorias. A companhia tem um passivo elevado e "cash flow" insuficiente para cobrir débitos e tem registado prejuízos. As acções, que chegaram a 5 dólares no passado, são presentemente negociadas por uns meros 25 cêntimos.

A relação entre as duas companhias? Nenhuma, excepto que PALLET PALLET INC. se encontra hoje numa situação como CARMA se encontrou no passado.

A primeira vez que lemos sobre CARMA foi no mesmo "Report on Business" num artigo assinado por Martin Mittelstaedt (17 Agosto 1985). Mittelstaedt, um astuto observador do panorama financeiro, escreveu sobre companhias afectadas pela recessão e cujo preços das acções reflectiam as dificuldades em que as firmas se encontravam. Das companhias nomeadas pelo artigo, à volta duma dezena, a nossa atenção voltou-se para CARMA e, apenas por curiosidade, passamos a seguir a companhia. A primeira coisa a fazer foi pedir os relatórios anuais. Após isso não deixar escapar nenhuma das notícias que os jornais financeiros publicavam sobre ela.

Acompanhámos todos os maus momentos da firma. Tal como outras companhias, CARMA foi afectada por problemas no mercado de propriedades e do mercado do óleo, que na ocasião atingiram particularmente o oeste do Canadá. Forçada a vender a maior parte das suas propriedades no Canadá e nos Estados Unidos, o inventário de propriedades da firma foi reduzido de 1,4 bilião, em 1981, para uns meros 200 milhões em 1986.

Quando a companhia se viu impossibilitada de pagar os seus débitos ela propôs aos credores a conversão de débito por acções. Devedores não tiveram muita escolha. Se para os accionistas emissão de mais acções é prejudicial, devido aos efeitos dilutivos, tal é amplamente compensado pela eliminação de débito.

Como resultado da emissão de novas acções, débito foi eliminado e credores tornaram-se accionistas. Antigos credores ficaram com 75% das acções da companhia.

Outras medidas foram tomadas para eliminar despesas. O número de empregados passou de 100 para 50. Escritórios regionais foram fechados. Ligando para o escritório de Toronto (Mississauga) recebia-se o sinal de número não-existente.

No fim de 1985 a firma mostrou um prejuízo de 5,5 milhões de dólares. Acções eram negociadas a menos de 20 cêntimos. Chegaram a ser transaccionadas a 13 cêntimos. Para aqueles que pudessem aceitar riscos, um preço tão baixo oferecia excelentes possibilidades de ganho, no caso duma recuperação. Claro que se a companhia desse bancarrota não interessava que as acções custassem 100 dólares ou 1 cêntimo. Quem investisse dois ou três mil dólares perdia o dinheiro na totalidade.

Deixámos de ver a companhia nas cotações da bolsa de Toronto. Mais tarde verificámos que ela tinha mudado de nome e passara a ser CONSOLIDATED CARMA. Depois desapareceu de novo. Outra mudança de nome, voltando ao antigo CARMA.

As transformações e medidas tomadas pela administração da empresa foram bem sucedidas. CARMA recuperou. O preço das acções reflectiu os progressos feito pela companhia. Aqueles que as compraram no periodo de depressão tiveram grandes ganhos.

PALLET PALLET INC. não está envolvida em propriedades, que é uma área de grande potencial, nem se espera nenhuma recuperação espectacular. Mas as acções da companhia, transaccionadas agora a 25 cêntimos, chegaram a $5.38 no passado. Perante isto a administração está debaixo de grande pressão para mostrar melhoria. Uma reunião especial dos accionistas está marcada para 11 de Agosto.

ACÇÕES DE PRIMEIRA QUALIDADE

WESTCOAST ENERGY INC

WESTCOAST ENERGY INC é uma das principais companhias canadianas no sector de energia. Distribui gás através de condutas. Outra área em que está envolvida é a distribuição de electricidade. Enquanto as principais actividades são no Canadá e nos Estados Unidos, a companhia está a expandir-se internacionalmente.

A companhia continua a aumentar a sua presença tanto na área de distribuição de gás como na de distribuição de electricidade e a apostar na convergência entre as duas fontes de energia. Um acordo feito recentemente com COASTAL CORPORATION dá-lhe uma presença ainda mais forte na distribuição de gás natural e electricidade na América do Norte.

WESTCOAST ENERGY INC está ainda a seguir uma política de diversificação. No ano passado, através da subsidiária CENTRA GAS MANITOBA, entrou em colaboração com MANITOBA HYDRO, numa "joint venture" para amalgamar serviços (leitura de contadores, facturação, etc.) e reduzir custos. Numa outra "joint venture" a companhia entrou em colaboração com o grupo WING, "leaders" mundiais no desenvolvimento de "power projects", para desenvolvimento de novas fontes de energia, a baixo custo, como alternativa á energia eléctrica. O projecto envolve 20 comunidades do estado de Nova Iorque. Ela está também envolvida num projecto, na Austrália, que deve ficar concluído no próximo ano.

Ocorrências recentes: a companhia informou que está à espera de autorização para estabelecer uma conduta que ligará a província canadiana de Nova Escócia com o este dos Estados Unidos.

O governo do Ontário autorizou a amalgamação das subsidiárias da companhia, CENTRA GAS ONTARIO e UNION GAS LTD. A nova companhia chamar-seà UNION GAS LTD.

WESTCOAST ENERGY INC tem a sede em Vancouver e as suas acções são negociadas nas bolsas de Toronto, Vancouver e Montreal. Preços das acções têem-se mantido estático nos últimos anos. Em 1994 eles oscilarem entre $24 5/8 e $19 5/8. 1995 ($22 3/4 e $19 1/4). 1996 ($24.40 e $20.20). Preço recente (Julho, 17) $27.00. Dividendo anual é de $1.16. Ao preço currente o dividendo é de 4.3%.

Analistas que seguem a companhia são de opinião de que as suas possibilidades de crescimento são óptimas. O que é atractivo acerca deste investimento é que sendo extremamente conservativo e oferecendo um dividendo elevado em relação a outros similares, ele tem potencial para "crescimento".

(Preparado: Julho de 1997).


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