BOLETIM FINANCEIRO


ANO 2 ........................................ No. 10

NOVEMBRO - DEZEMBRO 1997................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Investidores nas bolsas mundiais tiveram em Outubro passado uma amostra do que possivelmente os espera nestes meses mais próximos - um mercado bastante volátil.

O "mini crash" do passado dia 27 teve origem no outro lado do globo, mas devido à inter-relação das economias, a chamada "globalização", a "gripe asiática" que começou em Hong-Kong alcançou imediatamente os restantes mercados. No que diz respeito ao Canadá e aos Estados Unidos a queda precipitada das bolsas teve, indubitavelmente, um efeito benéfico. Os grandes ganhos ocorridos recentemente não podem continuar indefinidamente. Preço de acções continua elevado e em muitas circunstancias investidores estão a pagar por elas preços que não se justificam.

Ao primeiro sinal do colapso, instituições canadianas começaram a desfazer-se de stock. Foram os pequenos investidores que se mantiveram firmes e contribuíram para a recovery que se seguiu. Isto constitui prova de que os fundos de investimento têm sido eficientes em propagar a mensagem de que o investir na bolsa é uma decisão a longo prazo. Com certificados de depósito a oferecerem 3 ou 4% de juro anual, investidores não vêm outra hipótese para colocar as suas economias senão em fundos de investimento. Muitos deles esquecem de que é melhor ganhar 4% do que perder 10%.

Um indício de que preços estão elevados é o facto de que algumas companhias de fundos de investimento terem estado a aumentar, de algum tempo para cá, a percentagem de "cash" nos seus portefólios.

Na segunda-feira, 27 de Outubro, o índice do Dow Jones sofreu uma queda de 554 pontos. Mas se em valores nominais a descida foi a maior de sempre, em percentagem, a depreciação foi apenas de 7.18%, comparada com 23% em 19 de Outubro de 1987.

Em Toronto as coisas correram pouco melhor; o TSE 300 index desceu 434 pontos, uma quebra de 6%. Em 19 de Outubro de 1987 ele descera 11%. Nos dias seguintes a "febre" de comprar voltou aos mercados e tudo regressou à normalidade.

Se bem que o índices do Dow Jones e do TSE descessem precipitadamente, as diferenças entre este "deslize" das duas bolsas e a queda de 1987 foram bastantes. Desta vez não houve o pânico de há dez anos atrás. Jornais têm-nos lembrado frequentemente de 1987 e preparado para aceitar correcções a qualquer momento; no presente a economia está em melhores condições do que em 1987 e a inflação é reduzida em comparação com a daquele período.

Pela primeira vez os chamados circuit breakers foram utilizados. Isto é: as operações da bolsa são suspensas quando o índice desce um determinado número de pontos.

Com os argumentos a favor de bulls e de bears a acumularem-se, instabilidade poderá caracterizar os meses mais próximos e igualmente não será de excluir a possibilidade de que 1998 irá marcar o início dum bear market.

No Canadá, o governo federal prometeu balançar o orçamento do país. Mas um orçamento equilibrado não significa o fim dos problemas. A dívida pública anda à volta de 593 biliões de dólares. Se se adicionar débitos contraídos pelos governos provinciais e municipais o total da dívida anda à aproxima-se dos 800 biliões de dólares.

Previsões de departamentos económicos de bancos canadianos são unânimes em prever uma melhoria substancial nas condições económicas do país e um crescimento do produto nacional que será o mais elevado de todos os países industrializados. Tal optimismo é encarado com muita reserva por parte da população. É verdade que exportações continuam a aumentar num bom ritmo, mas tal deve-se também ao facto da fraqueza do dólar canadiano em relação à moeda americana e não unicamente a um aumento de produtividade. Alguns economistas defendem a manutenção dum dólar fraco como estimulo para exportações; isto parece-nos, no entanto, ser uma maneira errada de tratar o doente... O Banco do Canadá continua vigorosamente a comprar dólares canadianos. Apesar desta actividade de suporte, a moeda não dá sinais de recuperação.

COMENTÁRIO

Quer seja Verão, Inverno, Outono ou Primavera, Canadá oferece uma abundância de actividades financeiras. As mais comuns são sessões de informação na forma de palestras, conferencias, colóquios, etc.

Oradores profissionais contratados por fundos, firmas de investimento ou planeamento financeiro explicam os segredos da profissão a assistências sempre ávidas por aprender os meandros do mundo das finanças. Como investir na bolsa? Como preparar uma reforma sem dificuldades financeiras? Como pagar menos impostos? Se a admissão é gratuita, ela é feita na mira de atrair clientela para as firmas patrocinadores destes programas informativos.

Os patrocinadores das sessões empregam habitualmente estrelas locais. Por isso quando o orador vem de fora do país, se bem que não de muito longe, dos Estados Unidos, e o seu nome é Peter Lynch, o acontecimento suscita um interesse maior do que o habitual em acontecimentos desta natureza.

Peter Lynch, uma das figuras mais conhecidas no mundo de investimentos na América do Norte, esteve em Toronto no passado dia 29 de Outubro. Ele falou a uma audiência seleccionada pela firma de investimentos Midland Walwyn. Investidores e perspective investidores escutaram atentamente o conhecido financeiro.

Desde Maio de 1977 até Maio de 1990 ele dirigiu o Fidelity Magellan Fund, um fundo de acções. Um investimento feito no Magellan Fund em Maio de 1977 valeria 28 vezes mais ao fim de 13 anos. Por isso Magellan Fund foi classificando como o "melhor fundo do mundo". Durante o período a capitalização do fundo subiu de 20 milhões para 14 biliões de dólares e em Maio de 1977 um milhão de investidores tinham acções do fundo.

Peter Lynch deixou a sua posição à frente dos destinos do fundo mas continua ligado a Fidelity - com a presente posição de vice-presidente de Fidelity Management & Research Company.

A palestra desenvolveu-se à volta de investimento em acções. Interessante e elucidativa ela discutiu e desfez mitos tais como: se o preço das acções subiu tanto já não pode subir mais, ou se as acções estão tão baixas já não podem descer mais, além doutras delusões. Mr. Lynch igualmente relatou algumas episódios e situações com que se deparou quando foi o administrador do Magellan Fund.

Fidelity Investments estabeleceu uma subsidiária no Canada em 1987 mas só recentemente se tornou mais visível ao público canadiano quanto "roubou" Veronika Hirsh, a portfolio manager doutra companhia para dirigir o novo fundo canadiano Fidelity True North Fund. A presença da nova "estrela" foi feita com grande fanfarra e publicidade através de anúncios na televisão. Infelizmente durante esse período certas transacções financeiras feitas por Ms. Hirsh para a sua conta pessoal foram consideradas como uma violação do código da profissão e consideradas impróprias. A sua presença em Fidelity foi sol de pouca dura.

Pode-se afirmar que a vinda de Peter Lynch ao Canadá patrocinada por Midland Walwyn foi feita não só para alargar a visibilidade da companhia aos olhos do público mas também para contra-atacar a má publicidade que resultou da curta presença de Veronika Hirsh na companhia.

A palestra foi feita num recinto de exposições industriais, um edifício contruido recentemente na Canadian National Exhibition, local totalmente inapropriado para oratória. A acústica terrível, com um eco irritante fez com que o fim e o princípio das palavras se ouvissem simultaneamente. No entanto, aqueles que "resistiram" e ficaram até final da sessão pareceram satisfeitos. Se bem que para o frequentador assíduo destes acontecimentos se torne cada vez mais difícil encontrar ideias novas ou processos originais de progredir nesta área, oradores como Peter Lynch trazem sempre um ou outro pormenor que obrigam a reflectir e eventualmente beneficiam aqueles que participam nestes acontecimentos.

ACÇÕES DE PRIMEIRA QUALIDADE

MACKENZIE FINANCIAL CORPORATION

Todos estamos conscientes de como estes últimos anos têm sido lucrativos para investidores de fundos de investimento. Mas se em vez de investirem nos fundos investissem nas companhias que os oferecem eles estariam ainda melhor.

Devido ao entusiasmo com que investidores têm subscrito esta forma de investimento, as companhias de fundos de investimento têm sido as grandes beneficiárias. Companhias tais como Trimark, Mackenzie, Altamira e outras têm visto os seus lucros subir rapidamente nestes últimos anos. Bancos têm igualmente beneficiado do entusiasmo dos pequenos investidores por este produto financeiro.

Entre as companhias de fundos de investimento duas merecem especial consideração: Trimark e Mackenzie. Escolhemos a última para uma breve apresentação aos nossos leitores.

Mackenzie Financial Corporation foi criada em 1967 e tornou-se uma companhia pública em 1973. Começando com um simples fundo em 1967, Industrial Growth Fund, tem hoje quarenta, distribuídos por três famílias de fundos: Industrial Group of Funds, Universal Funds e Ivy Funds e é a quarta maior companhia desta indústria no Canadá. Tem igualmente uma companhia subsidiaria nos Estados Unidos que oferece 21 fundos para distribuição exclusivamente naquele país; possui uma companhia trust e administra investimentos para uma clientela variada.

A companhia tem aproximadamente 19% das acções de Midland Walwyn Inc. Esta companhia holding controla Midland Walwyn Capital Inc., firma que oferece serviços completos aos seus clientes e é a única firma importante de investimentos que resta no país após a razia que os bancos fizeram na indústria há uns anos atrás quando a "devastaram", comprando e absorvendo as maiores firmas de investimento do país.

Resultados financeiros nestes últimos anos têm sido excelentes. No período de 1993 a 1997 o lucro líquido aumentou de 18 para 66 milhões; lucro líquido por acção de 31 cêntimos para $1.09. Dividendos têm aumentado anualmente, de 10 cêntimos por acção em 1993 para 15 cêntimos em 1997. Neste período a administração de investimentos aumentou de 8,8 biliões de dólares para 22 biliões.

Produtividade continua a aumentar. Em 1997 Mackenzie Financial Corporation tinha uma despesa de 81 cêntimos por cada 1 dólar de receita, em 1997 para a mesma receita a despesa foi reduzida para 74 cêntimos. A companhia continua determinada a reduzir custos operacionais sem detrimento da qualidade de serviço.

Último preço das acções: $39.80 (31 de Outubro de 1997). Mínimos e máximos nos anos anteriores: $7 1/4 - $12 3/8 (1994); $7 5/8 - $13 1/4 (1995); $11.75 - $19.45 (1996).

Para aqueles que procuram diversificação na bolsa canadiana esta companhia é atraente e merece ser considerada como adição a uma pasta de investimentos. Lucros prometem continuar se bem que num ritmo mais lento do que nestes últimos anos.

(Preparado: Novembro de 1997).


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