BOLETIM FINANCEIRO


ANO 3 ........................................ No. 11

JANEIRO - FEVEREIRO 1998................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Com o presente número o BOLETIM FINANCEIRO entra no seu terceiro ano de publicação. Durante o passado ano o índice da bolsa de Toronto (TSE) continuou a sua marcha ascendente. O índice da bolsa de Nova Iorque (Dow Jones) apresentou ainda melhores resultados. E estes avanços das bolsas norte-americanas têm sido duplicados noutras partes do mundo. As excepçães ocorreram na Ásia, onde houve grandes descidos.

O BOLETIM tem apresentado companhias canadianas conhecidas como "blue chips", isto é companhias com capitalização elevada e uma tradição de estabilidade, lucros constantes e crescimento contínuo. Estas são companhias cuja estabilidade tranquiliza o investidor, o máximo de tranquilidade que se pode obter num mundo bastante intranquilo...

BCE INC., Bank of Montreal, Imperial Oil, TransCanada Pipelines, Imasco, WestCoast Energy, Canadian General Investments, Ltd e Mackenzie Financial Corporation são companhias antigas, bem conhecidas do público e proeminentes no mercado, MDS INC., é uma empresa mais nova e que se dedica à comercialização de serviços de saúde. Esta merece a atenção de investidores e de fazer parte duma carteira de investimentos. Os gestores de MDS INC. estão a demonstrar grande capacidade na administração da companhia que se está a expandir em novos mercados geográficos numa actividade de grande futuro.

No presente número examinaremos preferred shares. Pode-se dizer que este tipo de investimento se situa entre acções e obrigações, pois que tem características de ambas. Mas variantes existem. Por isso torna-se necessário distinguir entre o que elas oferecem ou não oferecem.

RESUMO DE 1997

Mais um ano de excitamento e entusiasmo para os investidores da bolsa de valores de Toronto. Nos últimos dias do ano o chamado "melting down" dos mercados asiáticos provocou turbulência nos mercados norte-americanos, mas tal não foi suficiente para alterar o que na totalidade foi um ano positivo para o mercado.

Resultados excederam as expectativas dos optimistas. A bolsa continuou a sua subida, se bem com alguns sobressaltos. No Outono, a 27 de Outubro, o índice da bolsa de Toronto desceu 434 pontos, ou seja 6,2% do seu valor. (Dow Jones perdeu 554 pontos ou 7,2%) no que ficou conhecido como "Grey Monday", uma reconstituição aproximada da queda de Outubro de 1987, o famoso "Black Monday". Nos dias seguintes houve corridas aos mercados e a partir daí eles têm andado num sobe e desce... sem, no entanto, atingirem os níveis mais altos do ano, alcançados no verão. Finalmente, a 31 de Dezembro o índice da bolsa de Toronto registava um aumento anual de 13%.

O valor das acções transaccionadas na bolsa foi de $423 biliões de dólares - um aumento de 40% em relação a 1996. O número total de acções transaccionadas durante o ano ainda não foi tornado público mas ultrapassou, de longe, o recorde anterior de 22,3 biliões estabelecido em 1996.

Serviços financeiros sobressairam pelos seus ganhos. O Banco de Montreal aumentou 50% (levando em consideração o reinvestimento de dividendos). Mas isso não se comparou com o aumento do mais pequeno dos "seis grandes", o National Bank, que aumentou 77%, (também considerando reinvestimento de dividendos).

Condutas para o transporte de gás foi outro sector em evidencia. Acções de TransCanada Pipelines e WestCoast Energy, duas das companhias apresentadas no BOLETIM, tiveram ganhos apreciáveis (33% e 44%, respectivamente).

Outras companhias apresentadas pelo BOLETIM tiveram actuações excelentes: Imperial Oil, BCE INC., MDS INC., Imasco, Canadian General Investiments LTD e Mackenzie Financial Corporation produziram resultados que satisfizeram os respectivos accionistas.

Comparando estes resultados com os 4 ou 5% de rendimento anual que se pode obter com depósitos a prazo em bancos e outras instituições financeiras, investidores na Bolsa de Toronto (e noutras) têm amplas razões para festejar os seus lucros.

Resta dizer, em abono da verdade, que ao investir conservativamente o difícil seria perder dinheiro... O mercados têm estado favoráveis para companhias de capitalização forte, os chamados "blue chips". Nestes últimos tempos tanto peritos como leigos têm visto o valor das suas pastas de investimento subir. Tal situação pode criar falsas expectativas em investidores inexperientes que concluem que investir na bolsa produz "rendimento garantido" e que o mercado só se move num sentido - o ascendente.

E no entanto, neste panorama "cor de rosa" na bolsa de Toronto, também há decepções, e não poucas. Investidores em minas e florestas viram o valor dos seus investimentos diminuírem. O ano de 1997 foi um ano terrível para matérias primas e metais preciosos. Os que apostaram em companhias produtoras de polpa de papel (florestas), minerais, ouro e outros metais assistiram impotentes a uma desvalorização progressiva dos seus investimentos. Dos catorze sub-índices do TSE 300, ouro e metais preciosos foi o pior sector para estar investido. Ao fim do ano ele registou uma descida de 44%.

A memória do escândalo da Bre-X Minerals Ltd. levantou uma onda de suspeita sobre companhias pequenas envolvidas em detectar óleo e minerais, as referidas como "juniores". Isso aliado a uma procura reduzida afectou especialmente um mercado canadiano onde este tipo de companhias são geralmente negociadas (Vancouver), onde o índice desceu 48%.

Tradicionalmente ouro tem oferecido "segurança" em tempos de inflação elevada e instabilidade política. Mas com inflação reduzida e o desenvolvimento duma colaboração política e económica entre nações ele está a ver a seu prestígio reduzido. A declarada intenção do governo suíço de reduzir as suas reservas, consequência de coacções externas, foi outro factor contribuinte. Ouro acabou o ano a $289.20 US a onça, uma descida de $79.10 desde o principio de 1997.

Problemas com o ouro afectaram os grandes produtores. Barrick, que tem como directores um antigo primeiro ministro do Canadá e um antigo presidente dos Estados Unidos, perdeu 32% do seu valor durante o ano.

No entanto estes problemas não ofuscaram a boa actuação, na generalidade, do mercado de Toronto. Para a maior parte dos investidores, 1997 foi outro bom ano para estar investido na mais importante bolsa do Canadá.

Finalmente um comentário sobre a moeda canadiana. O dólar não chegou aos 80 cêntimos americanos como alguns especialistas financeiros previam no principio do ano; pelo contrário, continuou fraco em relação à moeda do país vizinho e acabou 1997 a 69,91 cêntimos U.S. (72,96 em 31 de Dezembro de 1996).

PROMESSAS PARA 1998

Há um ano atrás os entendidos prognosticavam que os índice do TSE ( e o DOW JONES ) não poderia manter a mesma cadência, havendo até quem garantisse o início dum "bear market". A maioria inclinava-se para uma subida modesta. Este ano os prognósticos mantêm-se similares, parecendo que os mesmos decidiram reler as suas notas de há um ano atrás. Optimismo moderado prevalece nas previsões dum avanço modesto.

Alguns analistas convencidos que sectores em desfavor, matérias primas e florestas, ao encontrarem-se depreciados estavam destinados e uma recuperação. Isto e, até à crise na Ásia. Agora os sectores já não são recomendados. Desvalorização das moedas asiáticas reduzirão importações destes produtos no Extremo Oriente e irão afectar os resultados financeiros de companhias exportadoras canadianas. Países como a Coreia do Sul tentarão exportar o máximo e importar o mínimo. Tal como o ano passado, a escolha de sectores e dentro de sectores a escolha de companhias será o factor determinante entre valorização ou desvalorização duma pasta de investimentos.

Quanto ao dólar canadiano existe grande incerteza acerca da sua direcção. A moeda tem estado a baixar. Não interessa que o dólar esteja a subir em relação ao escudo ou ao marco alemão, o ponto de comparação é com o dólar americano. Se a queda continuar, o Banco do Canadá, que tem estado a comprar dólares canadianos, terá que se decidir por aumentar a taxa bancária.

Quanto às previsões sobre a direcção do dólar, analistas têm estado reservados. Os prognósticos têm falhado tantas vezes que eles não se pronunciam com aquela convicção a que nos têm habituado.

Para os recém-chegados, ou aqueles que não têm experiência nestas actividades, alguns factores a lembrar. Primeiro, o "bull market" começou em 1982 e não irá continuar indefinidamente. Segundo, problemas na Ásia podem contagiar os restantes mercados. Finalmente, selecção é mais importante do que nunca. O que interessa é investir em companhias bem dirigidas, com estabilidade, lucros que aumentem ano após ano e com dividendos adequados. Mesmo que o mercado desça, o valor de boas companhias, cedo ou tarde, será reconhecido. Companhias com ligações aos mercados asiáticos podem ser afectadas negativamente nos tempos mais próximos: metais, florestas e outras matérias primas têm tido um mau momento e não parece que a situação irá mudar enquanto continuar o alvoroço na Ásia.

Grande volatilidade no mercado é possível. Investidores nervosos tem duas alternativas ou mantêm um tubo de comprimidos Tylanol na mesa de cabeceira ou abandonam o mercado. O presente momento não é para aqueles que estremecem ao som do primeiro trovão.

ACÇÕES PRIVILEGIADAS

Preocupados com uma possível queda da bolsa ? Necessitando um rendimento certo ? Preferred shares, ou acções privilegiadas, podem constituir a solução do problema.

Este tipo de acções podem-se classificar como situando-se entre acções comuns e obrigações. Podem ter diferentes características e, apesar de serem transaccionadas na bolsa, lado a lado com acções comuns, acções privilegiadas parecem não merecer a atenção de pequenos investidores.

Duma maneira geral preferred dão dividendos mais elevados do que common shares e têm menos volatilidade. Em caso de liquidação da companhia, pagamentos devidos a este tipo de acções (capital e dividendo) têm prioridade sobre pagamentos aos accionistas de acções comuns, mas após todas as outras formas de débito (obrigações incluídas) terem sido liquidadas.

Devido a uma variedade de característivas torna-se necessário distingui-las e conhecer os termos que definem os seus atributos.

Para uma melhor compreensão não evitaremos o uso de definições em inglês. Por vezes não há tradução em língua portuguesa, noutras não há investimento financeiro equivalente.

STRAIGHT PREFERRED : - Esta é a forma básica da acção privilegiada. Acções têm um valor nominal ("par value"), e pagam dividendo fixo. Se os juros baixam o seu custo tem tendência a subir. Igualmente se os juros sobem ela tem tendência a descer (tal como obrigações).

CONVERTIBLE PREFERRED: - Podem ser convertidas noutras formas de acções, normalmente em acções comuns, a um preço fixo e durante um determinado período. Para o investidor isto é uma vantagem. Se as acções comuns subirem de preço ele tem a possibilidade de substituir as suas acções privilegiadas por aquelas e ter, instantaneamente, um ganho de capital.

REDEEMABLE: - Este aditamento constitui uma vantagem para a companhia emissora, não para o investidor. Se condições foram favoráveis a companhia pode readquirir as acções (após pagar o valor nominal e os respectivos dividendos) quer o investidor quer queira quer não. Exemplo: juros descem e a companhia pode emitir uma nova série de acções com um dividendo menor.

RETRACTABLE: - Se bem que a maioria das acções privilegiadas serão eventualmente resgatadas pela companhia emissora isso nem sempre é garantido. O possuidor de acções "retractable" pode forçar a companhia a redimir as acções dentro dum determinado prazo a um preço especifico.

FLOATING RATE PREFERRED: - Dividendo distribuídos por estas acções estão relacionados com o "prime rate". Se os juros subirem, dividendos aumentarão uma percentagem preestabelecida, se descerem eles serão reduzidos na mesma proporção.

PARTICIPATING PREFERRED: - Estas acções privilegiadas têm direito a participar nos ganhos da firma após ela distribuir o dividendo prescrito aos accionistas comuns.

CUMULATIVE: - Esta cláusula constitui uma garantia de que a companhia não pagará dividendos aos possuidores de acções comuns antes de pagar os dividendos devidos aos de acções privilegiadas.

Um factor importante a considerar ao investir em acções priviligiadas é qualidade em termos de crédito. Canadian Bond Rating Service tem uma avaliação. P1, na sua classificação, significa a melhor segurança

Residentes no Canadá beneficiam dum crédito sobre dividendos recebidos de companhias canadianas. Isto resulta numa redução de impostos. Devido as características destes investimentos eles só devem ser considerado por aqueles que os compreendam bem. Os menos familiarizados, mas interessados em saber mais sobre eles, deverão consultar profissionais especializados.

(Preparado: Janeiro de 1998).


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