ANO 19 .............................................. No. 111

SETEMBRO - OUTUBRO 2014.............Orientador: Álvaro Trigo


ABERTURA

Após umas férias passadas em Portugal, de novo em terras canadianas voltámos à rotina habitual. Durante a nossa permanência no país, assistimos ao caso Banco Espírito Santo (BES), até à pouco, o maior banco privado português.

No Canadá a notícia mais importante foi a tentativa de casamento de Tim Hortons com Burger King.

De ambos os casos, comentaremos abaixo.

COMENTÁRIO

O caso do Banco Espírito Santo pode resumir-se em poucas palavras.

O Grupo Espírito Santo International encontrou-se em dificuldades financeiras. Enquanto o problema não era com o Banco Espírito Santo per se, a inter-relação entre o banco e as firmas do grupo financeiro afetaram o seu ativo. Uma das empresas do Grupo, Rioforte Investments SA, baseada em Luxemburgo, ficou impossibilitada de satisfazer as suas responsabilidades financeiras e pediu ao tribunal proteção contra credores. As dificuldades do Grupo acabaram por arrastar o Banco.

Perante as perspetivas do maior banco privado do país entrar em falência, as autoridades portuguesas reguladores de finanças, encontraram, então, uma maneira engenhosa para minimizar o problema: a criação de dois novos bancos. Para um deles, o Banco Novo, transferiram os assets bons; para o outro, os maus. Clientes do BES foram transferidos para o Novo Banco (bom), mantendo-se tudo igual no que se refere a depósitos e empréstimos. Esta solução protegeu depositantes e outros clientes particulares. Assets tóxicos do BES foram transferidos para o banco-mau, que passou a ser gerido por administradores designados pelo Banco de Portugal e farão parte do total insolvente, quando do processamento da liquidação judicial.

Enquanto depositantes não são afetados pela decisão, apenas passaram a ser clientes do banco agora criado, acionistas do BES, que se encontram agora no Banco mau, viram os seus investimentos reduzidos a zero. Quando o BES saiu da bolsa, grandes acionistas, tais como o GES e o Crédit Agricole (este com 15% do capital), e pequenos, detentores de divida subordinada, deixaram de ter qualquer intervenção no dossier, pois os seus investimentos não têm valor.

A solução encontrada foi uma tentativa para manter a estabilidade do sistema financeiro português.

Entre as empresas afetadas pela situação encontra-se Portugal Telecom (PT), pois que financiou 897 milhões de euros a RioForte. Quando chegou a data do vencimento do papel comercial, essas verbas nào foram devolvidas à empresa de comunicações.

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Burger King vai comprar Tim Hortons. Se acionistas e governos aprovarem a transação, a nova empresa será a terceira maior companhia mundial de restaurantes, após McDonald's Corp. e Yum! Brands.

Num acordo bastante favorável para acionistas da empresa canadiana, eles têm a opção de receber ações da nova companhia ou cash. Ações de Tim Hortons e Burger King tiveram um aumento substancial, mais de 19%, após divulgação da notícia. No fim da sessão, as de Tim Hortons eram transacionadas a $82.03 e as de Burger King a US$32.40.

Ao transferir a sua sede para o Canadá, Burger King beneficia com a redução no pagamento de impostos corporativos, no que é conhecido como tax inversion, quando companhias transferem as suas sedes para países com impostos baixos.

O maior acionista de Burger King é uma empresa brasileira, 3G Capital, que continuará a ser a maior acionista da nova companhia.

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A bolsa Canadiana continua com sinais de volatilidade. Abrandamento económico na China, suspeitas de que juros começarão a aumentar em meados do próximo ano, preços baixos para matérias-primas e o facto de que a bolsa tem estado em subida desde meados de 2009, uma combinação que sugere que o mercado estará prestes a ter uma correção.

Em tempos de incerteza, para os que queiram continuar investidos na bolsa, devem concentrar-se em blue chips. Companhias de pequena capitalização são geralmente mais arriscadas que as de larga capitalização.

COMPANHIAS NAS NOTÍCIAS

ALIMENTATION COUCHE-TARD INC. é uma companhia que tem recebido pareceres bastantes favoráveis de analistas financeiros com recomendações de buy e strong buy. A companhia, com sede no Quebeque, teve a sua primeira Assembleia Geral em Toronto.

Não seguimos a companhia, sabendo apenas o que jornais da especialidade escrevem sobre ela, que tem alargado a sua atividade no Canadá e expandido nos Estados Unidos. Fomos surpreendidos ao constatar que Alimentation Couche-Tard está igualmente envolvida na Europa e na Ásia.

Acionistas locais tiveram oportunidade de assistir à Assembleia Geral mas ficaram certamente dececionados porque ao contrário do habitual, em companhias públicas, pelo menos as mais importantes, não houve receção após a conclusão da reunião. É sabido que essas receções são aliciantes para investidores. Quando companhias deixam de as ter, nos anos seguintes há uma redução de acionistas presentes.

Porque Alimentation Couche-Tard despertou o nosso interesse, falaremos dela mais em detalhe na próxima edição do BOLETIM.

(27 de setembro de 2014)

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