BOLETIM FINANCEIRO


ANO 3 ........................................ No. 12

MARÇO - ABRIL 1998................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Neste número apresentamos uma companhia dum ramo de actividade totalmente diferente daqueles que temos apresentado até agora. A companhia é Laidlaw, Inc e está envolvida na remoção de lixo e autocarros de transporte de crianças para as escolas. Não tão conservativa como as instituições bancárias, serviços de comunicações ou de energia, esta companhia oferece boas perspectivas e merece ser estudada.

Bancos continuam a ser notícia nas primeiras páginas dos jornais e é sobre eles que a maior parte do nosso comentário se concentra.

Traduções de inglês para português nem sempre se revelam fáceis e em muitos casos não podem ser feitas pois que não existem equivalentes em português. Em nenhuma área é isso mais evidente do que na linguagem dos computadores. Perante o desespero dos defensores das diferentes línguas os termos ingleses prevalecem. Nem mesmo os franceses, grandes defensores da sua língua e tradições, resistem a está maré invasora. O que acontece com computadores acontece igualmente com a linguagem da bolsa e de investimentos. Além destas dificuldades de tradução outras particularidades das línguas podem provocar confusões. Por exemplo: o que na América do Norte é considerado um bilião, noutros países, tal como Portugal, é considerado como mil milhões. Até ao presente temos seguido o sistema canadiano, mas para futuro usaremos a forma portuguesa entre parêntesis. Igualmente em separações numéricas quando se usa a virgula na América do Norte usa-se o ponto em Portugal, e vice-versa. Pormenores aparentemente insignificantes mas susceptíveis de causar confusões. Tentaremos sempre que possível evitar tais ambiguidades.

COMENTÁRIO

Os bancos canadianos continuam a proporcionar agitação nos meios financeiros do país. No passado dia 23 de Janeiro o maior banco do país, o Royal Bank of Canada, e o terceiro, o Bank of Montreal, num comunicado conjunto anunciaram ter entrado em acordo para se unirem e constituírem uma instituição bancária única. Firmas de investimento, investidores e o público em geral foram apanhados de surpresa.

No dia anterior, numa reunião de accionistas do segundo maior banco canadiano, o Canadian Imperial Bank of Commerce, a administração desse banco teve um dia mais difícil do que o usual quando dois accionistas, os chamados "activistas", continuaram o seu ataque aos bancos devido aos ordenados "chorudos" dos seus administradores e a outras decisões administrativas consideradas como prejudiciais para os pequenos investidores.

O próprio ministro das finanças, Paul Martin, foi informado pelo telefone no próprio dia em que os jornais publicaram a notícia da junção. Ele pareceu tão surpreendido como o resto do população e, ao mesmo tempo, irritado por não ter sido consultado sobre o acordo. Inicialmente a sua reacção foi de que a a última palavra não será dos bancos, mas estará dependente dos resultados finais duma comissão criada pelo governo em 1996 para estudar o futuro do sistema bancário canadiano. A comissão deverá concluir as suas consultas até ao fim do ano.

Se se consumir esta "all-share merger", a fusão constituirá a maior na história das corporações canadianas. Em termos de capitalização o novo banco tornar-se-ia o 10º maior na América do Norte e o 22º globalmente. O maior é o Lloyds- Grupo TSB, resultado duma fusão entre os dois bancos e o segundo maior é o Banco de Tóquio-Mitsubishi, que resultou igualmente doutra fusão.

O "acordo" terá que ser aprovado pelos accionistas dos dois bancos e pelo governo do Canada. Do que os accionistas pensam sobre ele não existem dúvidas. Com o aumento extraordinário no valor das acções eles são os grandes beneficiários do acordo; quanto ao ministro das finanças ele parece não estar muito entusiasmado com a decisão, mas o que um ministro diz em publico e o que pensa vai uma grande distância. Paul Martin afirma aguardar as conclusões da comissão e que é prematuro ter como certa a fusão.

A tendência mundial de consolidação em bancos e de outros serviços financeiros continua. Nos Estados Unidos, Itália em Portugal e outros países a concentração dos serviços financeiros está na ordem do dia. O argumento dos bancos canadianos é o mesmo dos outros bancos: para competirem globalmente têm que se tornar maiores e isso só se consegue pela união entre instituições.

No caso canadiano o ministro das finanças poderá sempre estabelecer cláusulas e condições que tornem a fusão demasiamente dispendiosas e anulem os benefícios esperados e remover alguns impedimentos que ainda restam à entrada de bancos estrangeiros no mercado canadiano, mas o sucesso do acordo parece garantido.

Após o comunicação o valor das acções dos dois bancos subiu vertiginosamente nas bolsas canadianas. As do Royal Bank subiram $6.65 chegando aos $78.40, com um milhão de acções transaccionadas. As do Bank of Montreal subiram $15.80 chegando a $73.03. O volume transaccionado foi de 1.3 milhões de acções. Ao fim do dia, e após a frieza manifestada pelo ministro das finanças, os preços retrocederam um pouco mas mesmo assim o Bank of Montreal registou uma subida de $7, fechando a $64.25, e o Royal Bank avançou $2.90, fechando a $74.75.

Desde então e até ao fim de Fevereiro as acções dos dois bancos têm continuado a subir.

Outro acontecimento de importância para a economia canadiana foi a apresentação do orçamento do estado pelo ministro das finanças. Este não revelou surpresas. Após trinta anos de défices o orçamento foi o primeiro a registar um balanço positivo. Mas, a dívida publica continua perigosamente alta e uma mudança no ciclo económico poderá fazer descarrilar a economia.

Com uma dívida nacional a 93% do produto nacional, o risco de uma quebra não deve ser ignorado. Na euforia de começar a gastar o "dividendo" muitos esquecem-se de que a divida pública é de $583 biliões de dólares (583 mil milhões de dólares). Isto representa 68% do Gross Domestic Product e 30% dos impostos cobrados pelo governo federal vão para o pagamento da dívida e juros da mesma.

ACÇÕES A CONSIDERAR

LAIDLAW INC.

Laidlaw Inc. é uma companhia canadiana cujas actividades têm sido remoção de lixo e transporte escolares duas actividades para as quais parece não haver recessão económica. Não só há sempre lixo para ser removido e crianças para serem transportadas para a escola ? Desde a sua criação a companhia tem sido continuamente recomendada por analistas financeiros e feito parte de fundos de investimentos.

Debaixo da direcção de Michael DeGroote, Laidlaw Inc tornou-se uma das mais importantes companhias canadianas. Então inesperadamente DeGroote vendeu o seu investimento na companhia a Canadian Pacific e partiu para os Estados Unidos onde começou a dirigir outra companhia na mesma industria (Waste Management).

Após a sua partida a companhia transformou-se radicalmente. O tratamento de lixo desapareceu dos livros, Agora Laidlaw Inc quer ser conhecida como uma companhia de transportes escolares e públicos e de serviços de ambulância e emergência hospitalar.

Operações de tratamento de lixo foram vendidas a Allied Waste Industries por mais de $1 bilião e meio (mil e seiscentos milhões de dólares). Laidlaw Environmental Services Inc. tornou-se uma companhia independente da qual Laidlaw Inc possui 67% das acções. Aquela companhia, tem a sede na Carolina do Sul, nos Estados Unidos e as suas acções são transaccionadas no New York Stock Exchange.

Laidlaw Inc adquiriu American Medical Response, Inc, aumentando para o dobro a sua actividade em serviços de ambulância nos Estados Unidos; comprou Vancom Inc, a maior companhia privada americana de autocarros escolares, aumentando a sua frota de autocarros em 19% naquele país e adquiriu EmCare Holdings Inc e Spectrum Emergency Care Inc., firmas americanas especializadas em oferecer serviços médicos e de emergência em hospitais.

Outra aquisição foi a da companhia de viagens (autocarros) Greyhound, entrando assim na área de transporte de passageiros e turismo.

Laidlaw Inc. tem agora a maior parte da sua actividade nos Estados Unidos, donde vêm mais de 90% das receitas e ao reduzir a sua posição na remoção de lixo, aumentou a presença em transportes e serviços de saúde.

Financeiramente a companhia apresenta resultados favoráveis. Receitas têm aumentado ano após ano. Em 1996 as receitas foram $2,296 milhões, em 1997 de $3,030 milhões. Lucro por acção em 1997: 63 cêntimos (40 cêntimos em 1996). O dividendo é pequeno dado que a companhia continua a usar receitas para o alargamento de operações. Apenas 20 cêntimos anuais.

Acções da companhia são negociadas no New York Stock Exchange, Toronto Stock Exchange e Montreal Stock Exchange.

Laidlaw Inc, através da agora independente Laidlaw Environmental Services Inc continua envolvido numa "batalha" com outra empresa canadiana, Philip Services Corp., para a aquisição da firma americana Safety-Kleen Corp.

Laidlaw Inc. oferece boas perspectivas de crescimento em áreas consideradas como de futuro. Continua a apostar no crescimento. O desafio que tem à sua frente é o da rapidez de adaptação e integração dos novos serviços na cultura da empresa.

A companhia tem duas classes de acções. Elas são negociadas na bolsa de Toronto a preços variando entre $22.90 e $17.70.

(Preparado: Março de 1998).


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