BOLETIM FINANCEIRO


ANO 3 ........................................ No. 14

JULHO - AGOSTO 1998................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Os mercados financeiros canadianos continuam relativamente calmos. Não há notícias excitantes. Investidores e profissionais da industria podem continuar a gozar as férias de verão.

Um pensamento sempre no espírito de todos, quer seja verão ou inverno, é o da direcção dos mercados. Para uns ele está elevado demais. Estes profetizam uma correcção, ou até o começo dum "bear market"; para outros, os eternos optimistas, o mercado só conhece uma trajectória - a ascendente.

Após as correcções de há uns tempos atrás a tranquilidade voltou às bolsas canadianas. Todavia, com os índices dos mercados elevados, as probabilidades de turbulência aumentam.

Para o investidor de recursos financeiros limitados o aviso é sempre o mesmo: evitar riscos. Eles deverão investir em companhias conservativas, bem administradas, com situação financeira sólida, lucros a aumentar sistematicamente, superiores à competição nas respectivas industrias e tanto quanto possível imunes às baixas da economia.

Pequenos investidores devem ter um plano de acção, levando em consideração as suas circunstancias pessoais e não tentar correr a maratona se só têm fôlego para fazer os cem metros... Torna-se essencial reconhecer as possibilidades e limitações de cada um e estabelecer um plano adequado a essas possibilidades. Com um plano traçado a etapa seguinte é segui-lo sem hesitações ou mudanças de direcção.

COMENTÁRIO

Enquanto a Europa ocidental se prepara para a introdução do Euro, alguns canadianos começam a pensar de que, sem sequer se aperceberem, têm estado a ser introduzidos a uma nova moeda - o peso canadiano.

A "fraqueza" da moeda canadiana em relação à americana continua e não mostra sinais de retroceder. O declínio é sistemático e persistente . De há um ano para cá o dólar canadiano perdeu 6% do seu valor em relação ao americano, e em meados de Junho chegou a 67 cêntimos americanos.

Devido à relação intima entre as duas economias o poder, ou fraqueza, da moeda canadiana, é comparado com o dos Estados Unidos, não à dos outros países.

Muitos já não se lembram mas em 1974 o dólar canadiano valia mais do que o americano (o câmbio chegou a $1.10 U.S. por $1.00 canadiano). A descida do dólar canadiano principiou nos meados dos anos 70 a daí para cá a moeda jamais recuperou.

Para os canadianos que passam férias nos Estados Unidos, o maior destino turístico fora do país, viagens ao sul da fronteira tornam-se mais caras. Para imigrantes portugueses, conscientes no aumento do custo de vida na Europa, uma visita ao velho continente obriga a ir um pouco mais ao fundo da carteira.

Muitas razões são apontadas para tal estado de coisas: crise económica na Ásia, baixa procura de matérias primas e débito público elevado, são as principais.

Há quem defenda a a desvalorização do dólar canadiano e proclame os benefícios que daí resultam, especialmente para os exportadores e para o turismo. Mas o aceitar este estado de coisas é o equivalente a reconhecer que existe uma falta de confiança na moeda canadiana e admitir a possibilidade de que, mais tarde ou mais cedo, o país poderá enfrentar problemas de readaptação aos mercados financeiros internacionais.

No campo oposto estão aqueles que reconhecem que a fraqueza da moeda é indício duma "doença" e como qualquer outra doença se não for tratada a tempo ela tornar-se-à mais grave.

Alguns economistas, jornalistas e analistas financeiros têm soado o alarme, mas tanto o governador do Banco do Canada, Gordon Thiessen, como o governo federal parecem satisfeitos com o actual estado de coisas.

O governador do banco tem insistido numa política de juros baixos, temendo o reaparecimento duma recessão. Mas com o dólar canadiano a baixar continuamente as opções são cada vez menores.

O problema com estas situações é que mais tarde ou mais cedo elas terão que ser confrontados e quanto mais tarde tal acontecer mais "dolorosa" a medicina será.

O Banco do Canadá poderia aumentar o "primer", agora mais baixo do que o dos Estados Unidos. Isto, no entanto, é considerado improvável. A outra decisão seria de atacar a raiz do problema. Esta seria mais eficiente mas de mais difícil execução: - melhorar a produtividade dos sectores económicos do país. Este é o problema principal e para o qual os entendidos apontam o dedo.

Terence Corcoran, cronista habitual do suplemento "Report on Business" (Globe and Mail de 20 de Junho de 1998), afirma que se a economia canadiana fosse exclusivamente de matérias primas, o país seria obrigado a adaptar-se à situação presente, mas ela tem diversos sectores que eventualmente serão afectados pelo "exchange rate". Tal como outros, ele indica, como exemplo, o facto da indústria de manufacturação canadiana ser menos eficiente do que a americana. Ao permitir a continuação desta situação e ao evitar confrontar a realidade, mais tarde ou mais cedo o nível de vida dos canadianos acabará eventualmente por sofrer.

Outras vozes soam igualmente o alarme.

Um argumentador frequente contra o actual estado de coisas é David Crane. Reconhecendo uma pressão descendente sobre o dólar devido aos baixos preços de matérias primas, David Crane afirma ser necessário elevar o "primer" ao mesmo nível do americano, para evitar a fugida de dólares canadianos para os Estados Unidos (The Toronto Star de 16 de Maio de 1998). Para ele a fraqueza contí:nua da moeda canadiana em relação à americana põe em questão as decisões dos legisladores políticos. Quando Crane soou o alarme em Maio ele admitiu que o dólar canadiano poderia até chegar aos 69 cêntimos. Um mês mais tarde o valor da moeda canadiana rondou os 67 cêntimos americanos, mais baixo ainda do que suas previsões pessimistas.

Sherry Cooper, economista de Nesbitt Burns Inc., diz que o banco não pode ficar indiferente a redução após redução do valor da moeda canadiana e que tal indiferença constituí um grande risco para o futuro.

Quando preparávamos este número do boletim um outro editorial do Globe and Mail (27 de Junho de 1998) ataca igualmente o problema, sugerindo que os legisladores canadianos não devem ficar impassíveis perante o declínio contínuo do dólar. O declínio progressivo da moeda em relação à americana reflecte o redução de produtividade no país em relação à dos Estados Unidos. Segundo o editorialista enquanto o custo de produção nos Estados Unidos aumentou 50% nas duas últimas décadas, ele passou para o dobro no Canadá. Segundo estatísticas, salários no Canadá têm aumentado mais rapidamente do que nos Estados Unidos enquanto ganhos de produção nos Estados Unidos são o dobro dos do Canadá.

A moeda canadiana, ao baixar em relação à americana, assinala o facto de que há mais utentes a desfazerem-se de dólares canadianos em favor de americanos. Tal constituí um voto de desconfiança na moeda do Canadá. O país está a tornar-se menos atractivo para investidores internacionais que preferem o dólar americano ao canadiano. E se a situação não for alterado isso trará implicações negativas para o futuro do país.

COMPANHIAS DE PRIMEIRA QUALIDADE

DUPONT CANADA INC

Encontrar boas companhias, cujas acções sejam negociadas a preços razoáveis, torna-se cada vez mais difícil. O custo de acções de companhias de telecomunicações, tais como BCE INC e NORTHERN TELECOM, estão elevados. Às dos Bancos não se lhes pode chegar...

No entanto, existem ainda algumas oportunidades para aqueles que procuram investimentos de boa qualidade e com capacidade de apreciação a longo prazo. E DuPont Canada é uma delas.

O nome desta companhia não aparece com frequência nos jornais da especialidade, mas ela tem compensado bem aqueles que nela investem. Os produtos que saem das linhas de produção de DuPont Canada são variados. Eles podem-se dividir em três categorias: fibras e produtos intermediários; materiais e produtos químicos de especialidade; e filmes e plásticos. Estes produtos entram na composição de materiais diversos e destinam-se a industrias variadas: embalagens, construção, petróleo, gás natural, transformações químicas, automóvel e láctea.

Se bem que tais produtos sejam irreconhecíveis do público eles entram na composição de materiais usados no dia a dia.

Até agora a companhia tem proporcionado bons lucros para os accionistas e tudo parece indicar que tal se manterá no futuro mais próximo.

Produtos com compostos manufacturados por DuPont.

Lucros líquidos tem aumentado anualmente. Em 1997 eles foram de 212 milhões de dólares. (Em 1996, 200 milhões e em 1995, 181 milhões).

A companhia distribui um dividendo trimestral de 16 cêntimos (64 cêntimos por ano). Devido ao aumento de preço das acções a percentagem de rendimento é apenas de 1.4%. No lado positivo dividendos continuam a aumentar anualmente e a companhia pagou um dividendo especial de $3 dólares no ano passado.

Vendas líquidas: $1,997 milhões ( $1,827 milhões em 1996).

Lucros por acção tem aumentado anualmente. Em 1997 eles foram de $2.29 por acção (1994, $1.68; 1995 $1.96; 1996 $2.16) e a companhia não tem débitos a longo termo.

E. I. du Pont de Nemours and Company, dos Estados Unidos, possui 77% das acções. O resto está distribuída por investidores canadianos e empregados da companhia.

A companhia esteve até recentemente em discussões com OCI Chemical Corporation para vender a sua divisão de hidrogénio peróxido (água oxigenada). No momento em que escrevíamos este boletim as negociações foram canceladas.

Quando o tratado de Comércio Livre da América do Norte entrou em vigor houve o receio de que a companhia-mãe terminasse as operações de DuPont Canada. Tais receios provaram ser infundados.

DuPont Canada aplica parte das suas receitas em pesquisa e aperfeiçoamentos dos seus produtos. Desde 1994 despesas com investigação e progresso tecnológico ultrapassaram os $160 milhões de dólares.

Esta é uma companhia adequada para a carteira de investimentos do pequeno investidor.

Preço recente das acções: $44.75 (preço ao fim do dia a 30 de Junho). (Durante 1994 foram negociadas entre $14.75 - $20.13; em 1995 $16.50 - $24.50; em 1996 23.88 - 34.95 e em 1997 $29.00 - $36.00).

As acções são negociadas em Toronto e Montreal com o símbolo DUP.A.

(Preparado: Julho de 1998).


Comentários ? Escreva


Copyright © 1998 Álvaro Trigo