BOLETIM FINANCEIRO


ANO 3 ........................................ No. 15

SETEMBRO - OUTUBRO 1998................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Enquanto preparávamos este número do BOLETIM as bolsas mundiais continuavam a atravessar um período de grande incerteza. As perturbações nos sistemas financeiros globais parecem não ter fim.

Primeiro, a queda das moedas asiáticas; depois, bancarrota da economia e do sistema financeiro na Rússia. Agora, uma crise financeira a adivinhar-se na América Latina. A direcção dos mercados financeiros e da economia é, mais do que nunca, imprevisível. Prudência está, pois, na ordem do dia.

Neste número não estudamos nenhuma companhia pública canadiana mas apresentamos a nova secção POSTO DE OBSERVAÇÃO onde noticiaremos ou comentaremos sobre companhias ou acontecimentos relativos aos mercados canadianos.

COMENTÁRIO

Para os investidores canadianos, Agosto foi um mês para esquecer. Causas de preocupação foram muitas e variadas, mas fragilidade da moeda, inconstância e baixas nas bolsas foram as mais noticiáveis. Apesar de ser verão muitos investidores sentiram "suores frios".

Enquanto a moeda persiste na sua queda em relação ao dólar americano, tendo-se essa queda acentuado nos últimos dois meses, o maior índice da bolsa canadiana, o TSE 300, mostra igualmente uma fraqueza análoga. No fim da última semana do mês, (6ª feira, 28), o dólar canadiano era negociado a 64,08 cêntimos americanos e o Toronto Stock Exchange 300 Composite Index fechou a 5.766 pontos.

No dia anterior (27 de Agosto) o índice do TSE descera 372.84 pontos, para fechar a 5799.46, uma quebra de 6%. Em Nova Iorque o Dow Jones Industrial Average perdeu 4.2% do seu valor ao descer 357.36 pontos. A palavra "recessão global" começou a ser pronunciada com mais frequência.

As descidas dramáticas na América do Norte reflectiram quedas na Ásia e Europa, que ocorreram em consequência de preocupações internacionais e do colapso do sistema financeiro russo. Com o problema da moeda e da bolsa nas mãos, o governador do Banco do Canada viu-se forçado a aumentar a taxas de juro (taxa oficial de juro aos bancos) de 5% para 6%, um aumento sensacional de 100 pontos. Inicialmente a estratégia não resultou pois que o dólar continuou a cair. Resta ver como a moeda se portará daqui para o futuro.

Se a bolsa parecia débil no ultimo fim de semana do mês veio então 2ª feira, 31, e o massacre foi completo: ambos, o Dow Jones Industrial Average e TSE 300 sofreram grandes percas; o Dow Jones 512.61 pontos, ou 6.3% do seu valor, e o TSE 300 235.61 pontos ou seja 4.1%.

Investidores sentem-se apreensivos. Enquanto a bolsa continua a seguir uma curva descendente peritos divergem sobre o que concluir da trajectória. Há os totalmente pessimistas que vêem grandes perigos no horizonte e aqueles que continuam totalmente confiantes na fortaleza da economia considerando a situação corrente como uma pausa numa longa curva ascendente.

Para alguns a causa do problema é só uma: baixa de preços nas matérias primas e o facto de 38% das exportações canadianas serem em matérias primas. Isto é a causa da queda do dólar canadiano e da má actuação das companhias envolvidas em matérias primas.

A posição do Canadá é mais vulnerável do que a dos Estados Unidos e, excepto para o Ministro Federal das Finanças, há uma certa concordância nisso.

Pequenos investidores continuam a ser a mola impulsionadora deste bull market. E por enquanto eles não dão sinais de querer abandonar o comboio. Os gestores de fundos de investimento têm-se mostrado eficientes ao propagandear as vantagens de se continuar investido no mercado.

Mas nem todos se queixam da volatilidade do mercado. Aqueles conhecidos como frequent traders têm estado bastante activos a comprar e vender. Prevendo a continuação de subidas e descidas bruscas eles põe ordens para vender quando o mercado está a subir e para comprar quando está a descer.

Muitos que fazem disto profissão agarram-se ao computador e seguem os preços das acções através da internet. Por vezes compram acções para as vender dez minutos mais tarde ou vice-versa. Uma diferença de apenas 20 cêntimos em milhares de acções representa um lucro apreciável. E tudo isto é feito através de computadores, sem saírem das suas secretárias.

Mesmo alguns investidores mais conservativos telefonam aos seus corretores e põem ordens que ficam nos registos até execução ou cancelamento e esperam que o mercado os favoreça. Se os preços das acções lhes são favoráveis as ordens são executadas, caso contrário não são.

Novos investidores, aqueles para quem esta newsletter essencialmente se destina não se devem entusiasmar com estas tácticas. Isto só deve ser tentado pelos que tenham experiência e estejam preparados para suportar as vicissitudes do mercado.

PORTFOLIO DEFENSIVO

Como investir na bolsa em tempos incertos como aqueles que estamos a viver ? O que fazer quando as direcções das bolsas continuam numa marcha irregular e imprevisível ? Existe sempre a opção de sair do mercado e reentrar quando o nevoeiro se dissipar. Investir em obrigações do tesouro é sempre uma opção a considerar. O rendimento é pequeno, mas certo. E para aqueles que querem continuar investidos no mercado de acções ?

Em tempos de incerteza companhias de telefones, condutas e de electricidade constituem o refúgio tradicional daqueles "amedrontados" pelo mau tempo. Outros sectores a considerar: imobiliário e produtos farmacêuticos.

Igualmente a considerar quando escolher companhias que farão parte do seu portfolio: uma história de bons resultados financeiros e que se adaptem rapidamente às condições do mercado. Considere o valor de dividendos que a companhia paga. Dividendos suportam o preço das acções e, se não por outra razão, pela menos devolvem alguma coisa aos investidores, e com Price Earnings Ratios (P/E) baixos.

Escolhemos cinco companhias que pensamos serem apropriados para o momento actual, quatro delas já apresentadas nos números anteriores do BOLETIM, TransCanada Pipelines (número 4); MDS (número 6); Imasco Ltd (número 7); DuPont Canada Inc (número 14) e uma nova, Dofasco, Ltd. Em baixo a justificação para a nossa escolha.

TRANSCANADA PIPELINES (preço máximo durante o ano: $34.65, preço mínimo: $21.25, preço a 31 de Agosto: $21.30), com o dividendo de $1.12. Ao preço corrente produz um rendimento (yield) superior a 5%. Esta é uma das melhores yields que se pode encontrar não só no sector de energia, como em telecomunicações ou bancos. A companhia adquiriu recentemente condutas duma companhia competidora, Nova. Se bem que a TransCanada Pipelines esteja a crescer a um ritmo mais lento do que no passado o dividendo, tem a vantagem de não ser afectada pelo preço baixo de energia.

IMASCO (preço máximo-mínimo: $30.30 - $19.25; fecho a 31 de Agosto: $25.20). Imperial Tobacco e Shoppers Drug Mart contribuem com apreciável cash flow e CT Financial oferece bom potencial for crescimento. A companhia proporciona protecção em caso de recessão. Acções, ao preço actual de $25.20, estão sensivelmente a meio caminho entre o máximo e o mínimo para o ano. O dividendo de 68 cêntimos anuais (yield de 2.7%) é relativamente seguro.

MDS INC ( Classe A (Voting shares) : preço máximo-mínimo: $36.00 - $27.05; fecho a 31 de Agosto $28.95). Para classe B ligeiramente valores menores. MDS está envolvida em diversos serviços de saúde. Calcula-se que as receitas da firma aumentem anualmente em 10% nos próximos três anos. Espera-se que todas as divisões participem neste crescimento, com o maior crescimento em serviços de laboratório e na divisão farmacêutica. A companhia está em boa situação financeira com um débito relativamente baixo em relação a equity - 0.33.

DUPONT CANADA INC, a companhia apresentada no nosso último número. As possibilidades da companhia continuam intactas. O dividendo é relativamente pequeno (mas a possibilidade de um dividendo especial não é de excluir) Acções são negociadas a $36.25, o que representa uma redução razoável do preço máximo durante o ano ($47.50). A companhia oferece estabilidade e tem cash.

DOFASCO INC é uma companhia sobre a qual nunca escrevemos e faz parte do sector de metalurgia, com fundições em Hamilton (Ontário). O preço das acções têm baixado devido a preocupações com a Ásia. Existe uma apreensão com a desvalorização das moedas asiáticas e a percepção de que países como a Coreia poderão inundar os mercados americanos com aço mais barato. Mas o contra argumento é consistente e lógico, também. Primeiro países asiáticos necessitam de importar carvão para fazer trabalhar as suas operações metalúrgicas e isto significa que enquanto a desvalorização das moedas torna as suas exportações mais baratas, importações torna-as mais caras. E o carvão custará mais. O segundo argumento é que um dos maiores custos do aço é otransporte. Aço é pesado e custa caro para transportar.

Após estas considerações resta dizer que Dofasco é uma óptima companhia e está em boas condições financeiras. As acções da companhia têm sido transaccionadas entre $25.45 e $15.25. Preço a 31 de Agosto $15.50. Com um P/E racio de 7.3 e um dividendo de $1.00 anual oferece um Yield de 6.5%. O dividendo é sensivelmente 50% do último lucro anual de $2.12.

Banco de Montreal e BCE Inc tratadas nos Boletins anteriores não são incluídas nesta lista. Primeiro, existe alguma confusão sobre a situação dos bancos e as propostas fusões entre eles. A resistência contra essas mergers aumenta e elas não estão garantidas. Um banco a considerar, no entanto, é o não envolvido em mergers: Banco de Nova Escócia. Não tão caras como o preço das acções das restantes companhias o preço das suas acções não reflecte os beneficios duma merger que poderá ou não acontecer. Em comunicações, BCE Inc é igualmente uma boa companhia mas o preço das acções tem aumentado mais rapidamente do que lucros, Com um P/E de 26 acções são presentemente caras.

POSTO DE OBERVAÇÃO

UPS & DOWNS

UP - BEAMSCOPE constitui um sucesso em crescimento. Estabelecida em 1982 a firma passou a companhia pública em 1993. Não manufactura produtos, nem vende directamente ao público. Coloca-se apenas no meio da equação. É uma distribuidora. A companhia coloca no mercado ou faz marketing de mais de 6.500 produtos electrónicos para estabelecimentos. Jogos video; PC hardware; PC software: máquina (digitais) de fotografar entre muitos outros produtos.

Conta como fornecedores entre outros: ExpressVu (um sistema de televisão por satélite (direct-to-home) que no futuro terá a capacidade para transmitir 200 canais; Kodak; Philips; Sony e Fuji. Outros nomes igualmente conhecidos: Hewlett-Packard; IBM; Canon; Microsoft; Disney e Nintendo.

Como clientes conta com nomes importantes no país tais como: Wal-Mart; Future Shop; Sony Stores; Computer City; The Bay e muitos outros.

Desde 1994 Beamscope está presente na América Latina. onde adquiriu 49,5% da firma chilena Sonda Beamcope. Numa joint ventura com Sonda, a firma controla Unisel Chile; Unisel Argentina e Officer Distribuidora, no Brasil.

Beamscope prevê um crescimento anual de 20%. A crise na América Latina poderá reduzir essa percentagem. O sucesso da firma depende da vontade dos consumidores de continuarem a comprar.

DOWN - VANCOUVER STOCK EXCHANGE é a bolsa canadiana onde companhias públicas de menor capitalização são negociadas. E é nesta bolsa que encontramos acções de companhias a serem transaccionadas a dois ou três cêntimos.

Mas Vancouver está a atravessar um período mau. A redução de actividade é evidente. A bolsa tem perdido mercado a favor doutras bolsas canadianas, especialmente a de Alberta. Volume tem sido igualmente reduzido. Investidores e investimentos estão a mover-se noutras direcções.

O curso errático dos mercados, má publicidade causada por escândalos; tudo tem sido prejudicial para a bolsa onde companhias pequenas, e consideradas como investimentos especulativos, são negociadas.

A publicidade não é favorável. A notoriedade da bolsa de Vancouver atravessa fronteiras. O magazine americano Forbes apresentou até um artigo classificando a Bolsa de Vancouver como "a capital mundial da vigarice".

Esta é a bolsa que ainda não recuperou do escândalo da Bre-X, se bem que aquela companhia fosse negociada noutras bolsas. Consequentemente, corretores estão a sofrer as consequencias da redução de actividade. Despedimentos têm aumentado. E a situação não mostra sinais de melhorar.

(Preparado: Setembro de 1998).


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