BOLETIM FINANCEIRO


ANO 3 ........................................ No. 16

NOVEMBRO - DEZEMBRO 1998................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Este é o último numero do BOLETIM de 1998. Em Janeiro este publicação electrónica entrará no quarto ano de publicação.

Tal como no número anterior não estudamos nenhuma companhia canadiana na presente edição. Voltaremos a fazê-lo em Janeiro.

Entre os assuntos apresentados neste número consta um artigo sobre a influência do ano 2000 no funcionamento de computadores e sobre deflação. Estas são as maiores "sombras negras" que confrontam o futuro próximo.

Entretanto desejamos a todos os nossos leitores Boas Festas e Bons Investimentos.

COMENTÁRIO

Que diferença um mês faz no estado de espírito dos investidores. Depois dos problemas com os mercados de capitais neste verão e do subsequente mal estar que se manteve por algum tempo, Outubro acabou por ser um dos meses mais favoráveis para as bolsas Norte Americanas. Agora a calma voltou aos mercados. A percepção preponderante até há pouco de que a economia iria decair começou a dissipar-se. O índice de Toronto (TSE 300 composite index) teve um Outubro excepcional, avançando mais de dez por cento, o maior ganho mensal desde Agosto de 1984. Investidores em acções respiraram fundo e readquiriram confiança no futuro dos seus investimentos. Os optimistas reapareceram com um sorriso nos lábios e aquele ar de confiança capaz de converter os mais descrentes no mercado. Mas, o que resta saber é por quanto tempo esta tranquilidade vai durar...

Se bem que haja uma concordância geral num futuro abrandamento das economias mundiais há agora quem pense que uma recessão global pode ser evitada. Claro que, como é natural, não há unanimidade nestas opiniões. Outros há que mantém convicções diferentes e bastantes economistas e analistas reconhecem sinais de problemas fundamentais nos mercado financeiros.

No ano passado tivemos o Grey Monday, a maior descida no índice do TSE desde 1987. Em Abril deste ano o índice da bolsa de Toronto atingiu o nível mais elevado do ano subindo para além dos 7,800 pontos. Então a queda começou. Mas em Outubro uma recuperação forte. Estes altos e baixos são reflectidos com rigor nos índices mas nem sempre em companhias individuais.

O dólar canadiano continuou debaixo de pressão descendente durante o verão. Investidores estrangeiros começaram a desfazer-se de acções e obrigações canadianas. Isto constituiu um factor adicional a uma moeda já bastante combalida.

O último problema a afectar as economias mundiais resultou da situação no Brasil, da qual os jornais têm feito uma cobertura extensiva. O novo governo do país diz-se determinado a confrontar a situação. Assegura o país e o estrangeiro do seu desígnio de tomar medidas enérgicas para debater a crise. Os Estados Unidos, com o suporte do Grupo dos Sete, criou uma nova "linha de crédito" através do Fundo Monetário Internacional e doutras instituições para debelar a crise. Canadá será um dos contribuintes dum empréstimo financeiro. Será que os governantes do país conseguirão apagar o fogo e reparar as finanças? Outro factor até agora excluído da equação são as consequências duma detenção do general Pinochet. Um julgamento do general em Espanha, ou noutro país, poderá causar grandes perturbações na bolsa do Chile, já a manifestar sinais de fraqueza, e precipitar uma crise financeira na região.

FUNDOS DE INVESTIMENTO

Investir directamente na bolsa parece complicado e destinado apenas para a alta finança. Por isso aqueles que querem ver as suas poupanças aumentar, mas não se afoitam a investir directamente em acções, escolhem fundos de investimento. Estes constituem uma maneira prática e acessível de participar nos mercados de capitais. Mas muitos deles, sem disso se aperceberem, estão também investidos, se bem que indirectamente, na bolsa através de fundos de pensões particulares.

Movimentos da bolsa têm influência não só nos seus investimentos nos fundos de investimento como também na segurança e estabilidade das suas pensões particulares. Isto são razões mais do que suficientes para prestarem atenção aos movimentos dos mercados financeiros.

Fundos investidos em acções não tiveram um verão auspicioso, pelo contrário. A queda foi geral. Nalguns casos os resultados foram mesmo desastrosos. Muitas das "estrelas" da industria viram o valor dos seus investimentos reduzidos vinte, trinta por cento. Investidores reagiram às baixas de preços e resgataram as acções.

Entre as vitimas, Trimark, uma das mais antigas e conhecidas firmas de fundos de investimento no Canadá. Durante os primeiros seis meses do ano investidores puseram na firma 486 milhões de dólares e retiraram 1 bilião e meio (mil milhões e meio). Julho marcou o mês onde houve uma maior retirada de capital nos fundos. Muitos abandonaram os fundos sem se preocuparem com penalidades, isto é o pagamento de comissões em back-end load funds. Estes são os fundos em que paga uma comissão quando se resgatam acções/unidades antes dum determinado tempo. Geralmente comissões são reduzidas até zero se a importância investida se mantiver na instituição por sete anos - uma maneira de obrigar investidores a conservarem acções da companhia.

Mas não foi só Trimark que registou um cash flow negativo. Outros fundos, investidos em acções, viram-se na mesma situação.

Claro que isto foi consequência dos resultados negativos dos fundos durante o período. De Janeiro até ao fim de Outubro fundos de acções investidos em matérias primas, energia (óleo e gás) e em mercados imergentes foram as maiores vítimas. Green Line Energy acusou um resultado de -46%, Green Line Resources -33%, 20/20 Canadian Resources -36% (lucros anuais negativos). Não admira que investidores tenham procurado as portas de saída.

Entretanto, no Outono, investidores estão a regressar aos fundos de investimento.

2000 & DEFLAÇÃO

O Problema do ano 2000 para computadores tem sido imensamente noticiado. Está o leitor preparado para ele? Ao que parece muitas companhias ainda não estão.

Devido ao facto dos programas de computadores usarem dois algarismos em vez de quatro para identificarem a data, quando se entrar no dia 1 de Janeiro do ano 2000 programas ficarão confusos ao encontrar dois zeros e irão concluir uma data diferente, 1990, por exemplo.

Prevê-se que muitos computadores "irão abaixo". E este parece ser certo em muitas companhias médias e pequenas. Grandes companhias andam a trabalhar no assunto há bastante tempo e muitas já se encontram nas fases finais de testes dos seus sistemas.

A industria de investimentos no Canadá é a mais preocupada com o assunto e isso compreende-se. Ela está também a assistir às firmas que são membros da industria a proceder com testes consecutivos, os chamados end to end tests.

O TSE (Toronto Stock Exchange) adoptou o principio de requerer de todas as companhias que fazem parte da bolsa o fornecimento de informação sobre as medidas tomadas em relação ao ano 2000. Só aquelas que rectificarem o problema serão permitidas negociar na bolsa.

Nos Estados Unidos a SEC (Securities and Exchange Commission) publicou um boletim a 12 de Janeiro deste ano (Bulletin on Y2K) discutindo as implicações e consequências do problema para companhias públicas, companhias de investimento, emissores de títulos municipais e conselheiros financeiros.

Merryl Lynch, a firma americana de investimentos, prevê que as correcções e transformações inerentes ao ano 2.000 custem à firma $375 milhões de dólares.

Thompson Corporation, a companhia proprietária do "Globe & Mail" de Toronto e de informação electrónica especializada, já despendeu $100 milhões de dólares e deve ter o sistema "pronto" durante este ano. Em 1999 fará os necessários testes.

O Royal Bank, o maior banco canadiano, tem tido uma equipa de catorze técnicos há mais de dois anos a trabalhar exclusivamente nesse problema.

Se bem que as grandes firmas canadianas estejam a "atacar" a sério o problema, muitas companhias pequenas parecem não se terem capacitado da gravidade da situação. Muitos países parecem prestar pouca atenção ao assunto. Bastantes deles, tecnicamente menos desenvolvidos, não estarão preparados a tempo. Numa economia global as possibilidades de grandes problemas aumentam e, há mesmo quem garanta que o problema do ano 2000 nos computadores poderá contribuir para uma recessão global.

Recentemente uma comissão estabelecida no Canadá para estudar o assunto recomendou que o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério do Comércio Exterior discutam o problema com as nações com as quais o país tem relações comerciais.

Se a solução não abranger todos os países, confusão e anarquia resultarão nos mercados mundiais.

O outro problema que se fala com frequência é o duma depressão mundial. As novas gerações conhecem apenas inflação, uma depressão é algo de novo mas não menos perigoso.

Uma depressão poderá começar com excesso de capacidade e uma baixa progressiva de preços. Óleo e matérias primas continuam em depressão.

Com produção excessiva produtores são coagidos a vender os produtos mais baratos. Devido a lucros menores eles serão forçados a produzir mais e reduzir os custos, uma maneira de reduzir os custos é maior produção com menos pessoal. Isto contribuirá para despedimentos de trabalhadores. Com o desemprego a aumentar a mão de obra trabalhará por menos dinheiro e salários baixarão. Com menos dinheiro e falta de segurança trabalhadores comprarão menos (apenas o essencial). Inventários aumentarão e empresas acabarão por ter que reduzir ainda mais o pessoal. A eficiência em produção é agora anulada por redução em vendas. No passado o problema era inflação, agora é deflação.

Durante os anos 30 viveu-se a grande depressão mundial, com desemprego massivo, baixas de preços e falta de poder de compra. Mas nem todos estavam mal, aqueles que tinham pensões ou rendimentos fixos forem os únicos beneficiários da crise.

Não estamos a desenvolver nenhuma teoria Marxista. Talvez estejamos a exagerar este quadro negro. Hoje em dia, os governos têm meios para combater estas crises que os dos anos 30 nunca utilizaram. Mas o perigo dum cenário parecido, se bem que mais atenuado, nunca é de excluir.

POSTO DE OBSERVAÇÃO

UPS & DOWNS

UP - KINGSWAY FINANCIAL SERVICES INC. Kingsway Financial Services? O que é isso? Esta é a pergunta que muitos podem fazer sobre uma companhia que não aparece com frequência nas colunas dos jornais.

Mas a pouco e pouco investidores vão descobrindo a companhia e verificando que existe valor na mesma.

A empresa pertence ao ramo de seguros e a sua actividade principal é fazer seguros de automóvel para indivíduos considerados como constituindo "risco elevado", isto é com uma história de acidentes ou violações de trânsito. Este é um dos sectores de seguros em que não existe muita competição.

Kingsway tem está a aumentar a sua presença nos Estados Unidos adquirindo outras pequenas empresas do mesmo ramo.

Recentemente, a companhia comprou mais de 100,000 das suas acções para cancelamento, sinal de que as considera como tendo um valor superior aquele em que estão a ser transaccionadas.

DOWN - LOWEN GROUP INC. Não é difícil de compreender como o negócio de funerais possa dar prejuízos? Afinal este é um ramo de comércio para o qual não existe recessão. Tanto em bons como maus tempos há falecimentos. Na verdade em recessões e tempos de crise há mais pessoas a falecer de ataques de coração e doutras enfermidades...

Negócios correram sempre bem para Lowen Group Inc, o operador de casas funerárias, até que a corporação resolveu começar a comprar cemitérios. O que a companhia não pensou foi que o negócio de cemitérios é diferente do de casas funerárias. Ele pertence à categoria de propriedades e têm que ser administrado como tal.

Há dois anos atrás Service Corp International, de Houston, a maior firma mundial de serviços funerários, quis comprar Lowen. Ray Lowen, fundador, presidente e administrador da companhia, comandou a batalha contra o take over. O preço? Muito superior ao que a companhia vale hoje.

Nestes últimos anos Lowen tem tido muita má publicidade: processos judiciais nos Estados Unidos; indemnizações; prejuízos, quando se esperam lucros; um nunca mais acabar de más notícias...

Presentemente, a empresa depara-se com muitos problemas, mas nem sempre foi assim... LOWEN GROUP INC era considerada como uma companhia invulnerável a maus resultados. Investir em Lowen era "dinheiro em caixa". Ela fazia parte de inúmeros portefolios de fundos de investimento e analistas financeiros recomendavam-na sem hesitações.

Acções que eram transaccionadas à volta de 40 dólares não há muito tempo rondam agora pelos dez dólares. Alguns analistas já nem sequer se dão ao trabalho de a seguir.

Ray Lowen cedeu o seu lugar a um novo chefe executivo, Robert Lundgren. Conselheiros financeiros, um antigo Primeiro ministro do Canadá, John Turner, banqueiros de Nova Iorque, todos têm estado a trabalhar para "ressuscitar" o doente... Altura para tratar do funeral de Lowen Group Inc?

(Preparado: Novembro de 1998).


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