BOLETIM FINANCEIRO


ANO 4 ........................................ No. 17

JANEIRO - FEVEREIRO 1998................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Este é o primeiro número do BOLETIM de 1999 e com ele o Boletim entra no quarto ano de existência.

Como é habitual no princípio de cada ano apresentamos alguns comentários sobre o ano que passou e observações sobre aquele que se inicia.

As bolsas canadianas, como as de outros países, continuam sujeitas a incertezas; especialmente devido ao facto de haver forças diversas e contraditórias a influencia-las. Argumentos pró e contra o investimento em acções de companhias públicas abundam. Contudo os optimistas continuam em maioria. Investir ou não investir na bolsa é uma decisão difícil de tomar. Investir neste mercado em subida contínua, ou esperar para novas direcções económicas? Para aqueles apenas interessados em seguir o mercado à distância, sem nele participarem, o momento actual oferece uma boa oportunidade para o estudar e compreender. Leitura de jornais e revistas financeiras é um bom princípio. "Newsletters" electrónicas, tais como o Boletim Financeiro, ou em papel, abundam também. Pode-se sempre seguir tais informações apenas como observador sem conceber nenhuma acção.

A maior preocupação para o Canadá continua a ser o Japão, devido à importância daquele país como importador de matérias primas canadianas. Numa economia global, o que se passa noutros países é importante. Certamente que nalguns conta mais do que noutros. Se a situação económica dos Estados Unidos tem uma importância vital para o Canadá, o que se passa com a economia dum país, como por exemplo, a Roménia, é duma influência insignificante.

Menor influência do que os Estados Unidos ou Japão, mas mesmo assim duma importância a considerar, é o que se passa na Europa. Uma inovação nas finanças europeias foi a introdução do euro. Deste lado do Atlântico o evento tem sido bem discutido e há até quem sugira que o dólar canadiano se deveria "casar" com o americano para manter a importância das moedas norte-americanas numa economia mundial. Isto, impensável no passado, é agora sugerido abertamente. Tal acção dos políticos norte-americanos não parece no entanto provável por estes tempos mais próximos. Quando a exuberância sobre a nova moeda europeia se desvanecer a vida voltará ao normal.

O Brasil também é seguido com interesse por financeiros canadianos. No passado o Brasil era considerado como um país de futuro, hoje é considerado como um país de futuro e amanhã continuará a ser considerado como um país de futuro... É o futuro que nunca chega... Instituições canadianas não estão excessivamente expostas no Brasil, mas devido à interrelação global, o contágio duma crise brasileira afectará a América Latina e a epidemia chegará à América do Norte.

RESUMO DE 1998

DÓLAR CANADIANO - No fim de 1988 o dólar canadiano era negociado a 65.21 cêntimos U.S. No ano anterior tinha acabado o ano a 69.91 cêntimos U.S. Em 31 de Dezembro de 1996 a 72.96 cêntimos U.S. A queda tem sido consistente ano após ano.

A BOLSA - As bolsas canadianas continuaram a ter uma actuação "fraca" em relação às americanas. O índice da Bolsa de Toronto, que começou o ano a 6,699 pontos, fechou em 31 de Dezembro a 6,486, uma descida de 3%. As outras bolsas canadianas não fizeram melhor: Montreal, Alberta e Vancouver registaram descidas respectivamente de 2%, 21% e 36%.

Nos Estados Unidos os índices acabaram o ano mais altos do que quando o começaram, o Dow Jones Industrial aumentou 16%, o Standard & Poor's 500 26% e o Nasdaq mais de 39%.

Para as bolsas canadianas o problema continua a ser o preço das matérias primas. Estas representam uma percentagem elevada do índice do TSE 300. Metais e óleos tiveram uma actuação decepcionante.

BANCOS - O governo do Canadá não permitiu a "fusão" dos bancos (Royal com Montreal, Commerce com Toronto Dominion). Isso não quer dizer que tal não possa vir a acontecer dentro de um ou dois anos, mas, pelo menos por agora, esses planos foram postas na prateleira... Os bancos canadianos têm tido um crescimento notável e não se podem queixar. Crescimento continua a ser possível através de aquisições.

É surpreendente como alguns dos gestores dos bancos protestam acerca da lei que limita a possessão ou controlo de mais de 10% das acções por indivíduos ou organizações. Tal lei, na verdade, protege os próprios gestores contra a possibilidade do aparecimento dum grupo de maioria que desafie e dispute muitas das decisões dos bancários ou até que os remova dos cargos que eles ocupam.

IMOBILIARIO - Este sector da economia surpreendeu ao registar uma descida de 14%. Após anos de depressão, o sector tinha iniciado uma recuperação em 1987, quando a percentagem de ocupação de propriedades comerciais começou a aumentar.

TECNOLOGIA - A loucura por companhias de tecnologia é tão grande que segundo o Wall Street Journal uma companhia desconhecida no Texas, chamada PinkMonkey.com, e que vende manuais de estudo através da internet, num comunicado enviado à imprensa comparou-se com Amazon.com. Acto imediato houve uma procura invulgar das acções da companhia. Elas que eram negociadas a 50 cêntimos chegaram aos $17 dólares. O preço acabou por descer para $4 dólares, mas tal ocorrência revela a loucura que se apoderou do sector. Mas estas companhias na quase totalidade são negociadas nos Estados Unidos (Nasdaq).

PROMESSAS PARA 1999

Economia - Previsões variam sobre a direcção da economia canadiana; um crescimento à volta de 2% é a previsão geral. Também se espera uma redução no crescimento económico dos Estados Unidos.

Dois sectores da economia canadiana que não devem ter problemas são os tradicionais: bancos e telecomunicações (telefones). Estes sectores deverão conservar as suas posições no mercado. Companhias indicadas como leaders: Royal Bank, Bank of Nova Scotia, Bank of Montreal, BCE entre outras.

Imobiliário, que falhou uma recuperação no ano passado, poderá finalmente reanimar. Favorável para o mercado de propriedades são as baixas nos juros de hipoteca. Se Toronto parece encaminhar-se para uma redução de espaço comercial por alugar, existem problemas noutras regiões. Calgary devido à fraqueza no sector do óleo e Vancouver, devido a inúmeras circunstâncias, poderão continuar em depressão. A última palavra? Essa é sempre dada pelos investidores.

Outros sectores da economia para investir? Há a possibilidade de que companhias envolvidas em matérias primas comecem a recuperar. A descida tem sido longa e não poderá continuar eternamente. Psicologia poderá ter influência. Se bem que as companhias destes sectores não vejam melhores tempos imediatamente há a possibilidade de que investidores, convencidos de que os preços não poderão descer mais, comecem em breve a tomar posições na industria.

Dólar Canadiano - Como noutros casos, falta de concordância quanto à direcção do dólar canadiano. Alguns observadores da cena financeira acreditam que não pode descer mais (e esquecem-se de olhar para o dólar australiano). Aqueles que gostam de fazer previsões vêem-no entre os 65 e 70 cêntimos. Depressão no mercado de matérias primas e situação incerta no Japão continuarão a exercer pressão negativa na moeda. Uma desvalorização da moeda chinesa (um dos temas preferidos dos economistas canadianos) causará instabilidade nos mercados financeiros e mais pressão negativa no dólar canadiano. Por outro lado uma corrida ao euro como moeda de reserva afectará negativamente o dólar americano e valorizará o canadiano.

ACÇÕES A CONSIDERAR

ALCAN ALUMINIUM LTD

Se bancos e companhias de telefones constituem a parte conservativa duma carteira de investimentos chega-se à ocasião em que se torna necessário diversificar para evitar o risco de se estar investido apenas num ou dois sectores da economia.

Para o investidor que pensa em alargar a sua carteira de investimentos para diversificação, outra espécie de companhias torna-se imprescindível.

Escolhemos para este número do Boletim ALCAN ALUMINIUM LTD, uma companhia multinacional com sede no Canadá. Alcan, com 96 anos de existência, está envolvida em todas as fases do comércio de alumínio: minas, refinação, fusão e recuperação de metal. A companhia tem operações e escritórios de venda em mais de 30 países.

Alcan é a segunda maior companhia mundial nesta indústria. A maior é a americana Aluminium Co. of America (Alcoa).

A produção de alumínio no Canadá começou em Outubro de 1901 numa empresa dependente de Alcoa. Em 1902 uma nova firma canadiana foi constituída com o nome de Northern Aluminium Company. Em 1925 a companhia adoptou o nome actual.

Desde o seu começo a companhia tem tido períodos de grande crescimento que contribuíram para o seu valor actual.

Mesmo durante a crise económica dos anos 30 Alcan continuou a aumentar a sua actividade na indústria de transformação do alumínio. Entre as duas guerras mundiais ela prosseguiu os seus esforços para desenvolver a industria na Índia, China, Japão e Austrália.

A segunda guerra mundial constituiu outro período de grande crescimento devido á procura de alumínio para a construção de aviões. Através da utilização de áreas hidroeléctricas de Saguenay, Lac-Saint-Jean no Quebeque, a produção do metal aumentou cinco vezes para 500.000 toneladas anuais.

Durante os anos 70, foram construídas novas instalações (fábricas e fundições) na Austrália, Reino Unido, Brasil e Índia e iniciadas actividades de extracção de bauxite no Brasil e produção de alumínio na Jamaica, Austrália e Irlanda.

Durante os anos 80 uma reorganização importante na industria. Alcan associou-se com British Aluminium Company em 1982 e adquiriu parte do sector activo de alumínio de Atlantic Richfield Company nos Estados Unidos em 1985. Isto contribuiu para uma presença mais forte no mercado de transformação de metais.

Em 1987 nova reorganização interna. Alcan Aluminium Limited, até então a filial principal, tornou-se a companhia mãe do grupo.

Tal como outras companhias, Alcan está a desinvestir em actividades que não fazem parte da sua linha principal de comércio, que é o alumínio. Recentemente anunciou a venda de Handy Chemicals Ltd., uma subsidiária localizada no Quebeque.

Racionalização continua a verificar-se e com ela redução no número de empregados e operários da companhia.

Apesar de condições adversas do mercado e de se atravessar um período de "fraqueza" em metais, a actuação de Alcan continua satisfatória. A procura dos produtos da companhia continua a ser consistente na América do Norte e do Sul, se bem que se antecipe um abrandamento na Europa.

Em Novembro a companhia anunciou a assinatura dum contrato de dez anos para o fornecimento de alumínio para a General Motors. Ambas as companhias estão associadas em diversas actividades tais como: investigação, projectos e tecnologia.

Alumínio compete com aço e plástico na produção automobilística. A vantagem do alumínio é de ser leve, o que resulta na redução em peso e consequentemente em consumo menor de combustível. O problema é a volatilidade em preço. Alumínio está a ser cada vez mais utilizado em motores, radiadores e transmissões mas actualmente é na carroçaria que se prevê um aumento na utilização deste metal.

Alcan tem ainda como clientes Ford, Chrysler e outros fabricantes da industria automobilística, fornecendo-lhes diversos componentes em alumínio, mas o contrato com a General Motors é o primeiro do género para Alcan.

Está previsto que o uso de alumínio em carros continue a aumentar anualmente e não será de surpreender que duplique dentro de cinco a oito anos.

Alcan calcula os seus resultados em dólares americanos.

A companhia tenciona comprar aproximadamente 10% das suas acções para cancelamento.

ESTATISTICAS:

Preço das acções em dólares canadianos (Alta/Baixa/Fecho):

1998 - $48.45 $28.30 $41.50; 1997 - $55.70 $37.70 $39.40; 1996 - $48.50 $38.75 $46.25

Dividendo anual de $0.60 US. Isto resulta numa "yield" de 2.2% com base no preço de $27 1/16 US (fecho no NYSE em 31 de Dezembro).

Número de acções emitidas: 227.600.000.

No período de nove meses, que acabou no terceiro trimestre de 1998, as receitas aumentaram 1% para $5.94 biliões. Receitas líquidas desceram 16% para $306 milhões. Isto reflectindo $27 milhões em despesas de reorganização com NLM Japão e uma baixa nos preços de metais.

As acções da companhia são transaccionadas nas bolsas canadianas de Toronto, Montreal e Vancouver além de nove bolsas internacionais, entre as quais Nova Iorque, Frankfurt e Paris.

(Preparado: Janeiro de 1999).


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