BOLETIM FINANCEIRO


ANO 4 ........................................ No. 18

MARÇO - ABRIL ........................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Este número do Boletim sai atrasado e numa edição mais reduzida. Também não estudamos nenhuma companhia canadiana como habitual, tal ficará para o próximo número. A edição de Maio-Junho voltará à sua forma tradicional.

Canadá é um país bastante dependente de matérias primas: extracção mineira, florestas, óleo e gás. Estes sectores afectam sobremaneira a economia do país e companhias envolvidas neles desfrutam duma percentagem elevada nos índices das bolsas canadianas. No presente número discutimos óleo, cujo custo no mercado internacional está incrivelmente baixo, tendo chegado a um preço só igualado há doze anos atrás.

COMENTÁRIO

Os mercados financeiros norte-americanos estão a atravessar um período de relativa calma e optimismo moderado. Isso não significa que não estejam sujeitos a pressões variadas e antagónicas. Para novos investidores precaução continua a ser a ordem do dia. No momento actual a melhor estratégia é a de conservar investimentos conservativos, adoptar uma atitude de disciplina e evitar sectores que estejam na moda, tais como companhias da internet cuja valorização é excessiva.

O sector de tecnologia na generalidade, está totalmente valorizado e não só terá que enfrentar uma competição cada vez mais intensa, como terá ainda que se adaptar a transformações bruscas e inesperadas características do grupo. Tudo isto difícil de prever. Mesmo analistas financeiros, habituados aos cenários mais compreensíveis e previsíveis do passado têm dificuldade em compreender aindústria, especialmente na área que diz respeito à internet. Esta é totalmente diferente de todo o resto, valorizações difíceis de justificar e, que na maior parte dos casos, contrariam até princípios fundamentais de análise. Preços não são justificados nem pela história da industria, nem pela história da companhia nem sequer por factores económicos. A lei da oferta e da procura é o que prevalece e todo o resto parece ser excluído. O problema é que existe muita procura que é feita sem racionalidade, apenas influenciada por uma antecipação optimista de acontecimentos futuros. Como justificar que companhias sem "valores palpáveis" possam valer mais do que as ditas "blue ships", companhias com activos que representam valores reais? Como compreender que Yahoo tenha uma capitalização maior do que Boeing?

ÓLEO

A indústria petrolífera continua em má situação e os países exportadores de óleo estão a assistir a uma diminuição de receitas. Preços atingiram um nível tão baixo que um analista especialista do sector afirmou recentemente, num tom de desespero, que o preço do óleo até está mais baixo do que o da água. Nos últimos dias de Fevereiro o preço do óleo bruto rondava à volta dos $12.00 U.S. o barril. A 21 de Dezembro ele atingiu o seu nível mais baixo dos últimos doze anos - $10.70 U.S o barril.

Inventários continuam elevados, resultando numa depressão no preço. Para agravar o problema, condições climáticas na América do Norte, com temperaturas mais elevadas do que habitualmente no inverno, têm contribuido para uma procura menor de óleo para aquecimento.

Este é um dos sectores mais importante da economia canadiana e de grande influência na bolsa de Toronto. Nove por cento das companhias transaccionadas nesta bolsa estão envolvidas em óleo. Entre outras estão os nomes conhecidos de Imperial Oil, Petro-Canada, Suncor, Shell Canada. No entanto, estas são as menos afectadas pela baixa de preços. As maiores vítimas são companhias médias ou concentradas em exploração. Renaissance Energy é um exemplo flagrante, uma das mais agressivas em exploração chegou a ter as suas acções transaccionadas na bolsa de Toronto a $51.00 em 1996. Agora a cotação anda à volta dos $13.00.

Entre as vítimas da queda de preços de óleo conta-se um investiment trust, MAXIMUM ENERGY TRUST. Em 1996 unidades de Maximum chegaram a ser transaccionadas a $12.25 ($11.55 em 1997). O seu valor tem decaído progressivamente e no fim de Fevereiro chegou a menos de $1.00 a unidade. A sua propriedade mais importante está localizada em Kindersley, na província de Saskatchewan. As reservas económicas de óleo da companhia estão calculadas em 50 anos. Maximum só começa a ter lucros quando o preço do óleo ultrapassa os doze dólares. Cada dólar a partir dos doze dólares no preço do óleo equivale a uma distribuição de dez cêntimos anuais aos investidores.

A baixa de preço do óleo resultou também no que vulgarmente se diz "M & A" (Mergers and Acquisitions). Algumas companhias têm-se associado ou comprado outras companhias. Outra consequência da situação tem sido a suspensão de actividades daquelas envolvidas na descoberta de novos poços de óleo. Segundo um artigo publicado recentemente no Globe & Mail quinze companhias públicas envolvidas em exploração de petróleo desapareceram do sistema.

Em 1973 houve a grande crise do óleo, de que alguns se devem ainda lembrar. Mas desde essa ocasião para cá a situação mudou radicalmente. O Ocidente aprendeu a lição e agora não está tão dependente do Médio Oriente para o fornecimento de petróleo como em 1973. Desde a costa marítima do Vietname até às do Atlântico a exploração para novas fontes de petróleo tem sido intensiva. O aumento de exploração tem resultado na descoberta de novas fontes de óleo e subsequente exploração e aumento de produção.

Quando em 1973 a OPEC, a organização dos países produtores de petróleo, provocou o embargo do petróleo, a sua percentagem de fornecimento ao Ocidente era superior a 50%, hoje não chega sequer aos 30%.

Como consequências do embargo houve uma análise da política de energia no Ocidente. Um dos resultados: menos dependência do petroleo do Médio Oriente. Outro, menor consumo de combustível por cabeça. Melhorias no isolamento de casas, veículos a gastar menos gasolina ou gasóleo, aumentos de preço para estimular menos consumo. Outras fontes de energia competem também com o petróleo. Ballard Power Systems é um exemplo. Esta companhia canadiana usa uma tecnologia avançada de células electroquímicas que convertem natural gás, metano ou hidrogénio em electricidade sem combustão. Autocarros em Vancouver usam esta forma de energia, que é isenta de poluição. Tudo isto resulta numa diminuição de consumo. Por outro lado espera-se que o aumento de população e de veículos em circulação compensem estas reduções de consumo.

OPEC, tem-se mostrado impotente por controlar a situação. Na última reunião oficial dos países membros, realizada a 25 de Novembro em Viena, onde a sede da organização está localizada, membros não chegaram a um acordor. Ao terminar a reunião, o ministro do petróleo da Argélia, respondendo a perguntas de jornalistas, prometeu que na próxima vez se tomariam decisões positivas. O problema resume-se invariavelmente a quem é que corta produção e por quanto. Cada país pensa que os outros é que se devem sacrificar em nome da coligação. Arábia Saudita e Irão estão frequentemente em colisão acerca dos cortes de produção. Mesmo quando se chega a um acordo geral na redução em produção, há membros que iludem o sistema e produzem mais do que a cota que lhes é atribuída, como tem acontecido com a Venezuela.

Há uma certa confiança de que o pior já passou e os preços estão em recuperação. Com preços baixos companhias de exploração têm suspendido operações, OPEC terá a sua próxima reunião oficial a 23 de Março e desde Dezembro têm havido reuniões preliminares entre alguns membros para a apresentação dum plano comum a apresentar na reunião geral.

(Preparado: Março de 1999).


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