BOLETIM FINANCEIRO


ANO 5 ...................................... No. 26

JULHO - AGOSTO 2000 ......................... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

No presente número do Boletim apresentamos uma companhia da indústria mineira.

Se bem que tenhamos um certo retraimento acerca desta indústria, bastante dependente de factores externos e dos altos e baixos da economia, a companhia que escolhemos tem-se revelado extremamente prometedora, com um custo baixo de produção e excelente crescimento. Excluindo companhias de minas de ouro, Rio Algom - a companhia apresentada - é aquela que nos agrada mais.

Se não para iniciar uma pasta de investimentos pode, no entanto, fazer parte da mesma para aquelas que a queiram diversificar.

Para investidores que considerem a compra destas acções um aviso: estudem a companhia em detalhe ou solicitem a opinião dum conselheiro financeiro.

COMENTÁRIO

Chegámos a meio do ano e as notícias abundam, umas positivas, outras negativas.

No lado negativo, um pequeno escândalo que atingiu o meio financeiro canadiano.

Todos se lembram das fraudes de Bre-X e YBM, que relatámos em números passados; agora foi a vez de RT Capital Management de ser incluída nesta coluna. Certamente que este caso não atingiu a gravidade dos dois anteriores, pois apenas consistiu na manipulação de preço de acções, mas, da mesma maneira, levanta dúvidas e preocupações acerca da integridade do sistema e põe em causa princípios éticos do processo financeiro.

O que é preocupante é que a manipulação de preços de acções envolveu indivíduos de várias firmas, actuando como se as transacções feitas constituíssem uma ética normal e aceitável.

No lado positivo, a Bolsa de Toronto regista um aumento de 21% este ano, enquanto outras bolsas acusaram uma queda durante o mesmo período. Factores contribuintes para a subida: melhoria da economia, ausência de sinais de inflação, subida do preço de óleo e gás, aumentos em lucros das companhias e o interesse de investidores estrangeiros no Canadá.

ACÇÕES A CONSIDERAR

RIO ALGOM LIMITED

Escolhemos hoje para apresentar aos nossos leitores uma companhia do ramo de minas. O que pensávamos que nunca aconteceria aconteceu - apresentar uma companhia mineira. Isto deve-se ao facto de haver quem queira diversificar os seus investimentos e insista em investir em matérias primas. Se este tipo de investimento tem altos e baixos a companhia escolhida - Rio Algom - é a companhia dentro do sector que consideramos mais apropriada para quem nele queira investir.

Este tipo de investimento não é para todos, e muito menos para investidores passivos, mas pode ser sugerido aqueles já "lançados" na bolsa e desejosos de diversificar as suas pastas de investimentos.

A companhia explora minas de cobre no Chile, com cem por cento de Cerro Colorado; tem uma participação de um terço em Highland Valley Copper, Colômbia Britânica e uma participação de um quarto em Alumbrera, na Argentina, donde se extrai cobre e ouro. Rio Algom tem também um terço de participação numa mina de cobre e de zinco no Peru, Antamina.

Em 1997 cobre foi descoberto em Spence, no norte do Chile. O depósito é considerado como um dos maiores descobertos na década.

Através de Rio Algom Metals Distribution a companhia é uma das maiores distribuidoras de metais, aço e alumínio do país. Esta divisão, com 52 centros de distribuição no Canadá e nos Estados Unidos, tem mais de 25.000 clientes. Isto resulta num forte "cash flow" e num factor estabilizador durante diferente ciclos de preços para metais.

O aumento de preços em aço e alumínio, depois de quatro anos de descida, constitui boas notícias para a companhia e contribuiu para um aumento substancial de receitas e de lucros no primeiro trimestre deste ano.

Após preços historicamente baixos atingidos em Março do ano passado, o preço de cobre tem aumentado consideravelmente. Cada dez cêntimos no aumento numa libra de cobre resulta num aumento de 40 milhões de dólares nas receitas líquidas da companhia.

A recuperação de Rio Algom é evidente. Para o primeiro trimestre deste ano as receitas foram de 15 milhões de dólares, comparados com 1 milhão no mesmo período do ano passado. Após despesas de financiamento e dividendos para acções de preferência os lucros foram de 16 cêntimos por acção, comparados com um prejuízo de 9 cêntimos no mesmo período do ano anterior.

Outros progressos em relação ao primeiro trimestre de 1999 foram: a produção de 116 milhões de libras de cobre, um aumento de 9%; redução na custo de produção para 44 cêntimos a libra, uma melhoria de 8%.

Outras estatísticas:

Em 1999 a companhia teve um prejuízo de $3.43 por acção; nos anos anteriores teve lucros de 31 cêntimos (1998); $1.19 (1997); $1.57 (1996).O prejuízo em 1999 foi o primeiro nos quarenta anos de existência da companhia.

Preço das acções no fim 1999 $21.50; em 1998 $16.40; em 1997 $24.15 e em 1996 $30.60.

Os dividendos tem flutuado: em 1999 foram 28 cêntimos ; em 1998 49 cêntimos e em 1997 e 1998 70 cêntimos.

Para o primeiro trimestre deste ano o dividendo foi de sete cêntimos e é de esperar que nos próximos trimestres ele se mantenha ou aumente.

Tem-se falado muito da possibilidade de Noranda Inc fazer um takeover de Rio Algom. Noranda já possui 6% das acções de Rio Algom, ou seja 3.6 milhões de acções.

Como dissemos no principio desta apresentação este tipo de investimento não é para todos nem para iniciados. Tanto a indústria como a companhia devem ser seguidas atentamente. Acções não devem ser compradas a qualquer custo, mas adquiridas quando baixas ocorrem.

Dentro da indústria Rio Algom é certamente uma companhia bastante atraente e com boas perspectivas de crescimento. A tendência do preço das acções é mais para subir do que para descer.

VIGARICES...E OUTRAS IRREGULARIDADES

RT CAPITAL MANAGEMENT INC.

A Bolsa de Toronto e a Ontario Securities Commission acusaram nove empregados e directores da firma administradora de pensões RT Capital Management Inc de transacções ilegais. Vários corretores da bolsa colaboraram nas infracções. As duas instituições regulamentadoras concluíram que dessa actividade irregular resultou um aumento artificial do valor das acções.

RT Capital Management Inc é uma subsidiária do Royal Bank e a segunda maior companhia administradora de fundos de pensões do país, tendo a seu cargo a gestão de 32 biliões de dólares.

Geralmente este tipo de actividade ocorre da seguinte maneira: momentos antes da bolsa encerrar, um corretor compra acções em número suficiente para aumentar o valor das mesmas em relação ao preço anterior. Mesmo que o preço não aumente a compra cancela uma ordem de venda da qual resultaria uma baixa.

Outras vezes dois gestores de investimentos entram em contacto e concordam na venda e compra de acções a preço mais elevado do que aquele que o mercado regista.

Estas transacções, segundos antes da closing bell, puxam o preço das acções para cima e tendem mais a acontecer no fim dum trimestre ou no fim do ano fiscal do fundo.

Como a compensação dos administradores de fundos é baseada numa percentagem do valor da pasta de investimentos ao fim do trimestre, semestre ou do ano fiscal tal estratégia resulta num aumento das suas próprias remunerações.

Manipulação do preço das acções parece ser mais comum do que se pensa. Em Setembro de 1997 uma das mais conhecidas companhias de fundos de investimentos do país foi acusada da mesma prática. Sem reconhecer culpa, a companhia fez uma doação de $75,000 dólares à comissão reguladora de investimentos. Outros casos sem atingirem a visibilidade desta ocorrência têm acontecido ano após ano.

Recentemente o "Globe & Mail" fez uma investigação sobre saltos inesperados e aumento de preços de acções ocorridos nos últimos minutos do fecho da bolsa de Toronto. Ela encontrou muitas altas inesperadas no fecho das sessões.

Para concluir resta dizer que há gestores de pensões que recebem anualmente mais de meio milhão de dólares, pagamentos relacionados com as performances dos fundos administrados.

NOTÍCIAS

* A Bolsa de Toronto adoptou novas normas de admissão que, na opinião dos seus dirigentes, atrairá firmas de prestígio do ramo de tecnologia.

Condições essenciais para admissão: a existência de $10 milhões de dólares em tesouraria; um valor mínimo de mercado de $50 milhões e a evidência de competência e recursos necessários para desenvolvimento do negócio.

Companhias já negociadas na bolsa de Toronto não têm que seguir as novas regras, não estando, por isso, em perigo de serem removidas da mesma. O desejo dos administradores da bolsa parece ser o de manter a integridade do mercado, aumentar a confiança dos investidores e de competir em melhores termos com outras praças, como, por exemplo, a Nasdaq.

Pequenas firmas pretendendo tornar-se públicas podem sempre recorrer à bolsa de Vancouver, agora conhecida como Canadian Venture Exchange ou de serem negociadas over-the-counter.

* Canada 3000, uma das companhias de aviação (charter), conhecida dos portugueses por fazer voos para Portugal (a outra é a Transat) lançou uma oferta pública de acções pela qual recebeu mais de $28 milhões de dólares. Acções da companhia começarão a ser negociadas no TSE a 14 de Julho com o símbolo CCC.

Transat é já transaccionada na bolsa de Toronto com o símbolo TRZ.

BIOTECNOLOGIA

Biotecnologia está finalmente a despertar interesse no mundo de investimento.

Durante muito tempo o sector tem sofrido de depressão: competição, testes dispendiosos e improdutivos, experiências abandonadas, disputas devido a violações, ou alegações de violações de patentes que acabam invariavelmente em tribunais, tudo tem contribuído para uma quebra de preços neste tipo de investimentos.

É difícil de encontrar sector mais susceptível de altos e baixos do que o sector de biotecnologia. No entanto há agora indícios de que as coisas estão a mudar.

Em casos de falta de visibilidade pública ou mesmo de escassez de fundos uma simples viagem a Nova Iorque e tudo se resolve. Isto foi o que aconteceu recentemente com uma firma do Québec que estuda novos remédios para problemas gastro-intestinais - Axcan Pharma Inc., listada no TSE (AXP) e agora na Nasdaq (AXCA).

Os gestores da companhia planearam visitar cinco centros financeiros para angariar $25 milhões de dólares U.S. Ao visitarem a primeira instituição financeira foi-lhes comprada a emissão total. Com outras duas instituições também querendo participar na compra acabaram por trazer para o Canadá $40 milhões U.S.

Biomira é outro caso de grande interesse. Com as acções negociadas a menos de $2.00 em Setembro de 1998 elas são agora negociadas a mais de $15.00. Interessante que quando as acções estavam em "baixa", e os accionistas a queixarem- se, a administração prometeu uma conferência com os analistas de Wall Street. A visibilidade produziu resultados imediatos. Internet chat lines tem também posto a companhia num pedestal. Mas confiar muito em News groups tem os seus perigos. Biomira continua a fazer testes para duas vacinas para câncer.

Outras companhias que recorreram a financiamento público para aumentar o seu capital social: Hemosol, uma emissão de acções que rendeu $46 milhões de dólares, e Lorus Therapeutics, que recebeu também $46 milhões.

Duas conhecidas companhias do sector continuam em evidência, Biovail Corp (estudada num Boletim anterior) que é negociada à volta de $80.00 e BioChem Pharma, cuja cotação anda à volta de $36.00, esta última não estando a actuar tão bem como a primeira.

Muitas outras companhias existem dentro desta área de investimento. Menos conhecidas: Helix, Bioniche e Gensci, companhias com um número reduzido de investidores e geralmente não seguidas por analistas.

Naturalmente que as esperanças de grandes ganhos devem ser sempre contrabalançadas com o reconhecimento da possibilidade de grandes desilusões, tudo resultado da complexidade e contingências do sector.

(Preparado: Julho de 2000).


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