ANO 7 .............................................. No. 35

JANEIRO - FEVEREIRO - 2002 ......... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Com este número do BOLETIM entramos no sétimo ano de publicação.

Foi em Janeiro de 1996 que se publicou o primeiro número do BOLETIM. Com ele apresentámos uma das mais importantes companhias públicas canadianas em aspectos de visibilidade e capitalização e aquela com maior número de accionistas - BCE INC.

Esta é a ocasião de meditar no passado, analisar o presente e preparar o futuro - é o tempo de reflexão. A melhor decisão a fazer para este novo ano será de seguir de perto os investimentos.

Investir na bolsa implica a ideia de comprar acções mas a decisão de vender é igualmente ou ainda mais importante. Quando se devem vender acções? Devem-se vender as acções quando elas estejam em alta e os preços a que elas são negociadas excedam ou o seu valor intrínseco ou o provável valor futuro, ou ainda, quando a companhia está em queda e as possibilidades de recuperação são reduzidas.

De vez em quando recebemos algumas perguntas dos nossos leitores. Dentro do possível respondemos, mas à grande pergunta: se os mercados vão subir ou descer, não sabemos responder. O futuro pertence aos deuses.

Uma pergunta feita recentemente foi quais as melhores companhias para investir em Portugal. Não seguimos esse mercado, por isso não temos opinião, mas com a integração do país na União Europeia lançaríamos os nossos olhos não para companhias portuguesas, mas para além fronteiras, principalmente para os bancos alemães. Deutsch Bank tem tido bons lucros durante o passado. A considerar o facto de que bancos alemães têm uma área de actividades muito mais vasta do que a dos bancos canadianos.

Quanto às transformações na Europa não cremos que países como a Alemanha vão ser influenciados pela entrada de Portugal, ou de outros países pequenos, na comunidade, mas países pequenos serão certamente afectados pela parceria com países de economias fortes.

Informações sobre investimentos em Portugal devem ser obtidas consultando conselheiros de investimento ou instituições bancárias no país.

COMENTÁRIO

No primeiro número do BOLETIM, há seis anos atrás, analisámos a companhia canadiana com maior número de accionistas - BCE INC. Desde o dia em que escrevemos esse artigo houve grandes transformações na companhia. Se BCE Inc, mais conhecida como Bell Canada, (BCE é a companhia mãe) continua a ser uma companhia de telefones ela não só se desfez da maioria das acções de Nortel, oferecendo-as aos seus próprio accionistas, como de outros investimentos.

Além dos serviços de telefone tradicionais BCE tem agora outros serviços: oferece ligação à Internet (ISP Sympatico), comunicações celulares, televisão por satélite, tem uma estação de televisão CTV, e-commerce e o jornal The Globe and Mail.

A companhia confronta-se com competição feroz em diversas áreas, tem débito elevado, mas continua a ser uma das favoritas de fundos de investimento e investidores privados.

Se para BCE Inc existe hoje mais possibilidade para crescimento do que há seis anos atrás, as incertezas aumentaram igualmente. Para aqueles que gostam de fazer um investimento e não se preocuparem com ele nem mesmo a estatura gigântica de BCE elimina tais incertezas.

Assim repetimos o que escrevemos no princípio deste BOLETIM - Quando se investe numa companhia deve-se seguir a sua evolução, ler o que sobre ela se escreve, ver a sua home page, mesmo contactar o departamento de Relações com os Investidores e fazer perguntas sobre as suas actividades.

Todos aqueles que investiram em BCE têm visto premiadas as suas decisões. Isto aconteceu geralmente com as companhias que apresentámos, fossem elas BCE INC, Bank of Montreal ou H & R. Real Estate Investment Trust. Há no entanto uma excepção. Uma das companhias que desde a ocasião em que foi apresentada aos nossos leitores caiu no abismo e encontra-se em grandes problemas é Laidlaw. Inc.

Laidlaw Inc. está tecnicamente em bancarrota e debaixo de protecção de tribunais. As suas acções são negociadas a 12 ou 13 cêntimos. Segundo a proposta para reestruturação apresentada pela companhia ela propõe-se cancelar as acções existentes e emitir outras. Se isto acontecer o valor das acções actuais será reduzido a zero.

Laidlaw teve uma política de aquisições muito agressiva ao expandir-se nos Estados Unidos. Adquiriu a maior companhia de ambulâncias (American Medical Response) e uma companhia de serviços de emergência de hospitais (Emcare). Para tal expansão a companhia incorreu débito elevado. Mas foi o investimento em Safety-Kleen que deu o golpe mortal em Laidlaw. Safety-Kleen entrou em problemas, falsificou documentos, exagerou receitas e acabou por apelar aos tribunais por protecção contra os credores, invocando Chapter 11. Laidlaw eliminou Safety-Kleen e outros pesos mortos do seu activo, mas o que não pode eliminar é a dívida enorme resultante desse frenesi de aquisições.

Laidlaw foi uma das companhias mais queridas dos analistas financeiros, com grande visibilidade nos fundos de investimento. Aos primeiros sinais de complicações alguns analistas soaram o alarme e alteraram as recomendações de comprar para vender. Nem todos os investidores perderam a fé em Laidlaw e aqueles que continuaram investidos na companhia acabaram por ver o valor das suas pastas de investimento reduzido significantemente.

Isto faz-nos chegar ao ponto com que iniciamos este artigo. Quando se tem acções duma companhia esta tem que ser seguida atentamente. Meios de informação não faltam. Desde o conselho dos especialistas, como leitura de orgãos financeiros.

Newsletters de investimento falam muito em comprar, mas raramente em vender. É importante que não se ignore quando vender. O desejável seria investir em acções duma companhia e nunca mais nos preocuparmos com o investimento. Mas isso hoje em dia é impossível.

Nos Estados Unidos temos o caso de Emron. Há um ano atrás acções da companhia eram negociadas a 80 dólares americanos e a conceituada revista Fortuna incluíu-a no grupo cimeiro das maiores companhias do país. Agora Emron está tecnicamente em bancarrota e recorreu aos tribunais para protecção contra os credores. É o maior caso de bancarrota duma companhia pública nos Estados Unidos. Esta era uma empresa admirada pela seu espírito inovativo e foi a sétima maior americana em termos de receitas. Investidores ficaram queimados; empregados perderam o trabalho e nalguns casos, pior, perderam o dinheiro que tinham investido na empresa, alguns até em planos de reforma.

O vice-presidente dos Estados Unidos foi director de Enron e a companhia uma das maiores contribuintes para a campanha eleitoral do actual presidente Bush. Ao que parece a companhia exagerou receitas nos livros contabilísticos e pode ser levada a tribunal por credores.

Candidatos a investidores na bolsa podem seguir companhias por longo tempo sem tomar nenhuma acção... mais vale perder uma oportunidade de ganhar do que perder dinheiro. Oportunidades aparecem sempre, mas o dinheiro perdido jamais reaparece.

PREVISÕES PARA 2002

O ano de 2001 não foi um ano de boas recordações para investidores da bolsa. Ele marcou a entrada da economia numa recessão.

Enquanto a bolsa desceu houve, no entanto, um grupo que foi contra a tendência geral de baixa. Com distribuições a andaram à volta de 10% Real Estate Investment Trusts, os conhecidos REITS, constituíram a excepção à má actuação do mercado. Entre eles dois salientaram-se: primeiro foi RioCan que iniciou a subida acabando o ano a $12.13 ($8.80 no fim de 2000) e mais tarde Summit, cujas unidades eram negociadas a $10.80 no fim de 2000 e chegaram a $15.10 no fim de 2001.

Imobiliário parece constituir a tábua de salvação para aqueles apreensivos acerca do futuro do mercado.

Entendidos estão divididos sobre as perspectivas do mercado para o corrente ano. Dependendo com quem se fala, uns pensam que o pior já passou, outros que a borrasca continuará.

Os que pensam positivamente argumentam que a descida dos juros estimulam a compra de carros, casas e electrodomésticos e que a economia está a crescer de novo. Problemas que existem já estão reflectidos no mercado e que há grandes diferenças entre esta recessão e a dos princípios dos anos 90. Não só os juros bancários estão baixos como o óleo e o gás estão igualmente a preços baixos; estes são estímulos suficientes para uma recuperação.

Pessimistas pensam que a descida é apenas o começo duma longa queda e recomendam vender em subidas temporárias. Para estes nem os próprios bancos são atractivos. Com uma recessão há sempre empréstimos que não são pagos e o Enron fiasco sugere que haverá mais surpresas no saco.

ÓLEO

A indústria petrolífera é uma das mais importantes do Canadá. Variações de preço do óleo afectam a economia do país. Por isso não é de admirar que investidores sigam atentamente o que se passa nesta área.

Opec, a organização de produtores de óleo, tenta fazer o melhor para controlar o preço do produto. Com o preço do óleo a baixar, sendo negociado a menos de $20.00 o barril recentemente, Mr. Rodriguez, o mexicano e Secretário Geral da Opec reafirmou o objectivo da organização em estabilização de preço do produto. Para o ministro do óleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, os limites razoáveis do preço do óleo, nas actuais circunstâncias económicas, seriam entre $20 and $25".

Em Novembro, Opec concordou em reduções, mas após a decisão de alguns não-Opec membros de não aderirem ao plano (mas beneficiarem dele) ameaçou cancelar a decisão. Durante 2001 a organização reduziu voluntariamente produção em 3 milhões e meio de barris por dia e viu a sua quota de produção mundial reduzida em cinco por cento, de 40 para 35 por cento.

Opec concordou em reduzir a produção de óleo em um milhão e meio de barris por ano, ou seja 6,5 da sua produção diária, mas só após difícil negociações. Estas quotas entraram em vigor no dia 1 de Janeiro.

Produtores independentes inicialmente resistiram à chamada, mas confrontados pela decisão da Opec de guerra aberta e, no caso de não concordância, a organização inundar o mercado com óleo, concordaram. Rússia, a desmancha prazeres, finalmente alinhou. Além da antiga república soviética os outros produtores independentes são Noruega, México, Oman e Angola. O grupo concordou em reduzir as exportações em 462,500 b/d, removendo o último obstáculo para o acordo. A próxima reunião da organização será em Março, ocasião em que fará uma avaliação da situação.

Novas fontes de energia não são fáceis de encontrar e se o preço do óleo baixa prospecção e exploração são igualmente reduzidas. Novas áreas a explorar serão os grandes depósitos na Ásia, como por exemplo à volta do Mar Cáspio.

Investidores têm mostrado grande interesse em substitutos de combustíveis e em companhias estudando diferentes formas de energia e alternativas ao petróleo. Isto é uma área ainda na sua infância e possivelmente algumas das tentativas serão abandonadas.

Existem alternativas ao uso de gasolina e gasóleo. Cada uma tem vantagens e desvantagens em relação às fontes de energia petrolífera.

ENERGIA SOLAR - Vantagens: infinitamente renovável, não emissões (poluição). Desvantagens: pouca capacidade (força), dependente do tempo.

FUEL CELL - Uso de energia eléctrica sem a necessidade de recarga eléctrica. Vantagens: uma distância maior de viagem do que outros veículos movidos a electricidade, poluição mínima. Desvantagens: igualmente dependência em combustível fósseis para produção de hidrogénio.

ETANOL - ÁLCOOL - Vantagens: energia renovável. Dependente da forma de produção, mais ou menos poluição. Desvantagem: menos potência do que motores a gasolina.

METANOL - Produzido a partir de gás natural e carvão.Vantagens: grande força energética, menos poluição do que gasolina. Desvantagem: emissões tóxicas, tal como gasolina ou gasóleo.

GÁS - Gás debaixo de grande pressão. Vantagens: baixo custo, combustão sem poluição. Desvantagens: existência limitada; baixa energia, raio de acção limitado; abastecimento para depósitos mais complicado. Perigo de explosão em caso de colisão, devido a grande compressão.

ÓLEO DE CANOULA - Vantagens: renovável produção, emissões não poluentes, energia igual a gasóleo. Desvantagens: cheiro como óleo de comida queimada, dificuldade em trabalhar a temperaturas abaixo de 15 graus negativos centígrados.

USO DO VENTO - Vantagem: Absolutamente limpa. Desvantagem: se não há vento não há energia (esta forma de energia não se pode aplicar para transportes).

Apesar destas ameaças à indústria petrolífera muitos analistas são bastante positivos em relação ao óleo. Para eles óleo e gás natural alcançarão, de novo, preços elevados dentro de dois anos.

Energia é essencial para o crescimento económico. Quanto maior o crescimento maior as exigências de combustível.

A favor da produção de gás e óleo é de que estamos a chegar aos limites de produção. Se bem que novas fontes de produção comecem a ser exploradas, outras fontes estão a esgotar-se. Arábia Saudita tem reservas de cerca de 260 biliões de barris de óleo, Iraque de 110 biliões. Problemas nesses países podem ocasionar o aumento de custo do óleo.

Como os acontecimentos dos últimos tempos revelaram, volatilidade faz parte deste sector da economia. Investidores em gás e óleo deverão estar preparados para as inevitáveis subidas e descidas.

(Preparado: Janeiro de 2002).


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