ANO 7 .............................................. No. 37

MAIO - JUNHO - 2002 ............. Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Este número do Boletim é um pouco diferente dos habituais. Nele não estudaremos nenhuma companhia pública para investimento. Apesar de se dizer que o mercado está muito em baixo, aquelas que pensávamos apresentar estão, presentemente, a ser transaccionadas a preço elevado. Este é o caso de ENCANA, uma companhia canadiana da indústria do petróleo. A companhia tem todas as condições de um bom investimento a longo termo, mas gostaríamos de ver as acções a um preço mais baixo. Possivelmente falaremos dela num próximo número. Apenas LAURENTIAN BANK, o sétimo banco do Canadá (após Royal, CIBC, Montreal, Scotia, TD e National) é negociado a preço razoável. Iremos seguir esta companhia mais atentamente. Laurentian aumentou as provisões para débitos duvidosos de 10 para 80 milhões de dólares (especialmente devido a problemas com Teleglobe). Assim que finalizem as negociações com sindicatos, a decorrerem na presença dum medianeiro, é um candidato para ver o preço das suas acções subir a curto prazo.

COMENTÁRIO

Após um período em que se afirmou que tínhamos saído da recessão outros problemas, ou perceptíveis problemas, se levantaram: lucros e questões com manipulação de resultados financeiros. Isto aumentou as munições daqueles que acreditam que o mercado continua alto, mais dispendioso do que o seu valor intrínseco.

No entanto o sentimento prevalecente entre a comunidade financeira é de que o mercado, mais tarde ou mais cedo, irá começar a subir. Atenção deve ser dada pois aos dois lados da discussão. Ambos os campos fornecem argumentos de peso e pormenores relevantes.

O artigo abaixo sobre Thomson é uma evidência desta incompatibilidade de opiniões.

THE THOMSON CORP.

Thomson é uma das companhias públicas mais importantes do Canadá. Noutros tempos envolvida em jornais e turismo sofreu grandes transformações nos últimos anos. Agora a sua actividade principal é o fornecimento de informação electrónica, financeira, de saúde e legal. Com a base de operações a partir de Stamford, no estado de Connecticut, nos Estados Unidos, apresenta os seus resultados em dólares americanos. A companhia é grande mas ambiciona tornar-se ainda maior. Pretende fazer uma oferta pública de acções no valor de 1.5 bilião de dólares no fim deste ano. Adivinha-se que pretende competir directamente com Reuters e Blomberg.

Acabámos de receber, praticamente ao mesmo tempo, duas revistas, uma canadiana e outra americana. A canadiana, Investor's Digest, é exclusivamente dedicada a recomendações sobre investimentos; a americana, BusinessWeek, abrange uma área mais vasta. Esta é igualmente de grande interesse para quem segue investimentos nas bolsas americanas e oferece grande variedade de assuntos em estilo de reportagem. Qualquer das duas proporciona leitura de grande interesse. Por coincidência ambas trazem artigos sobre Thomsom.

Investor’s Digest é, possivelmente, a melhor publicação canadiana dirigida ao investidor individual. Investidores usam a revista como fonte de informação para a compra e venda de acções.

Entre a variedade de análises e recomendações, ela dedica uma página para entrevistar personalidades do mundo de investimento. No número que acabámos de receber, o entrevistado é Phil Taller, que através da sua companhia de administração de investimentos contribui para a escolha de investimentos de Mackenzie’s Universal Canadian Fund. Este fundo tem tido excelente actuação. Para o período anual que terminou em Março deste ano ganhou mais de 12% comparado com o índice da sua categoria que aumentou menos de 5%.

Entre as companhias escolhidas por Mr. Taller para o porte fólio do fundo figura Thomson. Na sua opinião Thomson foi caro por algum tempo, mas não o é presentemente. Após uma série de aquisições, a companhia está a integrar e consolidar os seus serviços. Devido a ter investido bastante em tecnologia a companhia tem agora possibilidade de reduzir as despesas de capital em relação a percentagens de vendas. Na sua opinião, com rácios mais favoráveis, Thomson deve ainda aumentar o cash flow.

Na revista americana, numa página dedicada a Thomson, a opinião do jornalista sobre a companhia não é tão favorável. Para este, Thomson é uma companhia bem administrada, mas com acções transaccionadas a um preço elevado. Tem um P/E de 34 e um débito de 4.4 biliões de dólares. No ano passado os lucros da companhia foram 657 milhões de dólares ($1.05 por acção) e segunda a opinião do jornalista lucros para este ano deverão ser os mesmos.

Para BusinessWeek a companhia confronta ainda os problemas inerentes a companhias que oferecem informação. Desde o aparecimento da Internet tornou-se mais fácil a entrada de novas empresas neste tipo de serviços.

Duas fontes de informação dignas de confiança, mas opiniões contraditórias. Pessoalmente, estamos mais inclinados a concordar com BusinessWeek. Apesar da capacidade dos administradores de Thomson consideramos as acções da companhia caras e reconhecemos que a competição nesta área de negócio é severa e só pode aumentar.

SORRISO FINANCEIRO

NORTEL NETWORKS

Em Outubro de 2000 Jim e John, ambos empregados da Nortel Networks, receberam um bónus de $1000. Jim sendo um indivíduo financeiramente consciencioso usou o dinheiro para comprar acções da companhia. A $63.25 por acção ele adquiriu 15 acções. Com o preço das acções a subir Jim sentiu-se satisfeito com a sua decisão.

John, despreocupado, foi a uma loja de cerveja e comprou 34 caixas de cerveja. A 24 cervejas por caixa ele ficou com um total de 816 garrafas de cerveja. A beber 15 cervejas por semana teria fornecimento para o ano inteiro. Jim criticou-o asperamente.

Seis meses mais tarde, apesar das acções da Nortel estarem a baixar, Jim mantinha a sua fé intacta. Olhando para as cervejas de John, já reduzidas a metade, disse: - Em seis meses as tuas cervejas desaparecerão e quem sabe quanto as minhas acções irão valer...

O verão acabou e Nortel continuava em dificuldades. Ambos, John e Jim, perderam o emprego.

Jim, com falta de dinheiro, vendeu as acções, agora negociadas a $5.40, recebendo $81.00. Nesse dia decidiu visitar John. Este recebeu-o bem como de costume. Haviam ainda duas garrafas com cerveja. John decidiu compartilha-las com Jim. Este aceitou a oferta mas sentiu-se um pouco culpado. Mas não deixou de dizer a John: -Apesar de tudo tenho ainda $81.00.

-Tens razão, disse-lhe o amigo. A propósito ajuda-me a pôr as garrafas vazias nos cartões para as devolver.

Com as garrafas vazias nos cartões foram à loja da cerveja para as devolver. John foi a um balcão, onde as deixou, e a outro para receber o dinheiro do depósito.

-34 caixas vezes 24 garrafas a dez cêntimos por garrafa faz $81.60, disse o empregado, dando o dinheiro a John.

Jim perdeu a fala... Como é que o leitor se sentiria ao descobrir que o seu investimento de $1,000 dólares se tinha transformado em $81.00 e que usando os mesmos $1,000 dólares comprando cerveja, bebendo-as o ano inteiro, mais tarde teria os mesmos $81.00... mais 60 cêntimos?

DÓLAR CANADIANO

Um canadiano foi de férias para o México. Sendo casado e aproveitando a oportunidade de estar sozinho decidiu visitar uma casa de má reputação. Perante as mulheres apresentadas, aproximou-se de uma delas e disse-lhe qualquer coisa ao ouvido ao que a rapariga se levantou rapidamente gritando: -Não!

A Madame achou estranho a recusa da pequena, mas como há clientes que têm gostos estranhos disse a outra rapariga, Lolita, para ir atender o cliente. Esta foi e após uma pequena conversa entre os dois Lolita levantou-se precipitadamente gritando: -Não!.

A Madame estava surpreendida. Que pedido extraordinário teria feito aquele cliente? Mas para grandes males grandes remédios. Aproximou-se de Pilar e disse-lhe para ir atender o cliente. Pilar, mais conhecida como Pilar dos brincos, por jamais tirar os enormes brincos das orelhas, era conhecida por jamais recusar pedidos dos clientes por mais extravagantes que esses fossem.

O cliente e Pilar falaram por momentos. Numa ocasião o canadiano chegou-se mais à pequena e disse-lhe qualquer coisa ao ouvido ao que Pilar se levantou e gritou: -Jamais!

Verdadeiramente surpreendida a Madame aproximou-se de Pilar e perguntou-lhe: -Pilar o que é que ele te disse que fosse tão ofensivo?

Ao que Pilar respondeu: -Ele perguntou-me se podia pagar com dólares canadianos.

ENRON & ANDERSON

O director executivo da empresa precisava de contratar um gerente para o departamento financeiro e escolheu três candidatos para uma entrevista pessoal: um matemático, um economista e um contabilista.

Primeiro chamou o matemático e perguntou-lhe: -Quantos são dois e dois? O matemático respondeu: -Quatro.

Depois chamou o economista e fez-lhe a mesma pergunta. O economista respondeu: -Isso depende.

Em seguida chamou o contabilista e fez-lhe a mesma pergunta. O contabilista, olhou à volta, foi à porta, fechou-a, correu a persianas e voltando-se para o director executivo, respondeu:

-Quanto é que quer que seja?

(Anedotas encontradas na Internet)

OPÇÕES

A discussão sobre opções e outras formas de compensação para dirigentes e empregados de companhias públicas estão na ordem do dia. Após os recentes escândalos contabilísticos, a divulgação de aumentos de compensação financeira para os gestores de empresa, na maioria dos casos através do exercício de opções, continua a criar controvérsia. Enquanto, em muitos casos, lucros e preço de acções de companhias públicas estão a baixar, compensações a directores e executivos continuam a aumentar.

Nos Estados Unidos, o Congresso e entidades reguladores de actividades financeiras estão a discutir seriamente a possibilidade de alterar certas normas no que respeita à visibilidade (ou falta dela) de opções nos relatórios financeiros.

Opções, como compensação, ao contrário de outras responsabilidades da empresa, não são mostradas nos resultados financeiros das firmas. Ao estudarmos os balanços contabilísticos duma companhia a possibilidade dela emitir mais acções, resultando numa diluição no valor das acções, e consequentemente redução de lucros por acção, não é visível nos resultados financeiros. Apenas as notas suplementares, que acompanham relatórios financeiros, fornecem tal informação.

Para accionistas o problema é que o exercício de opções, e a emissão de mais acções, provoca uma diluição imediata. Cada opção exercida reduz o valor das restantes acções emitidas. Pior ainda, em certas circunstâncias, quando os preços das acções se mantêm baixos, há uma tendência para fazer repricing. Para contrabalançar a baixa, o preço a que as opções podem ser convertidas desce igualmente. Insiders têm agora a oportunidade de comprar acções a um custo menor do que o anterior. Accionistas não têm tal protecção para um mau mercado.

Como se processam Stock Options? Um exemplo: a companhia oferece aos seus executivos, ou empregados, o direito a exercer opções a $25 dólares durante um período (limite de tempo). Se, por exemplo, as acções estão a ser transaccionadas a $55 dólares eles compram-nas e podem vende-las a seguir, com um ganho imediato de $30 dólares.

É certo que companhias podem evitar a diluição se decidirem compra-las no mercado livre. Neste caso há uma despesa cash. Na pior das circunstâncias, supondo que as acções são transaccionadas a $55 dólares, a companhia compra-as a esse preço e a seguir vende-as aos empregados por $25.

Uma solução proposta para dar visibilidade a opções é de apresenta-las como despesas futuras nos balanços financeiros, o que na verdade elas são, quer novas acções sejam emitidas (o normal), quer sejam compradas no mercado público.

Para confrontar a situação presente o Congresso dos Estados Unidos e o Accounting Standards Board (o regulador mundial da indústria) estão a fazer planos para mostrar opções nos resultados financeiros das firmas.

Certamente que não é alheio a esta reacção das entidades reguladoras e de investidores as verbas extravagantes com que executivos de empresas têm sido recompensados, quer as companhias tenham lucros quer não. Alguns exemplos abaixo.

Os directores de Enron ganharam milhões de dólares ao exercerem opções e vendendo as acções enquanto os empregados que investiram em planos de reforma da companhia perderam os seus investimentos.

Gary Winnick, Presidente de Global Crossing, que vendeu acções da companhia no valor de $734 milhões de dólares americanos pouco antes do colapso da empresa.

Cisco Systems teve um prejuízo de $1 bilião de dólares em 2001, mas o seu CEO recebeu opções no valor de $121 milhões.

No Canadá o maior escândalo foi o da Nortel Networks onde John Roth, a CEO da companhia, ganhou $130 milhões de dólares em consequência de opções exercidas no ano 2000, enquanto todos sabemos o que aconteceu depois à companhia, cujo valor das acções desceu até 97%.

Recentemente Jozef Straus, de JDS UNIPHASE recebeu em compensação financeira $150 milhões US e Gerald Schwartz, CEO de ONEX, ganhou $32 milhões.

Além destes muitos outros exemplos existem de verbas exageradas pagas a executivos de companhias.

(Preparado em Maio 2002)

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