ANO 8 .............................................. No. 41

JANEIRO - FEVEREIRO - 2003 ......... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Este é o primeiro BOLETIM de 2003 e com ele entramos no oitavo ano de publicação. Este número sai atrasado (na segunda metade de Janeiro), mas o próximo sairá impreterivelmente no primeiro dia de Março.

O ano que passou não foi favorável a investidores. Muitos perderam dinheiro e, pior ainda, perderam confiança nos mercados financeiros. Dúvidas acerca da integridade de companhias públicas existem. Com frequência aparecem notícias sobre escândalos financeiros e manipulações, quando não falsificações, contabilísticas.

Nunca é demais insistir para aqueles que pensam investir na bolsa para tomar as necessárias precauções. Em caso de dúvida é preferível perder uma oportunidade do que perder dinheiro.

COMENTÁRIO

Somos dos que acreditam que o mercado de propriedades é, a longo termo, um dos que produzem maiores lucros. As grandes fortunas no Canadá, e de outros países, têm sido feitas através de imobiliário. Mas, tal como qualquer sector da economia, imobiliário está igualmente sujeito a volatilidade.

Numa entrevista concedida a um jornal canadiano, um dos mais conhecidos administradores de firmas de investimento emitiu um parecer fortemente negativo acerca do sector. Na sua opinião, o mercado de propriedades está sujeito a uma das maiores quedas de sempre. Segundo ele, a maior desde os anos 30, ultrapassando aquela que ocorreu nos fins dos anos 80, princípios dos 90.

Construção habitacional e indústria automobilistica têm sido as únicas indústrias em crescimento. Ambas têm estimulado a economia canadiana.

Mesmo com o custo da habitação a atingir preços exorbitantes, compensado parcialmente por hipotecas a juros baixos, a procura de casas tem sido elevada, estimulando a sua construção. O mesmo tem acontecido no sector de produção automobilística. A venda de carros novos tem sido elevada. Com financiamento a zero por cento nos primeiros anos quem pensava comprar carro novo num futuro próximo está a fazê-lo agora.

Como o sector de construção é aquele que está mais a estimular a economia canadiana uma quebra do mesmo significa problemas para outros sectores e aumento de desemprego. Para muitos, pagar uma hipoteca será difícil, se não impossível. A indústria automobilística sofrerá igualmente uma baixa de produção.

Companhias fornecedoras de materiais de construção serão afectadas, tal como companhias que fornecem peças para a indústria automobilística.

Recentemente num reunião de accionistas de Tesma International, uma companhia fornecedora de peças para automóveis, o CEO afirmou que não compreendia porque é que as acções da companhia estavam a um preço tão baixo, não reflectindo o seu verdadeiro valor.

Quebra na procura de habitação, provavelmente mesmo descida em preços, é muito provável. Mas pensamos que a queda não será tão dramática como o conhecido financeiro prognosticou.

Quanto a uma recuperação do mercado? Alguns analistas e administradores de fundos pensam que ela ocorrerá, mas não há unanimidade nesta ideia. Se assim acontecer a recuperação será guiada por bancos. Bancos, mesmo com as percas nos Telecoms e América latina, têm uma base sólida de capital, receitas constantes e previsíveis, baixos P/E e dividendos atractivos.

RESUMO DE 2002

2002 foi mais um ano difícil para investidores. Escândalos com corporações americanas, ameaça do alargamento do conflito na Médio Oriente, problemas na Venezuela. Se não chegassem já estas dores de cabeça, inflação surgiu no horizonte. Em Novembro o CPI (consumer price index) saltou para 4%.

Este foi o segundo ano de baixa para a bolsa de Toronto. Enquanto o índice S&P/TSX baixou 14% o americano Dow Jones Industrial Average desceu ainda mais, 16.8%. Um ano para esquecer.

Dois sectores que foram excepção à regra - o do ouro e o do óleo. O índice de ouro subiu 42%, seguido pelo índice de energia, este ajudado pelo aumento em preços de óleo e de gás. No lado negativo, o índices de serviços de saúde, com uma descida de 33% e de tecnologia e informática, com uma baixa de 59%.

Juros estiveram baixos (os mais baixos dos últimos 40 anos). No fim do ano apareceram os primeiros sinais de inflação. Se esta se mantiver uma subida de juros será inevitável.

O fim de Dezembro chegou com investidores a continuarem a desfazer-se de Mutual Funds (Fundos de Investimento), uma tendência que começou em Abril. Apenas nos três primeiros meses do ano vendas superaram redenções. Fundos de acções foram aqueles que tiveram um número maior de redenções. (Mais sobre fundos de investimento no próximo número).

O ouro fechou o ano a $347.75 (US), comparado com $278.00 (US) no fim de 2001, o preço mais elevado dos últimos seis anos, e entrou Janeiro em subida. O euro, o franco suiço e o iene começaram a ser mais procurados do que os dólares americanos.

Escândalos financeiros provocaram uma chamada às armas das comissões reguladoras de diversos governos. Reguladores de contabilidade no Canadá, Estados Unidos e de outros países começaram a trabalhar nos relatórios de Contabilidade e o que se tem que exigir às companhias para que eles sejam mais transparentes (um termo muito em voga actualmente).

Investment Trusts tiveram boa actuação e adquiriram ainda mais visibilidade especialmente devido ao facto do resto do mercado ter uma actuação desastrosa. O índice do Scotia Capital Income Trust mostrou um aumento de 9% ao fim do ano. Aproveitando a boa actuação e a aceitação do público por esta forma de investimento cerca de 40 novos trusts foram criados em 2002 e, surpreendentemente constituíram 86% dos IPOs (novas ofertas de títulos) e já temos inúmeros trusts que apenas investem noutros trusts.

Com mais de 150 trusts no mercado o panorama é diferente daquele do passado em que apenas existiam trusts em óleo, gás e imobiliário. Muitos dos recém-chegados não têm perspectivas favoráveis e apenas se aproveitam dos desejos do público para income. Recentemente foi criado um trust cujas distribuições foram imediatas, mas que consistiram apenas parte do capital investido. É de esperar uma reduções de lucros (e distribuições) nalguns dos trusts e isto enquanto houver lucros.

PREVISÕES PARA 2003

O ano de 2002, que não foi de boas recordações para investidores da bolsa, marcou o começo duma recessão económica. Apenas no último trimestre o mercado canadiano exibiu certos sinais de vida. Ao entrarmos em 2003 alguns analistas esperam que a tendência de subida se mantenha, mas incertezas sobre o Iraque não constituem bom presságio.

Segundo economistas a recuperação económica mundial é muito fraca. No entanto para o Canadá as perspectivas são mais encorajadoras. A economia do país crescerá mais do que as dos competidores.

Sugestões para redução de impostos nos Estados Unidos podem ter implicações no Canadá. Dividendos estão sujeitos a impostos nas companhias, como lucro, e novamente quando são recebidos por investidores. Há uma grande pressão para eliminar esta anomalia. Igualmente a administração americana propõe-se reduzir ganhos de capital.

As previsões para o ano são de que o preço do ouro e outros metais continuarão a ser influenciadas por acontecimentos económicos, políticos e militares. Com notícias de conflitos militares no horizonte, escândalos, etc. o interesse pelo ouro renasceu. Alguns projectos (exploração de minas) no Canadá, Chile, União Sul Africana e noutros países, abandonados no passado por não serem comercialmente viáveis, estão agora a ser reabertos.

Existem também sugestões de que o dólar americano está destinado a uma queda dramática, tal como a que aconteceu durante os anos de 1970. Deficit, balança de pagamentos desfavorável e o débito do país suportam esta teoria.

A fraqueza do dólar americano constitui um impulso adicional para a subida de preço do ouro. Segundo Nicklaus Blattner, um economista e antigo membro da associação dos Bancos Suíços, o ouro está a assumir a posição de investimento seguro. Segundo ele, com as tensões políticas mundiais a aumentarem o preço do ouro pode subir ainda mais.

Devido à queda de preços das acções alguns analistas afirmam que o mercado tornou-se agora atractivo. Segundo a nossa opinião, a relação entre preços de acções e lucros continua a ser uma preocupação.

Quando os entendidos afirmam que, a longo termo, a tendência dos mercados é de subir concordamos. Mas quando é que isso irá acontecer? O que constituiria um puxão na economia e na bolsa seria o desanuviamento da situação internacional. Mas com o Presidente dos Estados Unidos obcecado com o Iraque (as maiores reservas de óleo após a Arábia Saudita) as perspectivas de paz na região não são animadoras.

Investment trusts continuarão a ter boa actuação neste ano, mas as yields serão certamente menores do que têm sido no passado.

Há os descrentes que afirmam que investment trusts são maus investimentos, pois que abandonam crescimento em favor de distribuição de lucros. Mas olhemos para o panorama financeiro. Com investiment trusts pelo menos estamos a receber alguma retribuição. Quantas vezes ao investir em companhias de crescimento constatamos que o preço da acções se mantêm o mesmo ano após ano, quando não baixa...

Instituições tendem a não investir em trusts. Há uma preocupação de que investidores podem ser responsáveis no caso de problemas financeiros ou jurídicos.

Uma final observação para aqueles que, apesar das nuvens negras, intentem investir na bolsa - considerem companhias que dêem dividendos, com finanças fortes e boa administração. Para aqueles que pensam que o mercado irá subir exchange traded funds (falaremos de um no próximo número) e index funds constituem uma opção.

RECOMENDAçÕES

METHANEX (MX-TSX)

Ted Whitehead, administrador de fundos com Elliott & Page gosta de Methanex. A companhia (de capitalização média) é a maior produtora mundial de metanol, produzindo cerca de um quarto da produção mundial.

Acções de Methanex têm sido negociadas entre $14.00 e $7.00 nos últimos doze meses. Presentemente no valor alto.

RIOCAN REAL ESTATE INVESTMENT TRUST (REI.UN-TSX)

Bruce Campbell, um analista, recomenda RioCan aos seus clientes. RioCan é o maior REIT do Canadá em termos de capitalização, com propriedades nas diferentes províncias do país. Distribuições têm sido consistentes.

HIGH RIVER GOLD (HRG-TSX)

J. Taylor em Gold and Tecnology Stocks, de Nova Iorque considera esta companhia extraordinariamente undervalued. Além de produção no Canadá, High River tem também interesses na Rússia (daí a percepção de riscos) e em breve começará uma exploração em Burkina Faso.

COMPANHIAS PARA O NOVO ANO

Temos também as nossas preferências. Entre elas duas companhias, uma grande e outra pequena.

SUN LIFE FINANCIAL SERVICES OF CANADA INC. (SLF-TSX)

Sun Life é uma companhia canadiana envolvida na área de seguros e outros serviços financeiros. Constituída em 1871, a companhia foi demutualizada em Março de 2000 passando a ser uma companhia pública. Além do Canadá a companhia, através de subsidiárias, tem operações nos Estados Unidos, Reino Unido, Hong Kong, Filipinas, Japão, Índia, China, Indonésia e Bermudas.

Alterações demográficas (envelhecimento da população) favorecem a companhia.

Acções têm sido negociadas entre $23.83 e $35.80, recentemente à volta de $27.00. Uma baixa no preço constitui uma boa oportunidade para compra.

TAYLOR NGL LIMITED PARTNERSHIP (TAY.UN-TSX)

Taylor é uma companhia envolvida no processamento de gás natural oferecendo aos investidores distribuições trimestrais.

Com fábrica em Taylor, Colômbia Britânica, a companhia extrai etanol, propano e butano de gás natural.

As instalações estão estrategicamente localizadas tendo intercomunicação com três sistemas de condutas, os de Westcoast, Williams Energy Stoddart e Alliance.

A companhia deve ter actuação monótona mas oferece consistência e previsibilidade nas distribuições.

(Preparado em Janeiro de 2003)

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