ANO 8 .............................................. No. 43

MAIO - JUNHO - 2003 ............... Director: Álvaro Trigo


INTRODUÇÃO

Este número do BOLETIM sai atrasado, em meados de Maio. O próximo sairá adiantado, nos princípios de Junho.

Sem sinais concretos de melhoramento no mercado, investidores continuam indecisos quanto a investir na bolsa. Existem alguns optimistas, proclamando que o pior já passou. O governador do Banco do Canadá é um deles, quando prevê uma atmosfera de estabilidade fiscal e a continuação de inflação baixa o que, na sua opinião, contribuirá para um aumento de lucros para empresas e de ordenados para trabalhadores.

A contrabalançar um optimismo limitado sobre a economia do Canadá, não tem havido falta de notícias negativas. Se estas não bastassem um novo problema afligiu o Ontário recentemente - S.A.R.S., a dita pneumonia atípica.

As despesas do governo da província do Ontário aumentam a uma cadência não prevista no orçamento público. Custos resultantes do desregulamento da electricidade aliam-se a outros encargos. É no entanto o sector da saúde o mais afectado.Primeiro a pneumonia atípica, já debaixo de controle e em abatimento, agora começam as despesas inerentes a medidas de prevenção contra o vírus do West Nile. Tudo isto põe grande pressão nas finanças do Ontário e será difícil para o governo manter as despesas dentro dos limites do orçamento da província.

COMENTÁRIO

Com uma frequência cada vez maior lemos nos jornais da especialidade que os melhores investimentos no momento presente são aqueles que dão dividendos. Isto especialmente devido ao ambiente de incerteza que prevalece na bolsa.

Distribuição de dividendos actua como compensação para descidas de preços das próprias acções. E quando dividendos aumentam ano após ano, as vantagens são ainda mais evidentes. Uma teoria, com que concordamos, sustenta que é mais importante ter um dividendo que aumente consistentemente, se bem que menor, do que ter um mais elevado mas que nunca aumente.

Uma companhia que parece atraente para investidores é TransAlta Corporation. A companhia tem uma yield elevada, 5.8 porcento. Mas após uma análise aos resultados financeiros e às perspectivas da indústria, TransAlta já não parece tão atraente.

A possibilidade dum aumento de dividendo nestes tempos mais próximos não são favoráveis. Mais importante é que praticament e a totalidade dos lucros é distribuída aos accionistas. Desejável seria ter dividendos à volta de metade dos lucros e dividendos e lucros aumentarem consistentemente ano após ano.

A firma UBS Warburg preparou um estudo em que prevê que uma companhia como o Banco de Montreal oferece excelentes perspectivas com respeito a dividendos. Embora com uma yield relativamente baixa em relação a outras companhias, apenas 3.3 porcento, dividendos têm aumentado consistentemente e UBS Warburg prevê que eles continuem a aumentar 10 porcento anualmente.

Outra companhia que oferece boas perspectivas quanto a aumento de dividendos é Investors Group Inc. Dividendos têm aumentado anualmente. A companhia é a maior de venda de fundos de investimento. Se nas condições presentes (mais dinheiro a sair de mutual fundos do que a entrar) Investors Group tem tido boa actuação, num mercado mais favorável, terá uma ainda melhor e deverá continuar a aumentar os dividendos.

Tal como mutual funds, closed-end funds têm acções de diferentes companhias nas suas pastas de investimento. Uma das diferenças é que estes têm um número fixo de acções (outstanding shares) que são negociadas nas bolsas tal como acções de companhias públicas.

Outra diferença: acções de closed-end funds são negociados ineficientemente, quer isto dizer que os seus preços não correspondem ao valor das acções dos seus porta-fólios. Elas são geralmente negociadas a desconto. Se o NAV (net asset value) dum closed-end fund é $10.00 e as acções são negociadas a $7.50, o fundo é negociado a 25 porcento desconto. Numa melhoria da bolsa este tipo de investimento deverá ter melhor actuação do que o mercado em geral. Se dois fundos de investimento, um mutual (open) e outro closed-end tiverem acções das mesmas companhias e nas mesmas proporções (isto é: um ser um espelho do outro) dividendos recebidos dos respectivos porta-fólios serão os mesmos, mas no closed-end fundo, eles representam uma yield mais elevada, devido ao valor mais baixo das acções.

AVIAÇÃO

Desde o aparecimento da aviação comercial cada país que se prezava tinha que ter a sua companhia de aviação. Se não eram companhias privadas, governos tomavam a peito a sua criação e manutenção. Mesmo países com pouca capacidade económica tinham que ter uma companhia nacional. Se não tivessem poder financeiro para o fazer aliavam-se a países vizinhos e estabeleciam uma companhia regional.

Com a onda de privatizações a que assistimos nos últimos anos, governos começaram a desfazer-se dessas companhias e investidores passaram a ser os donos delas.

Mas os tempos não estão favoráveis para companhias de aviação. Nunca o foram no passado e continuam a não o ser no presente. A lista de companhias que aparecem e desaparecem não tem fim.

Prejuízos sistemáticos da indústria não constituem novidade. Com raras excepções, quer como empresas do governo quer como companhias privadas, companhias de aviação dão prejuízos. A indústria confronta-se como muitos incertezas. O desejo de ter aviões no ar para manter mercado mesmo quando isso resulta em prejuízo, ordenados elevados, enorme competição, incertezas com o custo de combustível, rendas elevadas nos aeroportos e um sem número de imprevistos torna quaisquer prognósticos sobre o futuro da indústria difícil se não impossível de fazer. Abaixo uma pequena apreciação da companhia nacional canadiana e duas importantes americanas, todas nas mesma situação de insolvência.

AIR CANADA

No primeiro de Abril a companhia entrou em bancarrota voluntária ao apelar aos tribunais para protecção contra credores debaixo de Companies’ Creditors Arrangement Act (CCAA). Ao mesmo tempo pediu o cancelamento dos contractos de salários assinados com os sindicatos.

A 10 de April num comunicado informou que, devido a ter apelado para proteção contra credores, todos os casos de arbitragem ou legais estavam suspensos até sair de bancarrota protecção.

Sindicatos não estão satisfeitos com as restrições e pedidos da companhia. Ao contrário das companhias dos Estados Unidos nas mesmas circunstâncias Air Canada não tem o mesmo poder das americanas para ditar salários e condições de trabalho.

Acções da Air Canada, aos mais baixos valores de sempre, continuam a ser transaccionadas. Especuladores estão activos a comprá-las. Nas circunstâncias presentes o seu valor é zero.

AMERICAN AIRLINES

Após ter recebido concessões dos empregados para uma reduções de salários na ordem dos 15 a 23 porcento, em Abril, foi revelado que a companhia tinha prometido bónus elevados aos seus executivos. Isso causou uma tempestade e grande irritação entre os funcionários e trabalhadores da American Airlines, forçando-a a pedir desculpa e cancelar os bónus.

Após a controvérsia o CEO da companhia, Carty, reconheceu que o antagonismo com os sindicatos não facilitava uma solução dos problemas com que a companhia se defrontava e demitiu-se. Foi sucedido por Gerard Arpey.

AMR Corp. (a companhia mãi) tem tido um enormes prejuízos desde 11 de Setembro de 2001 (em 2002 teve um prejuízo recorde de $3.5 biliões de dólares) isto apesar de ter empreendido numa dramática redução de custos. Empregados, credores e fornecedores todos concordaram em concessões e AMR emitirá três milhões de novas acções para pagamento de débito.

US AIRWAYS

A companhia continua a actuar debaixo de protecção dos credores - por outras palavras, em bancarrota.

Despedimentos de pessoal e aquele que se manteve com a companhia concordou com redução de ordenados e salários para facilitar a saída da companhia de bancarrota.

Novos contratos de trabalho foram submetidos ao tribunal de falência a 30 de Abril para aprovação. Desde pessoal de terra a pessoal técnico e instrutores todos viram os seus ordenados e salários reduzidos.

CONCLUSÃO

Companhias de aviação constituem um investimento arriscado. Se se aprende alguma coisa com as lições do passado, sucessos não duram muito. Boa actuação hoje, tal como a da companhia de desconto WestJet, da qual se fala muito e favoravelmente neste momento, pode não se manter por muito tempo. O panorama é similar por todo o lado. Quando uma companhia como Swissair entrou em bancarrota, nenhuma outra está livre de sofrer o mesmo destino.

PANORAMA DA BOLSA

Accionistas canadianos têm sido sempre tímidos quando presentes a reuniões anuais das companhias. Mas a pouco e pouco coisas estão a mudar.

Em reuniões recentes gestores têm sido questionados por investidores, especialmente sobre compensações financeiras elevadas e opções. Companhias mineiras têm um problema suplementar. Elas confrontam-se cada vez mais com protestos e queixas sobre poluição e destruição do meio ambiente. Duas dessas companhias são Placer Dome e Barrick Gold.

PLACER DOME INC.

Placer Dome tem actividades mineiras no Canadá, Estados Unidos, Chile, África do Sul, Austrália e Nova Guiné. Em termos de produção é a quinta maior companhia mundial.

A companhia apresentou um lucro recorde no primeiro trimestre de 2003 ($64 milhões de dólares US, ou 16 cêntimos por acção). Cash flow diminuiu. Custo elevado de energia e flutuações cambiais têm afectado lucros. Previsões para produção de ouro mantêm-se as mesmas: 3.5 milhões de onças anuais.

Mas nem todos accionistas aplaudem os resultados. Um filipino e uma accionista, representando uma região das Filipinas, tomaram a palavra na última reunião anual, descrevendo em termos dramáticos a poluição e destruição do meio ambiente resultante da exploração de um projecto que a companhia teve no país.

Placer Dome abandonou explorações nas Filipinas e ao sair passou um cheque a uma companhia local para resolver todas as disputas em questão e pagar indemnizações. Segundo o representante das populações locais essa companhia recusa-se a falar com os delegados das aldeias afectadas e até agora ninguém viu um cêntimo de compensação.

O filipino descreveu uma história de miséria e sofrimento, de envenenamento de águas e outros problemas afectando as populações da área da mina. A um ponto, altamente comovido, foi convidado a parar até se recompor. Mostrando uma emoção (sincera ou teatral) após ganhar a compostura ele continuou a descrição.

Este é um dos problemas que companhias mineiras se defrontam, quer trabalhem em países desenvolvidos quer em países subdesenvolvidos.

BARRICK GOLD

Barrick Gold é a terceira maior produtora mundial de ouro. A companhia teve igualmente a reunião anual dos accionistas recentemente.

Produção parece não estar longe das previsões. A companhia vendeu 5.8 milhões de onças de ouro em 2002 (6.3 milhões em 2001). Mas o preço das acções está em baixa.

Nos seus comentários Peter Munk, o presidente, reconheceu o problema e prometeu empreender em medidas para elevar o valor das acções.

Igualmente um accionista protestou sobre a extensiva escavação na área do lago Cowal, na Austrália (New South Wales), onde Barrick tenciona extrair ouro.

Segundo o accionista, lago Cowal está situado numa região sagrada para os aborígenes. Uma mina escavada à superfície na área e o uso de cianeto destruirá a área. Segundo ele, a actividade mineira no lago Cowal deverá ser suspensa pois que a área é rica em artefactos, alguns tão antigos como as pirâmides do Egipto e é um local sagrado para os Wiradjuri.

Eventualmente, com licenças do governo para prosseguir exploração no sitio o trabalho prosseguirá. Mas isto é uma amostra dos inúmeros problemas com que companhias mineiras se confrontam em numerosos países.

Além de minas não ser a nossa área de especialidade temos sempre reservas acerca da estabilidade deste tipo de investimento.

(Preparado em 15 de Maio de 2003)

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