ANO 8 .............................................. No. 45

SETEMBRO - OUTUBRO - 2003 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Finalmente o mercado norte-americano está em melhoria aparente (subida) e aqueles que crêem em sector rotação começam a interessar-se por companhias em indpústrias cíclicas. Após uma baixa prolongada do mercado e falsas recuperações há a esperança de que desta vez a subida é real.

Mas atrás dos bastidores não há falta de desincentivos para a recuperação falhar. Repare-se apenas como o desemprego está a aumentar tanto no Canadá como nos Estados Unidos. Enquanto o aumento de desemprego pode representar uma maior produtividade, indivíduos são consumidores e um desempregado consome apenas o imprescindível. Maior preocupação é o aumento do défice nos Estados Unidos. Com a dívida nacional a aumentar imensamente, se ela não for travada, mais tarde ou mais cedo o mercado irá sofrer as consequências desse esbanjar de fundos públicos.

COREL CORP

Corel Corp. foi adquirida por Vector Capital Corporation, uma empresa privada americana de “ventura capital”. Um grupo minoritário de accionistas tentou “travar” a transacção, mas foi impotente para a evitar.

Este grupo que se baptizou a si próprio de Corel Rescue objectou contra a oferta de $1.05 (US) por acção para 80% daquelas que Vector não possuía. Ele encontrou um mentor no Dr. James Chalmers, professor de matemáticas na Carleton University, que argumentou contra a venda de maneira convincente tanto na televisão (ROB TV) como na imprensa (Ottawa Citizen).

Segundo os críticos o preço oferecido pelas acções da companhia não corresponde ao valor das mesmas, agora que Corel mostra sinais de recuperação. Para o presidente da companhia a oferta feita por Vector era “fair” e tinha o apoio dos directores e de pequenos e grandes accionistas.

Enquanto o “takeover” exigia o suporte de dois terços dos votos lançados, o grupo Corel Rescue, representando à volta de dez milhões de acções), controlava apenas de dez por cento das acções emitidas (cerca de 93 milhões).

Na reunião especial de accionistas, na baixa de Toronto, o grupo de dissidentes fez circular informação entre os accionistas presentes. Na petição dizia que os gestores de Corel se encontravam na posição curiosa de apresentar a situação da companhia o pior possível. Dessa maneira a oferta de $1.05 US por acção era vantajosa para accionistas.

Segundo a informação circulada os relatórios financeiros de Corel mostravam um prejuízo de 5.6 milhões de dólares no púltimo segundo trimestre, o que representava uma melhoria em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (prejuízo de 6,3 milhões). Quando um analista financeiro tinha perguntado aos gestores qual o valor das indemnizações dadas aos empregados despedidos, que os directores tinham omitido, a resposta foi que essa despesa (extraordinária) tinha sido de 2.4 milhões. Excluindo tal despesa extraordinária o prejuízo de Corel para o trimestre fora apenas de 3.2 milhões, metade do prejuízo do ano anterior.

Outros argumentos foram apresentados contra a venda. Em resultado da decisão do Departamento de Justiça Norte-americano contra as práticas monopolísticas de Microsoft, esta não pode agora forçar vendedores de computadores (Dell, HP-Compaq, etc.) a pré-instalar produtos de produtividade - Microsoft Office. (Microsoft foi acusada de aumentar o preço do Windows sistema operativo a companhias de computadores que instalassem software de competidores). Como resultado Corel Office e World Perfect têm agora melhores perspectivas de penetração no mercado do que tinham anteriormente.

A situação financeira de Corel tem melhorado imenso e parece estranho que a gerência tenha tomado a atitude de “alinhar” com Vector. Corel tem 75 milhões de dólares (US) em cash e está à beira de apresentar lucro. Ao comprar as restantes acções de Corel por 98 milhões de dólares, Vector adquiriria também 75.5 milhões em cash. Assim usaria o próprio dinheiro de Corel para pagar pela transacção. Como Corel tem um défice (acumulação total de prejuízos através dos anos) de cerca de $318 milhões US, a companhia americana poderá usar esses prejuizos contra lucros passados e recuperar impostos pagos ao fisco. Para este grupo de investidores isto queria dizer que Vector iria adquirir Corel por menos de zero dólares.

AIR CANADA

Air Canada, que tem estado debaixo da protecção de tribunais desde o primeiro de Abril, continua em negociações com credores e possíveis investidores.

A companhia tem tido problemas sem fim. O 11 de Setembro de 2001, com a resultante baixa no uso de aviação. Depois veio: quebra no turismo, aumento de preço de combustível, pneumonia atípica e um caso de vacas loucas. Ultimamente a falta de luz no Ontário e em partes dos Estados Unidos obrigou a companhia a ter os aviões parados. Se as más notícias não bastassem, a 20 de Agosto, um vírus atacou os computadores de Air Canada obrigando o pessoal a fazer lançamentos manuais. Que mais pode acontecer à infeliz companhia?

No passado, Air Canada foi considerada uma boa companhia, recomendada por analistas financeiros e fazendo parte dos portfólios de fundos de investimento. Mas ultimamente a situação financeira da empresa deteriorou-se de maneira irreversível. Mais uma prova de que investidores devem seguir atentamente as companhias em que investem. Se há razões que justificam comprar acções duma companhia, também há razões que justificam vendê-las. Um caso típico aconteceu com Laidlaw (apresentada no BOLETIM em Março de 1998). Uma companhia de primeira qualidade elogiada por todos até se envolver em investimentos nos Estados Unidos. Os seus problemas começaram quando adquiriu Safety Kleen. Esta empresa americana falsificou a escrita e eventualmente entrou em bancarrota. Isto foi o começo duma série de problemas que culminaram quando Laidlaw apelou para os tribunais para protecção contra credores – por outras palavras, entrou em bancarrota voluntária.

Entre outros, os credores de Air Canada incluem bancos, fornecedores vários e possuidores de obrigações. Todos estes terão o valor dos seus créditos reduzidos substancialmente. Air Canada tenciona pagar dívidas a uma fracção do seu valor e emitir mais acções.

Muitos credores não irão ver nenhum dinheiro mas – como em casos similares - irão ter os seus créditos transformadas em acções. Isto representa más notícias para os accionistas actuais. Frequentemente quando companhias emitem novas acções como pagamento a credores, elas cancelam aquelas em circulação.

Ainda listada na bolsa de Toronto é possível que a companhia seja delistada.

CARA OPERATIONS LTD

A família que controla CARA OPERATIONS LTD. pretende comprar as accões da companhia em poder do público e transformar CARA numa companhia privada. Com as acções a serem negociadas a $5.50, o preço oferecido foi $7.50 por acção.

Cara é especializada em restaurantes e fornecimento de refeições. Possui Harvey’s, Swiss Chalet, Kelsey’s, Second Cup e operações no Aeroporto, servindo refeições para companhias aéreas. Devido aos problemas afectando o turismo no Canadá o preço das acções têm estado em baixa. Suspeita-se nos meios financeiros que a família irá transformar um ou dois dos restaurantes em Income Trusts. Devido ao entusiasmo actual por esta forma de investimento a família poderá fazer muitos milhões na oferta das unidades ao público.

Cara foi igualmente afectada pela dívida de Air Canada e eliminou $15 milhões de dólares do seu activo.

OPÇÕES

O uso de opções como compensação para empregados e gestores de empresas públicas continua a provocar controvérsia nos mercados financeiros norte-americanos. A concessão de opções tem sido grandemente abusado e como consequência accionistas estão a exercer pressão para alterações e restrições do seu uso. Medidas radicais têm sido propostas, desde um maior controle até eliminação total.

Companhias públicas e privadas oferecem a empregados a possibilidade de comprar acções da firma a um preço fixo por um período de tempo; isto é conhecido como opções. Normalmente estas caducam ao fim de dez anos. Opções podem pagar generosamente ou expirar com valor de zero – ninguém as vai exercer se o valor das acções é menor do que o valor do seu exercício.

Ao contrário de outras formas de compensação opções são aliciantes para companhias pois que não envolvem nenhum custo. Quando são atribuídas não têm que ser lançadas nos livros contabilísticos (geralmente uma nota nos relatórios anuais é a púnica informação sobre a sua existência).

Para compreensão de como esta forma de recompensa é praticada usemos o seguinte exemplo: a companhia “X” oferece ao empregado a opção de comprar até 10,000 acções a $10.00 a acção. (Geralmente o preço da conversão é igual ao preço com que as acções estão a ser negociadas na ocasião em que são atribuídas). Suponhamos, então, que na data em que as opções podem começar a ser convertidas as acções da companhia são negociadas a $16.00. O empregado tem três escolhas: pode converter as opções e vender imediatamente as acções, realizando um ganho imediato de $6.00 dólares por acção; pode converter as opções, vendendo apenas parte das acções, realizando um ganho, e mantendo o resto para vender no futuro ou pode converte-las e mantê-las na totalidade para as negociar mais tarde com lucro maior.

Segundo as companhias o uso de opções constitui um incentivo para atrair e manter os elementos mais valiosos para a empresa. Empregados dedicados contribuem para melhores resultados e estes que se reflectem no aumento de preço das acções. Preços mais elevados das acções beneficiam accionistas, empregados e quaisquer elementos ligados às empresas. Desta maneira os interesses dos empregados estão ligados aos interesses dos accionistas. O reconhecido abuso no seu uso não é razão para a sua eliminação.

No entanto, existe um problema com este argumento. Ao contrário de accionistas, beneficiários de opções não têm que fazer nenhum investimento na companhia. Eles podem converter as opções e vender imediatamente as acções. Sem p&iocirc;r nenhum dinheiro na empresa é difícil argumentar que eles estão na mesma situação dos accionistas. Igualmente para eles nunca pode haver prejuízo. Ninguém vai exercer opções se o preço das acções for mais baixo do que o preço do exercício das opções. Como estas têm geralmente um período de 5 a 10 anos para serem exercidas, apenas as piores companhias não vêem o preço das suas acções subir durante esse tempo.

Aqueles que aceitam a existência de opções mas pedem uma revisão do processo afirmam que se opções constituem uma forma válida de compensação para executivos e outros empregados reconhecem que elas igualmente representam um custo para accionistas. O seu exercício provoca uma diluição no npúmero de acções. O bolo é o mesmo, mas agora há um maior npúmero de fatias. Pode-se argumentar que ao exercerem opções empregados pagam por elas. Mas, segundo o exemplo acima, se as acções valem agora $16.00 a companhia está a receber $10.00 por algo cujo valor é $16.00. Isto constitui um prejuízo de $6.00.

Quais são então as medidas mais frequentemente citadas para corrigir tais problemas?

Enquanto ordenados e bónus devem compensar pessoal das empresas para lucros normais, opções, por outro lado, só devem ser concedidas se os resultados financeiros da companhia forem superiores em termos gerais e relativos. (gerais, em relação ao mercado; relativos em relação à competição). Frequentemente subidas e descidas no preço de acções nada tem a ver com as actividades da companhia.

Opções devem ser lançadas como “despesas” para a companhia, reflectindo o custo de diluição. Para maior visibilidade e exactidão elas devem ser lançadas nos livros contabilísticos quando são oferecidas em vez de quando são exercidas. Assim accionistas podem verificar se os gestores são compensados excessivamente em relação às operações da empresa. Se bem que seja difícil calcular a despesa de opções é melhor lançá-las nos livros como despesa do que ignorar a sua existência.

Após o exercício de opções, empregados devem ser obrigados a manter as acções por um período de tempo, antes de as poder vender. Isto elucidará os accionistas sobre a situação. Presentemente eles são informados pelos jornais de que os interessados exerceram opções e venderam imediatamente as acções quando isto já pertence ao passado. Tal evitaria igualmente os casos em que gestores tomam decisões que aumentam os preços das acções momentaneamente, mas são prejudiciais para a empresa a longo termo.

Empresas públicas começam a responder a este descontentamento. Nos Estados Unidos até ao fim de Janeiro, 176 companhias resolveram considerar opções como despesas. Entre elas Coca-Cola Company e outras conhecidas. Outras estão a abandonar o uso de opções optando por cash bónus por resultados superiores. No Canadá assiste-se à mesma tendência. O Bank of Montreal e o TD Canada Trust anunciaram recentemente que passariam a considerar opções como despesas.

O uso excessivo de opções é citado frequentemente como uma das razões para a queda desastrosa do sector de tecnologia no fim dos anos 90. Como prova temos os casos de Joseph Nacchio, de Qwest Communications International, Kenneth Lay, de Enron, Gary Winnick, de Global Crossing e outros, que exercitaram opções, vendendo as acções com lucros de milhões de dólares, para assistirem ao imediato colapso das suas companhias que entraram em bancarrota. No Canadá um exemplo flagrante é o de Nortel, em que o seu ex-CEO exercitou opções e vendeu as acções, ganhando milhões de dólares, antes da queda precipitada da companhia, que viu o seu valor ser reduzido a “penny stock”. Igualmente Nortel apresentou um aumento de vendas de 14%, entre 1998 e 2001, mas em relação ao número de acções teve um declínio de 26% no período.

Executivos e outro pessoal devem estar no mesmo barco e confrontar os mesmos riscos do que accionistas, mas tal não tem sido o caso. Reacções ao uso e abuso de opções provocará certamente um melhoramento nos planos de compensação de empresas públicas.

(Preparado em Setembro de 2003)

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