ANO 9 .............................................. No. 48

MARÇO - ABRIL - 2004 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Este número do BOLETIM sai bastante atrasado, nos fins de Março, e um pouco mais pequeno do que habitual, pelo que pedimos desculpa aos nossos leitores. Para compensar, a próxima edição (Maio e Junho) sairá nos meados de Abril.

No princípio de cada ano há duas exibições financeiras e de investimento em Toronto. A primeira é o FINANCIAL FORUM, nos fins de Janeiro; a segunda é a da PROSPECTORS AND DEVELOPERS ASSOCIATION OF CANADA, no princípio de Março. Esta é feita simultaneamente com outra exposição - INVESTOR SHOW. Este a atrair cada vez maior assistência. Sobre ele comentaremos no próximo número.

Sempre que recebemos mensagens dos nossos leitores, quer com perguntas, comentários ou sugestões, respondemos. Aconteceu que à cerca de um mês ao limparmos a caixa do correio deitámos fora, involuntariamente, três mensagens às quais ainda não tínhamos respondido. Com o desaparecimento delas ficamos sem os respectivos endereços e é-nos impossível responder. Um dos leitores, um corretor da bolsa brasileira, fazia uma pergunta que obrigava resposta. A estes leitores pedimos que aceitam as nossas desculpas e, no caso de nos estarem a ler, pedimos-lhes que nos enviem novos e-mails aos quais responderemos acto contínuo.

NOTÍCIAS

BOMBARDIER

Bombardier é uma das companhias mais conhecidas do Canadá. Ela está envolvida na produção de aviões de pequena e média capacidade e em transportes ferroviários.

Numa decisão anunciada pelo seu CEO, Paul Telier, a 17 de Março, a companhia decidiu reduzir operações mundiais. Entre as fábricas afectadas encontra-se uma em Portugal, na Amadora.

Outras instalações a fechar são as do Reino Unido, Suécia, Suíça e Alemanha. Um total de seis mil e seiscentas posições eliminadas, ou seja 18.5 porcento da força trabalhadora da empresa.

As medidas tomadas por Bombardier foram justificadas pela fraqueza da divisão ferroviária.

SINO-FOREST CORP.

Uma companhia nunca mencionada nos jornais era Sino-Forest Corp. A companhia possui três áreas de plantação de árvores na China. Há uns anos atrás as acções eram negociadas à volta de $1.00 e tinham um P/E rácio baixíssimo (4 ou 5 porcento). O problema que tínhamos com esta companhia era o mesmo que temos com outras, o controle estava nas mãos dos administradores. As acções que podiam ser transaccionadas pelo público eram no-voting.

Recentemente, a companhia apareceu nas notícias dos jornais.

A história é a seguinte: Sino-Forest decidiu oferecer acções subordinadas, no valor de 30 milhões de dólares, aos seus administradores. Se o caso já era preocupante ele agravou-se ainda mais. Segundo o plano, se o preço delas descesse, administradores receberiam um número maior de acções, para perfazer o mesmo valor; tudo isto contribuindo para uma maior diluição do stock.

Os accionistas, mesmo sem direito a voto, revoltaram-se e os gestores decidiram limitar a oferta para a gerência nos seis milhões, ou 4 porcento do total do número de acções em circulação.

As acções que antes deste vendaval chegaram a $7.12 (1 de Março) começaram uma queda vertiginosa e andam agora à volta dos 3 dólares.

Para agravar a situação, um analista financeiro que visitou as plantações na China concluiu que a área explorada era menor do que aquela que constava nos relatórios da companhia.

COMPANHIAS A CONSIDERAR

ROYAL BANK

A companhia que apresentamos hoje aos nossos leitores é o Royal Bank. Este banco é o maior do país, tanto em termos de capitalização (números de acções vezes preço por acção), como também em termos dos assets que possui. Royal Bank representa 25 porcento do índice bancário da bolsa de Toronto e tem operações na América do Norte e em 30 outros países.

Como investimento pode-se dizer que não há grandes diferenças entre os cinco big banks canadianos. Todos têm boa actuação e a longo prazo, não tem havido grande desigualdade nas suas actuações.

Más notícias para o sector são poucas e quando obstáculos aparecem eles são transpostos rápida e eficazmente. Por exemplo, uma das subsidiárias do CIBC (Canadian Imperial Bank of Commerce) teve problemas nos Estados Unidos. O banco aceitou responsabilidade em relação às actividades ilegais em fundos de investimento causadas pelo seu pessoal bem como em transacções fraudulentas com Enron. O banco pagou uma multa e o problema foi eliminado.

Royal Bank teve também o seu caso nos Estados Unidos. Ele foi resolvido quando o banco e as autoridades americanas chegaram a acordo. O banco pagou a multa (que resultou em 11 cêntimos por acção lançados como despesa nos livros contabilísticos) e o caso foi encerrado.

O que assistimos no panorama bancário canadiano é que bancos tendem a igualar os resultados dos competidores. Após problemas ou descidas têm sempre fortes recuperações. Se fizéssemos uma analogia poderíamos equipara-los com um grupo de ciclistas que correm em pelotão, distante dos restantes competidores. O que vai atrás, nesse grupo, dá um esticão e passa para a frente, e assim revezam-se continuamente no comando do pelotão.

Juros baixos têm constituído um maná para os bancos. Empréstimos, quer a companhias quer a particulares, têm aumentado consistentemente. Mesmo uma reviravolta na taxa de juros não constituirá problema, pois que estas instituições encontram sempre maneira de aumentar os lucros.

Bancos têm receitas de várias proveniências e o consumidor que usa os serviços de balcão (ou de máquina) é um dos contribuintes para essas receitas. Custos para os clientes continuam a aumentar, quer quando usam a instituição para visar cheques, quer para cópias de extractos de contas correntes, transferências de fundos ou quaisquer outros serviços. Custos nestas áreas têm subido dramaticamente. E podemos dizer que todos os bancos lêem pela mesma cartilha...

Usemos o exemplo do Scotia Bank. O custo de pagar contas ao balcão (telefone, electricidade, água, etc.,) que era anteriormente grátis é agora $1.50. O de visar um cheque, que era $5.00, passou para $10.00.

Entre os bancos canadianos Royal Bank tem sido o que tem tido maiores lucros nos últimos dez anos. Os resultados do último trimestre foram igualmente favoráveis. Este período é caracterizado por grande actividade nos RRSPs (planos registados de pensão). Entre 1 de Novembro de 2003 e 1 de Março de 2004 o banco teve um saldo positivo de vendas de fundos de investimento (vendas menos liquidações) de 1.8 bilião de dólares. Para planos registados de pensão o total foi de $1.58 bilião. O valor de fundos administrados pela instituição em Fevereiro de 2004 atingiu 40 biliões de dólares.

Com um melhoramento na qualidade dos empréstimos, Royal Bank reduziu a provisão para débitos duvidosos. Outros bancos tomaram a mesma decisão, reflectindo uma melhoria geral de situação financeira. Recentemente, um analista de Desjardins Securities, subsidiária duma Credit Union do mesmo nome, afirmou que desde 1998 as acções dos bancos nunca estiveram tão baratas como agora. Talvez ele devesse ter dito que elas continuam a baixo preço, pois que têm estado em trajectória ascendente desde já há algum tempo.

Royal Bank aumentou recentemente o dividendo em 13 por cento, ele é agora de $2.08 por ano. O aumento sistemático de dividendos em companhias classificadas como blue chips é uma consideração nas decisões a tomar. Se muitas companhias podem reduzir ou suspender dividendos, em todo o universo de investimento, o sector bancário é de todos o menos provável que tal aconteça.

No entanto, em comparação com os outros bancos, Royal Bank não teve os resultados tão favoráveis como era de esperar. Houve uma certa decepção com os resultados das transacções bancárias individuais e comerciais neste período, especialmente com as actividades nos Estados Unidos. Se seguirmos os exemplos da história, agora é a vez do Royal Bank fugir para a frente do pelotão.

Levando todos os factores em consideração, Royal Bank constitui um bom investimento a longo termo. As acções têm sido negociadas entre $65.90 e $56.75 (preço recente $62.86). Yield é de 3% e o P/E é 14.

(Preparado a 27 de Março de 2004)

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