ANO 9 .............................................. No. 49

MAIO - JUNHO 2004 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Este número do BOLETIM sai mais cedo do que habitualmente, em meados de Abril. O próximo sairá nos primeiros dias de Julho.

Enquanto escrevemos estas linhas tem havido certa turbulência no mercado, sobre a qual comentamos abaixo.

COMENTÁRIO

As últimas notícias na fronte económica e de investimentos são caracteristicamente contraditórias.

No passado dia 13 de Abril a Bolsa de Toronto teve uma descida forte, que continuou no dia seguinte. Foi a maior descida em dias consecutivos, desde que o mercado começou uma recuperação há dezoito meses atrás. Todos os sectores sofreram. Nem sequer o facto da International Energy Agency ter previsto um aumento global na procura de petróleo influenciou positivamente o sector de energia, que caiu tal como o restantes.

Ao mesmo tempo, o Banco Central do Canadá baixou a taxa de juro, que é agora de 2%. Quando seria de esperar que investimentos que oferecem dividendos elevados, tais como Investment Trusts, tivessem maior procura; pelo contrário, eles desceram desastrosamente. Ouro acompanhou a queda, arrastando com ele companhias envolvidas na sua exploração.

A explicação inicial dos especialistas é de que se antecipa um aumento dos juros bancários nos Estados Unidos. É claro que não devemos ignorar que este bull market já dura há ano e meio, quando o índice da bolsa de Toronto, o S&P/TSX, atingiu o seu ponto mais baixo.

Alguns prevêem que estas descidas são os primeiros sinais dum bear market. A falta de direcção da economia dos Estados Unidos suporta esta previsão.

O preço do petróleo continua elevado e tudo leva a crer que com o crescimento da economia mundial, a procura aumentará e OPEC (Associação dos Produtores de Óleo) continuará a controlar a produção. Canadá exporta e importa óleo, mas, devido às reservas elevadas que possui, o balanço é favorável ao país.

Com uma eleição presidencial à porta, Presidente Bush, a pensar numa reeleição, tudo fará para apresentar ao eleitorado uma situação económica favorável.

As eleições nos Estados Unidos têm uma influência que transpõe as fronteiras do país e influenciam os diversos mercados. Mas, as notícias não são excitantes (e esqueçamo-nos do Iraque). Há um optimismo moderado sobre o crescimento da economia, devido ao aumento de produção industrial, mas existe igualmente muita incerteza sobre o futuro. O défice fiscal continua elevado e se não houver crescimento económico substancial aquele não será brilhante. O governo americano parece despreocupado com a desvalorização do dólar. Dívidas ao estrangeiro, feitas com dólares americanos, são pagas agora com moeda desvalorizada.

Tem havido maior consumo de matérias-primas, principalmente minerais e óleo. Uma maior procura do Grupo dos Sete e da China têm contribuído para isso, a consequente tendência é de um aumento de preços.

Presentemente, fala-se muito da China, envolvida num esforço gigantico para se tornar uma potência industrial de primeira classe. A moeda chinesa, ligada ao dólar americano, é considerada como estando artificialmente depreciada. Se a produção massiva de produtos, e subsequente excesso da balança de pagamentos continuar, mais tarde ou mais cedo, o governo chinês será forçado a libertá-la. Se assim for, o custo de produtos feitos na China, baratos, mas de fraca qualidade, aumentará consideravelmente. Isso, aliado ao preço elevado do petróleo, poderá provocar uma onda de inflação no mundo ocidental.

Se é fácil justificar acontecimentos passados, o que é impossível é adivinhar o futuro. A economia do Canadá, continua a ter actuação hesitante e a baixa de juros bancários pretende melhorar a situação. Se por um lado juros baixos estimulam a economia, por outro lado eles causam factores negativos que não devem ser ignorados, um dos quais é a tendência dos consumidores de se endividarem ainda mais do que que já estão. Uma subida futura de juros bancários poderá encontrar muitos desprevenidos.

Aqueles que se preocupam com o futuro poderão agora perguntar a si mesmo: que espécie de investimentos, aceitáveis nas condições do mercado actual, farão ainda melhor num ambiente de inflação? Em investimentos é sempre melhor ser dos primeiros a actuar, quando o mercado muda de direcção, do que repetir o que toda a gente faz por um longo período de tempo.

Investidores confrontam-se sempre com dúvidas sobre qual a melhor decisão a tomar. Naturalmente, não há respostas concretas, mas algumas decisões parecem fazer mais senso do que outras e é sobre isso que devemos reflectir.

EXPOSIÇÃO MINEIRA

No princípio de Março, reuniram-se na baixa de Toronto (Metro Toronto Convention Centre) indivíduos ligados à função mineira. Esta congregação do pessoal da indústria efectua-se anualmente no fim do inverno e é organizada por uma associação canadiana - PROSPECTORS AND DEVELOPERS ASSOCIATION OF CANADA.

Os participantes têm um interesse comum: discutir e trocar opinião sobre o futuro da indústria. As reuniões são complementadas por duas exposições, uma essencialmente de interesse para geólogos e pessoal da indústria e outra para o público em geral, dedicada a investidores.

De ano para ano o interesse do público pela exibição para investidores tem aumentado, em parte devido ao facto de haver uma maior atracção por investimentos em matérias-primas e em parte devido ao facto do ingresso na exposição ser gratuíto.

Para investidores, não há falta de informação. Cada expositor oferece relatórios diversos e ilucidativos, promovendo as suas companhias. Divulgação produz curiosidade e interesse nas firmas, o que se traduz em maior visibilidade, liquidez e, geralmente, preços mais favoráveis para as acções da companhia.

Matérias-primas e metais preciosos tiveram um período difícil durante os anos 90. Mas, isso pertence ao passado. O ressurgimento da indústria é evidente, com maior consumo de minérios, falando-se muito agora da sua grande procura na China e Índia, países lançadas em planos ambiciosos de industrialização.

Esta é a ocasião em que certas publicações são distribuídas gratuitamente. Visitantes têm a oportunidade de tomar conhecimento com algumas, que nem sequer sabiam existir.

Uma publicação canadiana com ampla informação sobre actividades mineiras é Northern Mine. Outra publicação com interesse para os curiosos sobre o sector é The Bull and Bear Financial Report. Esta é um jornal americano com ênfase em minas, a maior parte delas canadianas e negociadas na bolsa de Vancouver. A informação publicada é paga pelas companhias, por isso tem que se ser prudente nas conclusões tiradas.

Para aqueles interessados nesta exposição, e que a perderam este ano, lembramos que ela é anual e a próxima será em Março de 2005.

REAL RETURN BONDS

Um dos problemas com obrigações (Bonds), quer emitidas pelos diversos governos, federal, provincial ou municipal, quer emitidas por instituições particulares, é a falta de protecção contra inflação. Obrigações têm valor nominal e um juro fixo. Em períodos inflacionários o seu valor real é reduzido continuamente.

Sigamos este exemplo: o governo federal emite uma série de obrigações a $1,000.00 dólares cada, com vencimento em 25 anos e juro anual de 5 porcento, pago semestralmente. Em termos práticos, o comprador desta obrigação receberá dois pagamentos anuais de $25.00 (juros) durante a vida da obrigação. No vencimento receberá o valor nominativo da obrigação. Enquanto $50.00 anuais pode parecer um bom rendimento na ocasião, com o aumento de inflação, cinco ou dez anos mais tarde, isso será pouco. Os anos 70 foram de grande inflação (certificados de investimento chegaram a dar um juro anual de 15 porcento). Para aqueles que tinham obrigações com um juro de 5 ou 6 porcento, o lucro nominal traduziu-se em prejuízo real.

Claro que existe um mercado secundário para compra e venda de obrigações, mas se a inflação for elevada quem quiser desfazer-se delas terá que as vender com desconto do valor nominal, para que elas paguem um juro correspondente ao prevalecente no mercado.

O problema de falta de protecção deste investimento contra o aumento do custo de vida foi remediado quando, em 1991, o governo do Canadá criou uma nova espécie de obrigações - Real Return Bonds, obrigações que proporcionam defesa contra inflação.

Usemos o seguinte exemplo: no dia 1 de Fevereiro de 2000 o governo emite bonds no valor de $1,000.00, ao juro de 4 porcento e com vencimento a 1 de Fevereiro de 2025. Ao fim de seis meses (1 de Agosto de 2000) o governo paga o primeiro cupão semestral. Entretanto o CPI (Consumer Price Index) mostra que $100.00 em 1 de Fevereiro representam $101.25 em 1 de Agosto. Isto diz-nos que inflação aumentou 1.25 por cento nesse período. O valor do bond é ajustado para $1,001.25 e os 4 porcento de juro são pagos de acordo com esse valor. E assim sucessivamente. Enquanto a percentagem do juro é sempre a mesma - 4 % -, o valor nominal da obrigação varia para corresponder às alterações do custo de vida.

Com a vantagem duma protecção contra a inflação, a taxa de juro destes bonds tende a ser menor do que a taxa daqueles que não a têm. Uma série emitida na mesma ocasião, sem tal protecção, poderá ter o juro 6 porcento. RRB podem ser vendidos e comprados no mercado secundário mas não têm a liquidez de bonds tradicionais. A diferença entre compra e venda (spread) é maior e em caso de deflação o valor do bond será reduzido.

Este investimento é especialmente adequado para planos de reforma, como o RRSP, devido aos juros dentro dele não pagarem impostos. Um conselheiro de investimentos poderá dar explicações mais completas sobre este produto ou verificar se ele é adequado para o cliente.

(18 de Abril de 2004)

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