ANO 9 .............................................. No. 50

JULHO - AGOSTO 2004 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Após uma ausência do Canadá regressámos a Toronto. Visitando a Europa confirmámos o que os jornais se referem como a malaise que reina na União Europeia.

Enquanto o Banco Central Europeu decidiu manter a taxa principal de refinanciamento (como se diz em Portugal) em dois por cento, os aumentos de preços de bens de consumo aceleram, sobretudo devido ao encarecimento no preço de combustíveis. A Alemanha e a França, os dois pilares da União Europeia, confrontam-se com uma crise económica e psicológica. Alarmante para alguns, a taxa de desemprego que chega a 9 por cento. Se uma taxa de desemprego elevada parecerá conter a inflação, o preço de combustíveis constitui factor determinante no aumento no custo de vida. Veremos o que o resto do ano trará para os europeus. Como um analista português desabafava: a economia Europeia continua moribunda.

Em Portugal, o desemprego é um tema discutido por alguns: meio milhão de desempregados; praticamente o mesmo número de imigrantes, legais e ilegais, que não têm dificuldade em encontrar trabalho.

Durante a nossa ausência do Canadá, o índice da Bolsa de Toronto teve uma descida pronunciada. Alguns investidores queixam-se de que o valor dos seus investimentos desceu 10 por cento. Resta ver o que acontecerá até ao fim do ano, mas não há falta nem de optimistas nem de pessimistas.

COMENTÁRIO

O mercado jamais é previsível e presentemente poucos se arriscam a fazer previsões com convicção. Enquantos os peritos discutem a evolução da economia, pressões inflacionárias aumentam por todo o lado.

As eleições no Canadá produziram um governo minoritário. Isto significa que o governo liberal está agora dependente de outros partidos para legislação importante. Precisando do suporte da dita esquerda, decisões mais favoráveis a negócios serão mais difíceis de implementar. Também as mergers que os bancos canadianos tanto ambicionam deverão ser relegadas para mais tarde.

Com o aumento de juros nos Estados Unidos, a tendência é de eles continuarem a subir. Estando tão baixos não há possibilidade de descerem muito mais. Investidores devem prepara-se agora para uma nova fase da economia, com inflação e o consequente aumento de juros.

O aumento de preço de matérias primas, incluindo petróleo, e o do custo de habitação, asseguram o regresso da inflação, embora possivelmente moderada, nada como aquela a que assistimos nos anos 70.

O aumento nos juros obriga a uma mudança de táctica. Obrigações deixaram de ser atractivas como forma de investimento, apenas aquelas que têm protecção contra o aumento do custo de vida podem fazer parte duma pasta de investimento (falaremos deste assunto no próximo número).

Tradicionalmente em tempo de inflação investimentos em imobiliário oferecem salvaguarda contra o aumento do custo de vida.

Income trusts pararam a subida. Alguns começaram mesmo a descer. Muitos continuam a constituir bons investimentos, mas estão a sentir a influência do aumento das taxas de juro.

Uma recomendação mantém-se: investir em boas companhias, que paguem dividendos e tradição de os aumentarem periodicamente. Este é um conselho para bons e maus tempos.

Companhias que usam leverage (isto é, usam débito para financiar operações) poderão ver o custo dos seus compromissos aumentar, o mesmo se diz para quem tem que renovar hipotecas.

OURO

Não costumamos escrever sobre ouro. Nestes sete anos de publicação, esta é a segunda vez que o fazemos. Isto porque ele volta a estar na ordem do dia. Desde jornais financeiros diários até newsletters, cada vez se lêem mais artigos sobre este metal; uns altamente favoráveis, outros continuando a duvidar na sua capacidade de aumentar em preço. Na maioria, porém, todos prevêem que a longo prazo preços serão mais elevados.

Todos os números recentes de INVESTOR’S DIGEST, uma das mais conhecidas newsletters de investimentos no Canadá, trazem inúmeros artigos sobre ouro, com recomendações de companhias a comprar, com predominância das conhecidas como juniores.

Todos estamos conscientes do movimento do ouro. Desde as baixas de 1999/2001 o seu preço tem tido altos e baixos. O preço do metal começou a subir em 2001, quando valia $265 dólares (US) a onça, até princípios deste ano, quando chegou a $427 dólares. Após isso recuou e anda agora à volta de $400 dólares.

As subidas e descidas no preço do ouro não são acompanhadas pelas dos outros minerais. O que se passa com ele tem mais a ver com psicologia do que com oferta e procura. Agora com a ameaça de inflação há muitos que olham de novo para o ouro como protecção para este flagelo dos tempos modernos.

Outros acham que a dólar americano é uma moeda doente e a solução é investir em ouro. Com uma economia hesitante e défices elevados, ouro pode constituir a protecção para tempos incertos.

Durante os anos 90 o preço do ouro esteve em baixa. Um factor a influenciar foi a sua venda pelos bancos emissores na Europa. Presentemente, a venda está a diminuir. Mas se os bancos europeus continuam a desfazer-se do ouro, na Ásia, a China como o Japão, estão a comprá-lo.

A situação financeira dos Estados Unidos tem muito a ver com o movimento no preço do ouro. O país apresenta um défice monstruoso e uma balança de pagamentos desfavorável, o que resulta em grande pressão sobre o valor do dólar americano. Quando começa a haver falta de confiança na moeda americana, o refúgio natural é o ouro.

Argumentos a favor de acumulação de ouro (ou investimento em minas produtoras do metal): um défice enorme no orçamento público e na balança de pagamentos (mais importações do que exportações) dos Estados Unidos; o facto de que a produção está a diminuir; uma situação política internacional instável e o receio de inflação.

Alguns, uma minoria, argumentam que: movimentos no preço do ouro são imprevisíveis, ouro é sujeito a manipulação e, ao contrário de acções, não produz rendimento, isto é, não dá dividendos.

COMPANHIAS A CONSIDERAR

GOLD CORP.

GOLDCORP. é uma companhia envolvida principalmente na exploração, produção e marketing de ouro. A sua propriedade principal é uma mina em Red Lake, no norte do Ontário. No ano passado, a produção dessa mina foi de 532,028 onças de ouro. Outras minas são em Dakota do Sul (USA) e Saskatchewan, esta produzindo sulfato de sódio, que é usado na produção de detergentes.

Goldcorp. tem sociedade noutras companhias (conhecidas como juniores) com participação em diferentes projectos de exploração. A empresa estabeleceu aliança com Planeta Exploration Inc.; Metal Corp; Rubicon Minerals Corporation; American Bonanza Gold Mining (na Arizona); Candente Resource Corp. (Terra Nova e Peru) e Eastmain Resource Inc (Québec). Alguns destes projectos podem trazer benefícios consideráveis para a companhia.

Gold Corp gastará $1.8 milhão de dólares nos próximos três anos para adquirir 50 por cento de interesse em MetalCorp Ltd. Esta companhia possui uma propriedade localizada próximo de Red Lake. A assistência de Goldcorp a MetalCorp. será em suporte financeiro, técnico e em marketing.

Goldcorp. produziu 602,845 onças de ouro em 2003. Para o ano corrente antecipa-se uma produção de 595,000 onças.

Um facto importante a registar no corrente ano é o começo da construção dum novo elevador na mina de Red Lake, capaz de atingir 7,150 pés de profundidade. A expansão nesta mina deverá estar completa em 2006. Presentemente os mineiros demoram uma hora e vinte minutos para chegar aos locais de trabalho. O novo elevador, beneficiando duma tecnologia mais avançada, fará o mesmo percurso entre 20 a 30 minutos. O elevador terá uma capacidade máxima de 120 mineiros, contra a actual de 18. Será também possível o transporte de máquinas maiores e já completamente montadas na superfície. Naturalmente que há certos riscos aliados com uma construção deste género.

Com tal melhoramente, a produção anual de ouro poderá ir de 510,000 a 700,000 onças anuais e o custo por on&ccedi;a reduzido de $80.00 para $70.00 dólares.

Goldcorp. não vende a produção em ouro imediatamente após a extracção. Ao contrário de outras companhias, a corporação retém o metal se os preços no mercado não forem favoráveis. A partir do segundo semestre de 2001 ela passou a acumular em armazém parte da produção, antecipando um futuro aumento no preço do metal.

O inventário em ouro atingiu 95,882 onças no princípio de 2003. As receitas são registadas contabilisticamente quando o metal é vendido, não quando é produzido.

A situação financeira de Goldcorp. é excelente, sem débito. Em 2003, a receita líquida por acção foi de 53 cêntimos (37 cêntimos em 2002 e 31 cêntimos em 2001). No primeiro trimestre de 2004 o lucro foi de 9 cêntimos por acção, menos do que se esperava. No entanto, se todo o ouro produzido tivesse sido vendido, o lucro por acção teria aumentado em 5 cêntimos.

Um movimento de 10 por cento no preço de ouro em 2003 alterararia as receitas em 10 cêntimos por acção, ou 19 por cento, e o cash flow em 14 cêntimos, 27 por cento.

A companhia começou a pagar dividendos em 2001. Actualmente o dividendo anual é de 18 cêntimos por acção.

O preço do ouro tem tido muitas flutuações. Desde $850.00 a onça em 1980, até à baixa de $250 em 1999 e 2001. Não é de esperar que o preço se movimente em linha rectilínea, nem a subir nem a descer, nem que se aproxime a nenhum daqueles recordes nos tempos mais próximos.

Com o dólar americano perdendo o sua importância, ouro voltou a ter um papel importante no sistema monetário. Possivelmente é tempo de encarar esta realidade, fazer um pequeno investimento no metal e aguardar pacientemente uma subida. Uma subida de preço dará impulso às minas produtoras do metal.

Enquanto a baixa de valor do dólar americano, tensões políticas e falta de confiança na economia são factores que favorecem a subida de preço do ouro, este pode ser, igualmente, influenciado por outros factores (negativos) e não controláveis pelas companhias exploradores e produtoras do metal. A considerar: vendas pelos bancos centrais; hedging, (garantir vendas futuras a preços fixos) e transacções especulativas.

Goldcorp está bem protegida contra descidas inesperadas do ouro, devido ao baixo custo de produção.

Estas acções podem fazer parte duma pasta de investimento diversificada, mas, devido às características particulares do metal, apenas em limitada percentagem.

As acções estão listadas nas bolsas de Toronto (G) e Nova Iorque. Preço recente em dólares canadianos: $15.67.

(16 de Julho de 2004)

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