ANO 9 .............................................. No. 51

SETEMBRO - OUTUBRO 2004 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Neste número do BOLETIM examinamos duas classes de acções comuns.

Encontramos, frequentemente, na bolsa, acções comuns com designações tais como A, B, acções sem direito a voto ou com restrições de voto. Este artigo foi influenciado por uma decisão tomada recentemente por Google, uma companhia que cada um de nós, usuários da internet, conhece, de se tornar pública.

Google, com sede na Califórnia (Mountain View), resolveu transformar-se em companhia pública, emitindo acções através dum private placement. A distribuição inicial foi apenas para residentes nos Estados Unidos. Com uma distribuição privada a companhia não tem que produzir uma prospectus para as comissões reguladoras do país.

Os fundadores da companhia criaram duas classes de acções, a classe A, para o público em geral, e a classe B, para os proprietários e empregados da firma, esta última com direito a 10 votos por acção. Desta maneira os fundadores mantêm controle sobre a mesma, embora não possuam o maior número de acções. No Canadá encontramos situações análogas.

COMENTÁRIO

Gostaríamos de poder iniciar o nosso comentário de maneira diferente e apresentar uma visão mais concreta, ou melhor ainda, um cenário mais optimista, do panorama económico do país e da direcção da bolsa.

Se nunca há certezas sobre a direcção do mercado, sempre sujeito a inúmeros factores e influências, o momento actual é de absoluta incerteza. A economia e a bolsa parecem n&aatild;o ter direcção definida. Se algumas notícias são boas na frente económica elas são imediatamente contrariadas por outras pessimistas.

O problema é a situação nos Estados Unidos. O que se passa no país influencia a economia do Canadá e do resto do mundo. Os consumidores americanos estão altamente endividados e défices na balança de pagamentos e orçamento põem um entrave numa recuperação económica saudável. É certo que investidores correm a comprar acçãos, ignorando os elementos fundamentais da economia, mas as sementes do problema estão sempre presentes.

O que há a fazer é esperar pelo resultado das eleições presidenciais. Se bem que a administração de George Bush tenha sido irreverente e repreensível e não tenha criado um número desejável de postos de trabalho, uma administração republicana parece ser mais benéfica para a economia do Canadá.

Investidores debatem-se em interrogações: o que fazer nestas circunstâncias? Para aqueles que querem manter uma pasta de investimentos, excluíndo títulos de tesouro, certificados de investimento ou outros tipos de investimentos quase garantidos, mas de rendimento pequeno, repetimos o que frequentemente sugerimos: - Mantenham uma pasta de investimento de blue chips. Estes não provocam muita excitação mas prometem estabilidade e dividendos periódicos e, essencialmente, resistem melhor aos choques do mercado.

Ouro continua debaixo de ataque. Bancos centrais, de tempos a tempos, vendem parte das suas reservas. Mais tarde ou mais cedo isso afectará os mercados financeiros. Quando ao petróleo, ele continua com preços altos, superiores a $40.00 dólares o barril. Talvez haja descidas, mas preços elevados estão agora para continuar. Finalmente uma última palavra sobre os juros bancários: estando tão baixos, só têm uma direcção a seguir - subir.

DUAS CLASSES DE ACÇÕES

A Canadian Coalition for Good Governance é um dos grupos activos protestando contra a prática de certas companhias que têm diferentes classes de acções.

Geralmente o sistema trabalha deste modo: há acções que têm direito a voto e outras que não têm. Outra situação anacrónica existe com acções de multiple voting. Neste caso elas têm direito a um número elevado de votos, por exemplo, vinte, enquanto outras só têm direito a um. Desta maneira, um indivíduo, uma família ou um grupo de indivíduos, com reduzido número de acções, controla a companhia, enquanto a maioria dos accionistas, que representam a maior parte do dinheiro investido, não tem poder contra esse grupo.

Naturalmente que há companhias, das que restringem o direito de voto da maioria dos accionistas, que têm tido boa actuação e accionistas confiam na integridade e capacidade financeira daqueles que as presidem.

Dois exemplos citados frequentemente de empresas controladas por família são Cara, esta agora privada, e Magna International. Se no caso de Cara, a companhia nunca teve actuação superior, Magna tem tido uma actuação superior e accionistas e analistas financeiros estão satisfeitos com a sua actuação.

Brascan é uma companhia com duas classes de acções. Cada classe elege metade dos directores. O público pode apenas comprar a classe A, pois que a classe B é controlada por uma grupo debaixo do nome EdperPartners, Ltd. Este grupo controla a companhia, se bem que o público tenha 99 porcento das acções.

Outra companhia controlada por uma família é Power Corp. Controlada pela família Desmarais, é o público que tem a maioria das acções. A família possui uma classe especial de acções com direito a 10 votos. Também aqui o público só tem possiblidade de comprar as comuns. A família controla o board of directors se bem que tenha investido um capital menor na companhia.

Power Corp. é uma boa companhia, que incluiríamos, e recomendaríamos, no BOLETIM. Excluimo-la, no entanto, pois que acreditamos no princípio de uma acção, um voto. A possibilidade dos gestores tomarem decisões contrárias aos interesses da maioria dos accionistas (maioria do capital investido) existe sempre, mesma que elas nunca venham a dar-se.

A bolsa de Nova Iorque (N.Y.S.E.) não permite a dualidade de acções.

NOTÍCIAS

Três das mais conhecidas companhias canadianas estão a passar por um período de transição. Elas continuam a merecer muita atenção dos meios informativos.

AIR CANADA

A 25 de Agosto, Air Canada deixou de ser transaccionada na bolsa de Toronto. A companhia, em bancarrota, tem estado debaixo de protecção dos tribunais, contra credores, durante quase ano e meio. Ao fim do dia, as acções valiam 5 cêntimos.

A companhia avisou repetidas vezes que as acções não tinham praticamente valor. Se os próprios credores perderam muito dinheiro, como é que accionistas poderiam encontrar valia nelas? Apesar disso um número avultado delas continuava a ser transaccionado diariamente.

Os especuladores que as compraram porque eram transaccionadas a algumas dezenas de cêntimos, e perderam dinheiro, não se podem queixar. Entre os compradores de acções podem-se contar aqueles que usam a técnica conhecida como short selling, vender acções que não têm. Neste caso quando chega o tempo de as apresentar têm que as adquirir.

Afinal os actuais accionistas sempre irão receber qualquer coisa. Eles receberão uma nova acção (preço inicial calculado em $20.00) por cada 11,894 acções que possuam...

Creditores serão agora os possuidores de cerca de 88 porcento da rejuvenescida companhia, a chamar-se Air Canada Enterprises, que por sua vez será possuida pela companhia mãe - ACE AVIATION HOLDINGS INC.

NORTEL

Nortel é um caso invulgar. Um bom produto, técnica avançada, mas sempre em problemas. Agora é a própria polícia montada canadiana que está a investigar transacções financeiras da firma.

Recentemente, outro problema: a apresentação dos relatórios financeiros, tão ansiosamente esperados, foi adiada uma vez mais. Nortel diz que o atraso é resultado do volume e complexidade do trabalho envolvido.

Investidores mantêm confidência na companhia, alguns fundos de investimento continuam a ter Nortel nos seus portfólios... e não dão sinais de quererem desfazer-se dela.

BOMBARDIER

Bombardier é uma das companhias mais conhecidas do Canadá, e agora também em Portugal, após ter decidido fechar as instalações da Amadora.

Das suas linhas de montagem saem aviões de curto raio de acção, para carreiras regionais, e carruagens para comboios. Analistas tendem a ser pessimistas (ou neutros) em relação à companhia.

Há esperanças de que Bombardier faça parte dum consórcio para produzir carruagens e modernizar o sistema férreo da China. Bombardier tem estado a negociar um contracto de venda de sete aeronaves Dash-300 para Pakistan Airways. Por outro lado há preocupações com contratos em risco. Encomendas para aviões para as companhias americanas Delta e US Airways, ambas em dificuldades financeiras e candidatas a bancarrota, podem não vir a materializar-se.

Receia-se que a companhia seja downgraded pelas agências de crédito. No entanto, Bombardier não está em situação financeira precária, pois tem 1.7 bilião de dólares em cash.

Devido a muitas incertezas, acções da companhia tendem a ter bastante volatilidade, dependendo das notícias.

UP & DOWN

UP - RONA INC.

Rona é uma companhia de hardware e materiais de construção. A companhia, originária do Quebeque continua a expandir-se. Ela tem crescido espectacularmente, principalmente através de aquisições. Adquiriu Boranix (firma especializada em jardinagem), Dismar (quinquilharias - ferragens). Em 2000 adquiriu Cashway (materiais de construção) e no ano seguinte Revy Home Centres.

Rona é uma favorita de analistas, a maioria bullish acerca dela. O maior competidor é a companhia americana Home Depot, esta é uma rival de respeito.

UP - DOFASCO INC

Acções de Dofasco tem tido actuação magnífica atingindo novas altas ultimamente. Esta é considerada a melhor companhia da indústria do aço. Todas as companhias da indústria têm tido bons rendimentos, até mesmo aquelas sempre em bancarrota (Algoma e Stelco). Agora já não se fala em dumping e a produção não chega para as encomendas... Dofasco tem visto lucros a crescer e, recentemente, aumentou o dividendo. Quanto tempo durará a lua-de-mel da indústria do aço?

DOWN - CP SHIPS

CP Ships tem todas as condições para estar em boa situação. Transporte transatlântico de containers parece ser um negócio estável.

Mas agora vêm problemas: reconhece-se que não há grande growth nesta indústria e que o preço de combustível, a aumentar, afecta os lucros da empresa. O pior foi quando a companhia teve que rever os resultados financeiros a partir de 2002. O mercado não gosta de ser iludido com revisões de lucros (para baixo). Quando a notícia foi divulgada as acções desceram 22 porcento, com grande volume de transacções.

DOWN - DENNINGHOUSE

Denninghouse desiludiu-nos completamente. Sempre acreditámos que a companhia, com grande crescimento, bons lucros e até dando dividendos, oferecia estabilidade. Tal não aconteceu.

O crescimento desmedido foi o golpe mortal nas ambições de Denninghouse. Explorando as lojas que vendem produtos a $1.00 ou $2.00, a companhia quis aumentar a sua presença no mercado e entrou no domínio das franchises. Quando meia dúzia destas abriu falência, Denninghouse ficou queimada. Agora o dinheiro em caixa não chega para satisfazer as obrigações. Consequentemente a companhia não teve outra alternativa senão apelar aos tribunais para protecção contra credores (soa melhor do que bancarrota). Isto não quer dizer que ela não recupere, mas depois de ver as acções em subida vertiginosa - de 1 dólar e tal até cerca de $7.00 - é triste vê-las negociadas à volta de 50 cêntimos.

DOWN - COOLBRANDS INTERNATIONAL INC.

CoolBrands constituiu um sucesso. Uma firma começada do nada cresceu a ponto de se tornar uma das mais queridas do mercado.

Agora, após ter perdido um dos melhores clientes (Weight Watchers) e reexaminados os lucros, as acções desceram em valor, atingindo o seu preço mais baixo desde há ano e meio. Para complicar a situação este verão foi invulgarmente frio o que resultou numa menor procura de gelados...

(10 de Setembro de 2004)

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