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ANO 8 .............................................. No. 52

NOVEMBRO - DEZEMBRO 2004 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Este é o último número do BOLETIM de 2004.

Aproximamo-nos dum fim de ano em que existem muitas incertezas sobre o futuro da economia. A vitória de George Bush nas eleições presidenciais dos Estados Unidos eliminou a incerteza que existia sobre o resultado das eleições; o que não eliminou foi o mau estar e antagonismo entre muitos americanos sobre as mesmas.

Os habituais comentários ao ano que está a terminar estão intitulados “sucessos e insucessos”. Igualmente, neste número, resolvemos conversar com os leitores duma maneira mais amena. Temos também um artigo sobre FUNDOS DE INVESTIMENTO. Inicialmente começamo-lo a escrever dentro dos COMENTÁRIOS, mas como o tema se alongou para além do que pensávamos, achamos melhor dar-lhe total “independência”. O BOLETIM termina com um artigo intitulado VENDER, que tem muita relevância, principalmente num fim de ano.

A todos desejamos um feliz 2005 e bons investimentos

CORREIO DOS LEITORES

Quando recebemos mensagens electrónicas dos leitores nunca as deixamos sem resposta, excepto claro todo o “lixo” (spam) de que nenhum de nós se consegue livrar.

As perguntas ou sugestões são as mais variadas. Algumas repetem-se, outras são absolutamente únicas. Somos convidados para escrever sobre investimentos para o web site duma organização, para imediatamente descobrirmos que, debaixo desse convite, nos querem vender programas de análise de companhias públicas - que nos afirmam serem muito bons.

Recebemos um pedido de Espanha duma instituição financeira que não consegue encontrar o valor (ou informação) sobre obrigações emitidas pelo município de Montreal. Passamos a pergunta à respectiva câmara. Mas ninguém em Montreal se lembra dessas obrigações. Dos países da Europa do leste há também convites de colaboração, o mais recente vindo da Hungria, duma companhia, que já colabora com bancos portugueses, interessada em exportar maquinismos para Angola.

Há mensagens de fundos de investimento com pedidos de colaboração. Estas vindas apenas do Brasil, nunca de Portugal.

Um pedido curioso duma organização brasileira a pedir informações sobre produção de cereais no Canadá e sobre o Canadian Wheat Board, o que procurámos dar satisfação. Por curiosidade fomos à página da empresa, mas só se pode entrar nela através de pagamento. Irónico, pois que os administradores da organização querem obter informação de graça para depois a distribuir a pagar.

Se a maioria do e-mail é apenas de interesse para quem os enviou, alguns reflectem perguntas que são de interesse geral. E é sobre esses que nos referimos agora.

A pergunta mais comum que nos fazem: Qual a direcção da Bolsa? - Temos a resposta precisa e infalível: - a Bolsa ou vai subir, ou vai descer ou vai continuar na mesma. Uma destas situações vai acontecer, garantido!...

Se há tantas companhias negociadas nas bolsas do Canadá porque é que o BOLETIM só escreve sobre a de Toronto? A bolsa de Toronto tem exigências mais rigorosas do que a de Vancouver, esta chamada agora TSX Ventura. Companhias pequenas e recém-nascidas constituem o forte de Vancouver. Estas são consideradas companhias juniores e têm muita tendência a aparecer e desaparecer ou a estagnar.

Leitores perguntam-nos o que significam muitos termos usados nos jornais financeiros. Isto é algo sobre o qual pensamos escrever no futuro.

Alguns perguntam-nos sobre as Bolsas de Lisboa/Porto. Não seguimos o que se passa em Portugal. Mas, quando viajamos no país e vemos a paixão que os portugueses têm por carros, talvez a Brisa seja um bom investimento. Quem sabe? Mas na verdade estamos totalmente fora do meio.

Outros perguntam-nos opinião sobre firmas canadianas que investem ou têm presença em Portugal. Após os problemas de Bombardier, este é um assunto tabu. Claro que há outras firmas canadianas com presença no país (tal como as há americanas, alemãs, etc.). Temos, por exemplo, Cott, a firma que faz Colas e outras bebidas gaseificadas com marcas dos supermercados (Modelo, etc...). Esta empresa, em dificuldades há uma dezena de anos atrás, recuperou e está em boa condições. Uma firma pequena canadiana que investiu recentemente em Portugal é EuroZinc Mining. A companhia comprou, minas em Aljustrel (Neves Corvo). Nada sabemos sobre ela, excepto de que está bem investida no país. Mas patriotismo não se deve confundir com bom investimento.

Continuem-nos a escrever. A todos responderemos.

2004 - SUCESSOS E INSUCESSOS

Esqueçamos o Japão, o desemprego na Alemanha e na França. Um dos principais factores que influenciam a economia canadiana é a situação nos Estados Unidos, o maior recebedor das exportações canadianas.

Presentemente a economia canadiana é vista favoravelmente, especialmente devido aos orçamentos equilibrados apresentados pelo governo federal e ao preço elevado das matérias primas de que o Canadá é rico, mas problemas na economia do país vizinho acabam inexoravelmente por afecta-la.

Os Estados Unidos constituem possivelmente a maior interrogação para a economia mundial, e sem dúvida uma preocupação para o Canadá. A confiança que o resto do mundo tem no futuro económico dos Estados Unidos é reduzida e o resultado das eleições não contribuiu para a aumentar. O preço elevado do óleo não tem ajudado e o défice do país continua a aumentar. Mesmo com juros de desconto baixos, o défice orçamental do governo federal americano chegou a $425 biliões de dólares. Postos de trabalho tem sido criados, mas em menor número do que o desejável e em posições que pagam salários baixos.

Entretanto a bolsa de Toronto tem recuperado desde as descidas da primavera. Ainda a mês e meio do fim do ano podem-se já assinalar certas tendências e comentar acerca de alguns sucessos e insucessos de 2004.

Entre os insucessos encontra-se BOMBARDIER, que continua em dificuldades. Acções são transaccionadas a menos de $3.00 dólares. Nem mesmo as boas “ligações” com o governo federal têm evitado as dificuldades da companhia. Despedimentos de operários continuam pelas fábricas em vários países e há indicações que um dos clientes com que Bombardier contava, a companhia americana de aviação Delta, possa seguir o caminho de Air Canada e entrar em bancarrota.

AIR CANADA saíu de bancarrota com as finanças em boa ordem. Há até um certo optimismo no meios da indústria aeronáutica pelas possibilidades da companhia. Temos a considerar que a indústria é altamente competitiva e sujeita a muitos imponderáveis. Não nos admiramos que prejuízos apareçam num futuro próximo e o valor das acções comece a descer de novo.

OPEN TEXT está em descida vertiginosa desde o verão. Há dúvidas acerca das perspectivas de sucesso desta companhia de software. Esta é outra indústria que provoca muitas noites em claro naqueles que nelas investem.

Um sucesso tem sido ATI TECHNOLOGIES INC. A companhia, que produz “chips” gráficos continua a expandir o seu negócio e aumentar as receitas. Televisão digital é a nova área de crescimento. Se 80% das vendas da companhia são para PCs, telefones celulares e televisões digitais entram agora na equação. O maior competidor de ATI é Intel. Nestes últimos dias os gestores foram acusados de “inside trading”. Isto não deve afectar as actividades e resultados financeiros de ATI.

Durante o ano o governo do Canadá vendeu as acções que ainda possuía de PETRO CANADA, a companhia canadiana de petróleo. A maior parte delas já eram transaccionadas publicamente.

Petro Canada foi criada pelo governo do Canadá nos princípios dos anos 70, quando da crise do óleo em 1973. O objectivo ao estabelecer a companhia foi de libertar o país da dependência do cartel de óleo - OPEC. Comprando pequenas companhias petrolíferas e subsidiárias de empresas estrangeiras; usando legislação e oferecendo incentivos nos impostos para exploração, criou-se uma presença canadiana na exploração, refinação e venda de petróleo. Esta é uma história de sucesso.

ROGERS WIRELESS COMMUNICATIONS INC adquiriu a quarta companhia de comunicações celulares, MICROCELL TELECOMMUNICATIONS INC. TELUS tentou adquiri-la, mas Rogers apareceu com uma oferta melhor que Microcell aceitou. Agora as companhias canadianas de telemóveis estão reduzidas a três. Rogers tem um débito elevado. Interessante que após a aquisição de Microcell, as acções de Rogers desceram e as de Telus subiram. Sucesso ou insucesso para Rogers? O futuro dirá

FUNDOS DE INVESTIMENTO

FUNDOS DE INVESTIMENTO têm estado na ordem do dia e não atravessam um momento favorável. No passado pareciam ser a única possibilidade para investidores, quando eles queriam investir na bolsa. Agora não só as despesas elevadas de administração de muitos dos fundos provocam um carregar de sobrancelhas de investidores, como acusações de actividades impróprias na indústria, como “market timing”, estão a afastar muitos de fundos de investimento. Simultaneamente pequenos investidores afoitam-se a investir directamente na bolsa, aproveitando as facilidades oferecidas por discount brokers e internet trading. Não admira que Fundos de Investimento estejam a perder parte da atracção que tiveram no passado.

Um tema debatido na imprensa da especialidade é o chamado market timing, que é essencialmente usado por profissionais experientes investidos em mercados estrangeiros.

Estes investidores entram e saem dos fundos de investimento quase instantaneamente. Eles beneficiam da diferença de horas entre países. Enquanto na América do Norte as bolsas estão fechadas, acontecimentos económicos ou políticos influenciam as bolsas de outros países, por exemplo as da Ásia.

Fundos de Investimento calculam o valor dos seus investimentos uma vez ao fim do dia, quando os mercados fecham, o que é conhecido como Net Asset Value. Market timers aproveitam-se do facto das unidades dos Fundos de Investimento não serem avaliadas no próprio momento.

Devido a discrepâncias entre o valia (real) das acções do fundo e o preço das unidades (cotação diária oficial) o valor dos fundos fica repentinamente out-of-date. Ísso é explorado habilmente por Hedge Funds e outros market timers.

Segundo jornalistas que investigaram o uso dessa actividade, ela é comum tanto nos Estados Unidos como no Canadá. Uma investigação feita pelo Globe & Mail revelou que devido a esta prática, companhias de Fundos vêem as suas despesas aumentar em milhões de dólares e consequentemente os lucros reduzidos.

Hedge Funds são especialistas nesta espécie de actividades. Utilizemos o seguinte exemplo: gestores de Hedge Funds ao terem conhecimento de que houve uma grande subida em Nova Iorque, crêem que mercados na Ásia seguirão o mesmo caminho quando reabrirem no dia seguinte.

Antes dos mercados americanos fecharem eles investem milhões, comprando unidades de fundos asiáticos a $10.00. Porque os mercados em Tóquio ou Soul fecharam 14 horas antes do de Nova Iorque, acções dos fundos estrangeiros ainda não reflectem a subida em Nova Iorque. O gestor pensa que os acontecimentos em Nova Iorque irão afectar a bolsa asiática. Isso acontece na verdade. As bolsas sobem 3%. Agora o seu investimento de $10.00 vale $10.30. Eles vendem imediatamente as unidades e realizam um lucro de 3% num simples dia.

Esta actividade aumenta as despesas dos fundos e prejudica os restantes investidores. Se a prática não é ilegal, uma medida para a eliminar seria para as companhias de fundos porem uma despesa automática no valor do investimento quando eles são redimidos antes dum determinado período de tempo. (TD Asset Management cobra 2% automaticamente para investidores que redimem unidades dentro dum período de 90 dias).

Com a publicidade dada a este assunto é natural que a prática seja reduzida, mas muitos outros problemas persistem na indústria.

VENDER

Quando abrimos um jornal ou “newsletter” da especialidade, e procuramos “recomendações” de acções, normalmente o que encontra são acções para comprar, mas não nos devemos esquecer que o que se compra vende-se.

O ideal seria comprar e manter as acções indefinidamente. Infelizmente, condições económicas, políticas e sociais no país, aliadas a alterações na indústria e na própria companhia, resultam numa evolução que pode ser positiva ou negativa. Boas companhias são confrontadas com acontecimentos imprevisíveis ou nova competição. As razões para um declínio no valor de acções podem ser muitas, justificadas por acontecimentos reais ou injustificadas por falsas percepções.

Há muitas circunstâncias em que se devem vender as acções. A mais óbvia é quando há necessidade de fundos. Outra é quando o preço é muito elevado em relação ao valor das mesmas e não se prevê um melhoria em lucros num futuro próprio.

Há situações em que o preço das acções é elevado e já temos um bom lucro nelas. Por vezes há dúvidas se não se poderão fazer uns cêntimos mais... Não nos devemos esquecer de que É MELHOR VENDER MUITO CEDO, DO QUE VENDER MUITO TARDE.

Naturalmente que as decisões são baseadas em percepções, que por vezes são diferentes da realidade. Mas, quem pode adivinhar o futuro? Há certos sinais que não se devem ignorar. Há também indicações óbvias de problemas, quando gestores começam a abandonar a companhia. Eles sabem coisas que nós ignoramos.

Existem ainda companhias que se encontram em dificuldade. As suas acções baixam... Que se deve fazer? Aqui as dúvidas aumentam. A primeira reacção é mantê-las, pois com um preço baixo pensa-se que elas subirão. Mas será que a companhia recuperará? Se a companhia vai falir não interessa que as acções sejam negociadas a 1 dólar ou um cêntimo. Quem investiu $1,000 dólares, perdeu $1,000 dólares.

Quando se compram acções duma companhia nunca se deve “perder de vista” o que acontece com ela. Quando na posse dum investimento esse tem que ser avaliado diariamente.

Finalmente, e do ponto de vista de impostos sobre capitais, é prática, no Canadá, vender as “percas”, pois que o prejuízo pode ser usado para reduzir os impostos a pagar nos “ganhos”.

(15 de Novembro de 2004)

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