ANO 9 .............................................. No. 53

JANEIRO - FEVEREIRO 2005 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Custa a crer mas estamos a entrar no nono ano de publicação. Durante estes oito anos assistimos a grandes transformações no panorama financeiro do Canadá e na bolsa de Toronto. Algumas das companhias nomeadas no BOLETIM tiveram excelente actuação excedendo os nossos melhores prognósticos, outras desapareceram ao serem compradas por competidoras e uma entrou em bancarrota – Laidlaw.

A lição aprendida é que nada se mantém inalterável. Há sempre alterações e transformações. Quando se investe tem que se estar permanentemente atento a acontecimentos relacionados com os investimentos. Apesar de todo o cuidado e atenção que se devota ao mercado há sempre imponderáveis e surpresas, por vezes agradáveis, por vezes desagradáveis.

Alguns leitores perguntam-nos porque não apresentamos companhias de pequena capitalização, geralmente conhecidas por small caps, aquelas que têm maior possibilidade de crescimento e de oferecer maiores lucros no futuro. Se bem que tal seja verdade, tais companhias oferecem maiores riscos e tal como aparecem assim desaparecem. Outra preocupação, para um investidor novato, é que estas são mais difíceis de investigar e nem sempre são seguidas por analistas. É certo que algumas oferecem boas oportunidades e muitas das grandes empresas de hoje já foram pequenas uma vez, mas, ao investir-se nelas os riscos são maiores. No próximo número abordaremos este assunto.

Este número do BOLETIM sai atrasado. Nele fazemos uma ligeira apreciação ao ano que passou e apresentamos algumas previsões para o que agora começa. A próxima edição (Março de 2005) sairá nos últimos dias de Fevereiro.

2005 – QUE NOS RESERVARÁ?

Em 2004 a bolsa de Toronto aumentou 12.5%. Mesmo os mais optimistas não crêem que ela possa repetir a proeza neste ano que agora começa. Pelo contrário, economistas e outros peritos prevêem que uma “correcção” ocorrerá em 2005.

A surpresa do ano foi a recuperação do dólar canadiano. A moeda resolveu surpreender-nos e começar uma subida, isto claro em relação à moeda dos Estados Unidos. Desde a primavera de 2003 o chamado “loonie” tem recuperado parte do que perdeu no passado. Após um câmbio de 64 cêntimos em relação ao americano chegou ao fim de 2003 a 77 cêntimos. A subida continuou e acabou o ano de 2004 a 83 cêntimos.

As opiniões dividem-se acerca do que se passará daqui para diante. Os pessimistas argumentam que o impacto dum dólar forte (?) ainda não se reflectiu nas exportações canadianas e quando assim acontecer, a moeda descerá. Além disso há a possibilidade duma baixa de preços das matérias-primas, o que contribuirá também para a queda da moeda. Optimistas, pelo contrário, prevêem a continuação da subida, chegando até a prognosticar o câmbio de um dólar canadiano por um dólar americano.

Ouro tem os seus adeptos fiéis. Os entusiastas do metal pensam que ele está predestinado para uma longa corrida neste 2005. Inflação, outros mau estares económicos e a queda do dólar americano favorecem o ouro. Uma maior procura e menor oferta é um outro factor a considerar. Os prognósticos são de que o preço por onça do metal em 2005 poderá ir de $400.00 US a $550.00 US.

Prata é considerada o ouro dos pobres, mas ela aumentou mais do que ouro em 2004 e analistas crêem que ela repetirá a proeza este ano. Moderando o aumento de preço do metal são vendas feitas por governos. China tem vendido massivas quantidades de prata, mas desconfia-se de que as suas reservas estão-se a esgotar. Se a prata não é importante como investimento, ela é procurada para aplicações industriais, joalharia e fotografia.

Produtos petrolíferos continuam a ter entusiastas. Se o preço do barril de óleo baixou nos últimos dias do ano, ele continua ainda elevado, comparado com o de 2003.

Quanto ao crescimento económico do país economistas prevêem que o produto nacional cresça à volta dos 3%. Veremos o que o futuro nos reserva.

CONCEITOS SOBRE INVESTIMENTO

Antes de começarmos a investir façamos uma recapitulação do que temos discutido até agora.

Em primeiro lugar falemos de dividendos. Companhias que pagam dividendos são geralmente companhias com grande capitalização, que já passaram o período de crescimento e se encontram estabelecidas.

Dividendos constituem a primeira linha de defesa de investidores. Eles constituem, geralmente, prova de boa saúde financeira. Mesmo quando o preço das acções desce, um dividendo representa uma recuperação do capital investido.

Inúmeros estudos feitos confirmam que investidores em acções de companhias que pagam dividendos, têm obtido melhores resultados do que aqueles investidos em acções de “growth” e têm, igualmente, sobrevivido melhor às descidas do mercado.

Boas companhias devem no entanto equilibrar a distribuição de dividendos com a aplicação de fundos para manutenção e futuras actividades da empresa. Uma companhia que oferece dividendos elevados é TransAlta. Debatemo-nos muitas vezes se a devemos ou não apresentar no BOLETIM. O que nos retém é que eles correspondem praticamente à totalidade dos lucros. Duvida-se que tal dividendo elevado possa ser mantido.

É preferível investir em companhias que ofereçam dividendos menores, mas que subam periodicamente do que em companhias que os ofereçam elevados mas sem nunca os aumentar.

Falemos agora em Mutual Funds.

Para muitos investidores a maneira prática de investir na bolsa é através de Mutual Funds. Não só há fundos para todos os gostos como também é fácil adquiri-los através de instituições bancários. Mas, antes de se investir em fundos de investimento devem-se compreender as características e objectivos de cada um deles. Neste caso, a leitura da prospectus do fundo é essencial.

Uma queixa comum de investidores, refere-se ao custo elevado de despesas de administração, conhecido como MER (management-expense ratio). Quanto maior a verba dirigida para administração menos fica para investir. Importante é também investigar a actuação dos fundos, se bem que boas actuações no passado não constituem garantia de se repetirem no futuro.

Recentemente, Fidelity Investments reduziu o MER dos seus fundos. Embora a redução tivesse sido pequena ela redirigiu o focos de atenção dos investidores para os custos administrativos.

Closed-end Funds são diferentes de Mutual Funds. Eles podem ser monótonos mas têm os seus adeptos. As características destes investimentos são diferentes das dos Mutual Funds. Elas são as seguintes: um número fixo de acções; geralmente listados nas bolsas; negociados como acções; tendem a ser transaccionados a um valor mais baixo do que o real (Net Asset Value) e podem pagar ganhos de capital e dividendos.

Income ou Investment Trusts continuam na ordem do dia e apesar das previsões pessimistas de alguns, eles continuam a subir e a atrair investidores.

Nesta espécie de investimento há que distinguir as diferentes categorias, por assim dizer, exploração de óleo e gás, condutas, propriedades (REITS) e negócio em geral (business trusts). Cada categoria tem diferentes características e entre elas os chamados “business trusts” merecem especial cuidado.

Há um ano atrás Rob Carrick sugeria que o “party” para Income Trusts tinha acabado, e que nos esquecêssemos de ganhos de capital e esperássemos apenas distribuições (The Globe & Mail, 20-Dezembro-2003). No entanto, a festa continua...

Devido ao entusiasmo do público por este género de investimento, inúmeras empresas boas ou más, antigas ou modernas continuam a transformar-se em Income Trusts.

Tudo se converte em Income Trust. Temos o exemplo de HOT HOUSE GROWERS(VEG.UN). Quem se havia de lembrar que uma companhia produtora de tomates começasse imediatamente a ser negociada publicamente como Income Trust? Mau tempo e fracas colheitas obrigaram-na a suspender distribuições... Depois temos casos de escritas adulteradas... ATLAS COLD STORAGE (FZR.UN) é um exemplo, quando a falsificação foi descoberta distribuições foram suspensas e o preço das unidades veio para metade. Se nem tudo que luz é ouro, nem todos os Income Trusts inspiram confiança.

Temos ainda os REITS (Real Estate Investment Trusts) que desafiando as leis da gravidade continuam a ver o preço das unidades a subir. Se incluirmos distribuições, o índice mostra que, em 2004, investidores tiveram lucros anuais de mais de 20% nalguns REITs. OLYMPIA & YORK (29% de lucro) e RIOCAN (24%) sobressaíram numa lista vasta.

UPS – DOWNS

Houve muitos sucessos e alguns insucessos em 2004.

UP - CENTURION ENERGY (CUX-Toronto) – Um sucesso extraordinário. Esta companhia procura óleo no Norte de África. As acções começaram o ano à volta de $2.00 e acabaram a $14.70.

UP - FIRST CALGARY (FCP-T) – A companhia dedica-se à descoberta e exploração de óleo e gás. O valor das acções aumentou para o dobro desde Abril. First Calgary tem conduzido testes na procura de óleo e gás no Norte de África (Algéria) como associado minoritário da companhia do governo argelino.

UP - TELUS (T-T)– Uma recuperação extraordinária em 2004. As disputas com sindicatos não estão ainda resolvidas, mas tudo parece correr de feição para a companhia. Depois de “cair” até 8 dólares e tal, as medidas tomadas para uma recuperação foram importantes e o dividendo, cortado na ocasião, voltou à forma antiga. As acções são negociadas agora entre $35.00 e $36.00 dólares.

UP – EUROZINK (EZM-T) - Uma companhia desconhecida até à pouco, produziu 320,000 toneladas de cobre em 2002 numa mina do Alentejo. As acções fecharam o ano a 70 cêntimos, um aumento de 41 cêntimos em relação ao ano anterior. Em 2004 cobre foi vendido ao preço médio de $2,780.00 dólares americanos por tonelada. A apreensão agora é se haverá uma baixa no preço do metal.

UP - TRANSAT A. T. (TRZ-T) - Uma das estrelas do ano foi esta companhia de aviação envolvida em turismo e excursões. TRANSAT A.T. vende “packages” e faz voos charter para várias áreas do mundo, inclusive para Portugal. No princípio de 2004 as acções eram negociadas à volta de $4.00 e no fim do ano a $24.10. Um sucesso onde muitas outras têm falhado.

DOWN - ROYAL GROUP TECHNOLOGIES LTD (RYG.sv-T) – Com um accionista a controlar a companhia os problemas multiplicam-se (tal como investigações pela polícia). Esta é uma companhia para esquecer. Quem até agora não se desfez das acções deve aproveitar qualquer subida para o fazer.

DOWN - QUEBECOR WORLD INC. (IQW-T)– Esta foi uma das decepções de 2004. A empresa está envolvida em tipografia avançada. Apesar de excelentes ganhos no último trimestre, Quebecor tem um débito elevado e um racio price-to-earnings exagerado. Este é um “stock” que pode movimentar-se em direcções opostas em 2005.

DOWN - CP SHIPS (TEU-T)– Enquanto esperaríamos que deste tipo de negócio mostrasse resultados aceitáveis e consistentes, a actuação da companhia decepcionou. Problemas contabilísticos, accionistas “levando” a companhia a tribunal, resultados mais fracos do que os antecipados, analistas a fazer “downgrade” da empresa, CEO abandonando a companhia após apenas sete meses no posto e o Presidente acusado de negociar acções aproveitando-se de conhecimentos não do conhecimento público. Problema atrás de problema. As acções acabaram o ano a $17.19 quando tinham começado a $26.90. Afirma-se agora que os cargueiros são pequenos... No entanto, esta é uma empresa que beneficia da globalização e não deve ser perdida de vista...

(15 de Janeiro de 2005)

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