ANO 9 .............................................. No. 54

MARÇO - ABRIL 2005 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

O índice da bolsa de Toronto (S&P/TSX) atingiu o seu ponto mais elevado em mais de quatro anos.

Apesar das dúvidas sobre a direcção da economia, o mercado continua a subir. Basta consultar as estatísticas de novas altas e novas baixas durante o ano para se ter a confirmação disso. Muitas as primeiras, poucas as segundas. Mas sabendo-se que após subidas vêm descidas e que existem problemas económicos, tanto na América como na Europa, devemos “olhar” para o mercado com precaução.

No presente número do BOLETIM resumimos alguns dos acontecimentos importantes na área de investimentos no Canadá na secção de NOTÍCIAS. Na outra rubrica, INVESTIMENTOS PARA 2005, tal como prometemos no número anterior, apresentamos três companhias de pequena capitalização que são prometedoras.

NOTÍCIAS

HOLLINGER – CONRAD BLACK

Conrad Black foi nomeado a figura mais importante do ano no mundo de negócio pela organização CANADIAN PRESS AND BROADCAST NEWS. Mas ser a mais importante não significa ser a mais apreciada, neste caso será mesmo o oposto.

Lord Black é uma figura folclórica, mistura de Napoleão e Enciclopedista. O seu desdém pelo comum é perceptível pelas suas atitudes e uso de linguagem de alta linhagem.

Esta figura alegórica do mundo de negócio continua envolvida numa teia de processos legais relacionados com as companhias que, directa e indirectamente, tem controlado. Após ter perdido o controle de parte dos seus investimentos e ter que vender algumas das suas propriedades espalhadas por esse mundo fora, Lord Black continua a batalhar aqueles que ele considera “seus inimigos”.

ROYAL GROUP TECHNOLOGIES LTD.

Royal Group continua a dar que falar. A investigação sobre transacções da companhia, que começou há um ano atrás, parece ter atingido o seu ponto crítico.

Investigadas são as transacções financeiras feitas por Vic De Zen (principal accionista) e outros executivos. A investigação e apreensão de documentos bancários datados desde 1996 continua.

Em Fevereiro de 2004, a Polícia Montada Canadiana, a Comissão de Securities do Ontário e o Ministério Federal das Finanças iniciaram uma investigação para estabelecer a relação entre um grupo de executivos de Royal Group e um Resort nas Caraíbas – the St. Kitts Marriott Resort & Royal Beach Casino. A polícia suspeita da existência de fraude...

GOLD CORP INC. - WHEATON RIVER

Uma “ merger” amigável entre Goldcorp e Wheaton River foi disputada por outra companhia mineira - Glamis Gold Ltd.

Accionistas de Goldcorp foram convidados a votar pela união de Goldcorp e Wheaton River. Glamis pretendeu igualmente adquirir Goldcorp, mas se a união entre aquela e Wheaton fosse aprovada pelos accionistas de Goldcorp o “hostile take-over” ficava sem efeito.

Accionistas de Goldcorp receberam muita informação, pro e contra, das respectivas companhias. Até as circulares de Glamis (Dissent Voting Instructions Form) vieram em azul para se distinguirem das dos boletins de voto fornecidos por Goldcorp.

A 10 de Fevereiro, accionistas de Goldcorp decidiram a disputa. Eles aprovaram a merger com Wheaton River por margem substancial e Glamis desistiu do caso.

BANK OF NOVA SCOTIA

No primeiro de Fevereiro, o Banco de Nova Scotia teve uma surpresa desagradável ao ver entrar na sua sede, pela manhã, dezenas de investigadores da policia com uma ordem judicial para analisar e apreender documentos bancários relacionados com Royal Group.

Membros da divisão chamada “Market Enforcement Team” invadiram o banco. Eles foram seguidos por uma onda de repórteres da televisão, rádio e imprensa, enquanto, na rua, carrinhas da polícia estacionavam umas atrás das outras perante os olhares curiosos daqueles que passavam no local. Muitos destes pensaram que se tratava da filmagem duma cena dum filme de Hollywood, o que é frequente no centro da baixa de Toronto. Mas o caso era mais sério. Munidos duma ordem judicial, investigadores ocuparam gabinetes, apreenderam documentos e, ao saírem ao fim do dia, selaram as instalações onde trabalhavam. Para dar mais ênfase ao caso até inspeccionaram gabinetes para se certificarem de que não existiam aparelhos de escuta... À cena só faltou a presença de James Bond...

INVESTIMENTOS PARA 2005

ACÇÕES

Onde investir em 2005 não é decisão fácil. O mercado está caro e é difícil encontrar acções de boas companhias públicas transaccionadas a preços razoáveis. Olhando aos preços com que as acções são negociadas somos obrigados a refrear o nosso entusiasmo.

Os sectores bancário e de energia (petróleo e gás) continuam a ser negociados a preços elevados que batem todos os recordes. Possivelmente, a melhor atitude para aqueles que querem investir em companhias destes sectores é de esperar por uma baixa de preços.

Dentro dos bancos, Royal Bank teve problemas recentemente (possivelmente a melhor razão para investir nele), mas quando a 25 de Fevereiro apresentou os resultados do trimestre, melhores do que os antecipados, as acções aumentaram $6.10 – ou seja 9%.

Os cinco maiores bancos canadianos tendem a emular uns aos outros. Alguns estudiosos do mercado argumentam que se deve investir na instituição bancária que está a fazer “pior”, pois que ela recuperará e é a candidata para maior subida. O caso do Royal Bank reforça este argumento.

Duas companhias do sector de energia recomendadas por analistas são Encana Corporation e Petro-Canada.

ENCANA CORP. é uma companhia relativamente moderna. Ela foi criada em 2002, resultado da amalgamação de Alberta Energy e PanCanadian. É a maior companhia independente do sector no país. Ultimamente começou a vender algumas das suas propriedades de óleo e a concentrar-se mais na produção de gás.

Começando tarde, ela compete de igual por igual com as mais antigas do ramo petrolífero – Shell, Imperial Oil e Suncor. Com um dos maiores depósitos de gás e óleo na América, EnCana tem sempre lucros, mesmo com óleo negociado a baixo preço.

PETRO-CANADA é outra companhia recomendada. A companhia não teve actuação exceptional em 2004, por isso tem mais “room” para subir.

TSX GROUP, com o monopólio da bolsa de Toronto e Vancouver, é uma “fábrica” de fazer dinheiro. Quanto maior o volume de acções negociadas nas bolsas de Toronto ou Vancouver mais lucros TSX tem. Não há competição à vista e não se vê como o aumento de horas de actividade na bolsa de Nova Iorque poderá afectar negativamente o TSX.

NORBORD INC. pertence ao sector de produtos florestais. Esta é uma companhia que merece a pena ser investigada. É certo que o valor das acções aumentou 43% em 2004 e que o sector não é dos mais tranquilizadores. Mas com um dividendo de 3% Norbord entra em 2005 em boa situação financeira.

Duas companhias que gostamos são EMERA e CANADA BREAD, mas com as acções de ambas a estabelecer novos recordes de alta, uma atitude a tomar é apenas segui-las de perto e aproveitar alguma baixa que ocorra no futuro para investir nelas.

Como prometemos no número anterior apresentamos três companhias de pequena capitalização que merecem consideração. Estes são investimentos para investidores mais agressivos.

KILLAM PROPERTIES INC. (KMP) é entre as companhias pequenas a nossa preferida. A companhia, baseada em Halifax, continua a sua estratégia de consolidação dum mercado fragmentado, tendo adquirido em Dezembro mais um portfolio de 433 apartamentos em Saint John, New Bruswick. O número de apartamentos que possui é agora de 6,133, um aumento de 240% desde o principio de 2004.

Desde que entrou no Toronto Stock Exchange as acções têm estado em subida permanente. Negociadas a $1.75 no princípio de 2004 são agora negociadas à volta de $2.84.

SAVARIA (SIS) é uma companhia pequena que produz e distribui equipamento para “facilitar mobilidade“ de pessoas idosas e com deficiências físicas. Tem 300 representantes, a maioria nos Estados Unidos(65%). Recentemente fez um contracto para distribuição de elevadores para residências em Dubai, no Golfo Pérsico.

O que é interessante é que a companhia tem lucros, o que é raro em companhias pequenas ou recém constituídas. O lucro anual por acção foi de 16 cêntimos.

Preço recente das acções: $1.62 (Anual: $1.92-$1.41).

PULSE DATA INC.(PSD) é outro caso curioso. A companhia tem uma livraria de informação sísmica para o oeste do Canadá, que é usada por companhias que procuram óleo. Pulse Data é uma companhia pequena, mas actua como se fosse um “blue chip”. Não só já dá dividendos, como até tem um plano de reinvestimento de dividendos, este agora aberto a americanos... Isso é indício de que Pulse Data confia que poderá continuar a pagar dividendos. Invulgar para uma companhia pequena.

Preço recente das acções: $1.99. ($2.19 - $$1.41). Lucro anual: 9 cêntimos, dividendo: 5 cêntimos.

Muitas Companhias de pequena capitalização não têm liquidez. Isso pode constituir um problema para aqueles que querem vender acções numa emergência.

MUTUAL FUNDS

Se bem que Open-end funds (Mutual Funds) perdessem a preponderância que tiveram no passado, agora que investidores se atrevem a investir directamente na bolsa, eles continuam a ser importantes para muitos, noviços ou experientes.

A atracção desta forma de investimento é: juntar capital com outros investidores num sistema de “pool”; ter uma gestão profissional; obter diversificação conseguida através de acumulação de capital e a possibilidade de transferências entre fundos da mesma companhia.

Dois factores importantes a considerar quando se investe em Mutual Fundos são: a actuação do fundo e as despesas de administração. Jornais da especialidade fornecem informação detalhada sobre fundos e comparações de resultados por períodos de um a dez anos. A “prospectus” fornecida pelo fundo é um documento que explica os seus objectivos e que deve ser lido e compreendido.

INCOME TRUSTS

Income Trusts, também conhecidos como Investment Trusts, têm sido a grande atracção do mercado nestes últimos tempos e agora há uma outra razão para investidores se sentirem confiantes nesta forma de investimento. Standard & Poors Corp., que administra os índices da bolsa de Toronto, decidiu incluir trusts no índice S&P/TSX. Esta decisão, no dizer dum técnico, reconhece a legitimidade dos trusts. A decisão por si própria constitui boas e más noticias. Boas, no aspecto que obtiveram respeitabilidade e maior liquidez, e más, principalmente para potenciais compradores, porque instituições começarão a investir neles, o que resultará numa maior procura e aumento no custo das unidades. As distribuições, sendo as mesmas, resultarão em menor dividendo.

Há anos atrás havia apenas dois tipos de trusts, uns focados em energia, outros em propriedades (REITs). Agora há trusts de todos os géneros: produção de café, sardinhas de conserva, produção de tomates, etc. Muitas companhias transformam-se em trusts. Ao transformarem-se em trusts elas abandonam a ideia de “crescimento” e distribuem quase a totalidade de lucros. Aquelas que eram más como companhias públicas continuam sendo más como trusts. Não é de admirar que muitos analistas prevejam uma queda dramática no sector.

Defensivamente, REITs, investidos em propriedades, oferecem a melhor protecção. Em energia deve-se investigar o período de vida das reservas de óleo ou gás. Companhias podem comprar novas propriedades para compensar a redução de reservas, mas, ou aumentam o débito ou emitem mais unidades, o que tem efeitos diluíveis nas acções.

Aparte dos sectores de energia e de propriedades, gostamos de OCEANEX (OAX.un), mas as unidades são agora transaccionadas a preço elevado.

Uma companhia a considerar é ROYAL HOST (RYL.un). Ela tem 35 hotéis, administra várias propriedades e tem direitos de franchise de Travellodge. Royal Host teve uma baixa devido à diminuição de turismo resultante da pneumonia atípica. (SARS). Receitas diminuíram e a distribuição mensal foi reduzida de 4 para 2 cêntimos mensais. A recuperação de Royal Host depende muito do turismo. Um problema: é difícil avaliar a actuação financeira deste trust, por isso temos certas reservas sobre ele.

EXCHANGE-TRADED FUNDS (ETS)

Investidores devem também considerar investir em ETSs (exchange-traded funds), que constituem uma boa alternativa aos index mutual funds. Estes investimentos (iUnits) duplicam índices de acções, obrigações, energia, etc. O recentemente criado iUnits Canadian Bond Broad Market Index Fund copia o Scotia Capital Universe Bond index. As despesas de administração são uns meros 0.30%. Compare-se isto com o custo de administração dos fundos de obrigações de mutual funds, que andam à volta de 2% e vê-se imediatamente a vantagem dos ETSs.

Como dissemos inicialmente o mercado está caro. No entanto existem sempre possibilidades. Aqueles que queiram investir na bolsa poderão investigar algumas das companhias nomeadas, tomando atenção a notícias e resultados financeiros das mesmas. Não há necessidade de tomar decisões apressadas. Condições alteram-se com frequência e mais vale perder uma oportunidade do que fazer um investimento desastroso.

(28 de Fevereiro de 2005)

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