ANO 9 .............................................. No. 57

SETEMBRO - OUTUBRO - 2005 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Promessas nem sempre podem ser cumpridas. Quando começámos a elaborar este número do BOLETIM era nossa intenção tê-lo pronto no dia 1 de Setembro. Tudo estava preparado para que ele aparecesse na data devida, mas o homem põe e Deus dispõe. Uma série de problemas impediram que tal acontecesse. O mais grave foi, sem dúvida, ocasionado pelo computador, que falhou e teve que ser reparado. Assim, apesar de nos termos esforçado para entrar numa regularidade, tal não foi possível.

Neste número do BOLETIM examinamos Convertible debentures. Isto correspondendo a um desejo manifestado por dois dos nossos leitores. Por ser de interesse geral resolvemos escrever sobre esta forma de investimento. “Convertibles”, tais como outros derivativos, não são fáceis de compreender e portanto deverão ser abordados com a devida cautela.

CONVERTIBLE DEBENTURES

Convertible Debentures começam a atrair a atenção de alguns investidores. Este tipo de investimento oferece certas vantagens: juro garantido e a possibilidade de trocar as debentures por acções, o que pode resultar numa apreciação no valor do investimento.

Companhias emitem convertible debentures, devido a esta ser uma maneira conveniente de adquirir fundos (mais favorável do que débito, este geralmente a juro mais elevado) e mais favorável do que emissão de acções, que resulta numa diluição de capital.

Segundo a opinião dum especialista no assunto, até mesmo alguns corretores “full service” não compreendem a mecânica de “debentures”.

Em termos geral, convertible debentures, por vezes também chamadas "bonds" (obrigações), podem ser trocadas por “common shares”. No entanto as condições em que a troca pode ser feita variam conforme as cláusulas da emissão.

Convertible debenturas têm um direito especial: podem ser trocadas por acções, segundo certas condições, isto é conhecido como “conversion previlege”.

Tal como "bonds" (obrigações), elas oferecem juro fixo e têem uma data de remissão (na qual o valor nominal da "debentura" tem que ser devolvido ao investidor.

Convertible debentures oferecem a possibilidade de apreciação de capital, devido ao facto de poderem ser trocadas por acções comuns, à escolha do possuidor do título, a preço determinado durante um período de tempo.

Uma nova característica (more recente) dalgumas debentures é a “forced conversion clause”. Isto dá maior poder à companhia emissora da debentura, que pode redimir os títulos a qualquer altura.

“Preferred shares” também podem ser trocadas por acções da companhia, à escolha do investidor.

Para investidores a atracção de debentures é que elas oferecem garantia de rendimento e, numa conversão, a possibilidade de participar no crescimento da companhia.

Há diversas fontes de informação sobre debentures. Um “site” que leitores podem consultar é o do National Post web site. http://www.canada.com/national/nationalpost/financialpost/fpmarketdata/convert_debentures.html

NOTÍCIAS

- Interessado em conhecer um pouco mais sobre Income trusts? REPORT ON BUSINESS MAGAZINE (suplemento do jornal Globe & Mail) publicará, na edição de 30 de Setembro, um artigo investigativo sobre trusts.

- CIBC (Canadian Imperial Bank of Commerce) é a última vítima (ou culpado) do escândalo EMRON. O banco concordou em indemnizar accionistas da “falecida” companhia. O custo - 2.5 biliões de dólares. Esta importância excede de longe os lucros anuais da instituição. O que representa isso para accionistas do CIBC? Se dividendos irão continuar estes não deverão aumentar nos anos mais próximos. Nem tampouco podem accionistas contar com o banco comprar as próprias acções para cancelamento.

Para clientes da instituição aumentos no custo de transacções bancárias podem também estar nos planos do banco.

- Mesmo aqueles que decidem ignorar o que se passa no mundo financeiro canadiano estão bem cientes da personalidade folclórica, por vezes controversa, de Lord Conrad Black.

Os problemas de Conrad Black resultam da companhia por ele controlada - Hollinger e as suas subsidiárias. O conhecido financeiro canadiano e os seus colaboradores mais próximos terem sido acusados de desvio de fundos de companhias, por eles controladas, para benefício pessoal. O caso tem sido investigado pelas autoridades financeiras e judiciárias do Canadá e Estados Unidos. Um associado de Black, David Radler, igualmente acusado, aceitou colaborar com as autoridades americanas. Isto é mau presságio para Lord Black, sabendo-se que nestes acordos os que colaboram com as autoridades fazem-no numa tentativa de reduzir ou eliminar a gravidade das suas acções servindo de testemunhas contra os co-acusados.

SHAREHOLDERS ACTIVISMO

Comparados com os accionistas americanos, canadianos são dóceis e complacentes em relação à actuação das companhias públicas nas quais têm investimentos. Frequentemente, nas reuniões anuais daquelas, escutam as más notícias com resignação, chegando mesma a aplaudir dirigentes quando estes falam sobre o futuro brilhante das empresas, mesmo quando estas estão a confrontar um presente terrível... Eles actuam como se sentissem compensados quando lhes oferecem um café, ou coca-cola e sanduíches frias... Com café de graça ou sem café as coisas parecem estar a mudar. Para isso contribuem um ou outro rebelde, os ditos "activistas", que estão cansados de ver o valor dos investimentos descer, enquanto os ordenados, bónus e outras compensações financeiras dos administradores não param de subir.

Agora, algumas propostas apresentadas por gestores das empresas começam a ser rejeitadas por accionistas e algumas, das aprovadas, são-no com maior oposição do que no passado.

Um exemplo de administradores de companhias de defenderem mais os seus interesses do que os dos accionistas são as famigeradas “poison bills”. Estas propostas permitem à gerência duma companhia, numa tentativa de “take over” por outra companhia, de emitir novas acções tornando o “take over” mais dispendioso. Isto beneficia os administradores, que querem conservar as suas posições, mas não os accionistas. Afinal estes não estão lá para votarem e aprovar ou rejeitar o "take over"?

O uso de "stock options" é uma das áreas onde resistência dos accionistas se começa agora a sentir. Compensações excessivas para os gestores, enquanto os accionistas normais nem sempre vêem quaisquer benefícios?

Claro que os investidores institucionais têm exercido pressão no passado, pois que eles têm mais conhecimento e mais “peso” do que pequenos investidores. Mas a hora dos accionistas individuais está agora a chegar.

Desta vez é diferente de quando os "verdes" compravam uma acção da companhia e apresentavam-se nas reuniões anuais protestando o uso de "child labor" em Bengladesh, a destruição do meio ambiente ou o corte de árvores nas florestas virgens da Amazónia.

As igrejas protestantes têem tido uma historia de intervencionalismo que atingiu o seu apogeu quando se agruparam numa associação - Taskforce on the Churches and Corporate Responsibility (TCCR) - para influenciarem empresas para não negociarem com a África do Sul, devido ao apartheid praticado naquele país.

Quando os representantes da United Church se apresentavam nas reuniões anuais exigindo a adoptação de “responsible social policies”, as suas tiradas longas e enfadonhas acabavam invariavelmente por irritar outros accionistas. Se bem que algumas preocupações apresentadas tivessem mérito, a maneira como monopolizavam o microfone mostravam uma certa presunção e desrespeito pelos restantes accionistas.

Mas, desta vez é diferente - são accionistas comuns a mostrar que estão interessados a sério numa administração eficiente das companhias, sem ideologias ou exigencias banais e ridículas. Eles começam a acreditar que os seus votos contam. Isto é bom sinal.

(19 de Setembro de 2005)

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