ANO 10 .............................................. No. 62

JULHO - AGOSTO - 2006 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Após umas merecidas férias estamos de novo em Toronto. Àqueles que nos procuraram na internet as nossas desculpas pelo atraso deste BOLETIM. A próxima edição sairá impreterivelmente a 1 de Setembro.

Ausências do Canadá não significam necessariamente ausência dos mercados canadianos, pois que a internet possibilita a continuação do seguimento das bolsas canadianas. No entanto, o “feeling” do mercado é mais forte quando nos encontramos integrados pessoalmente no meio financeiro do país.

Uma montanha de correio esperava-nos. Além de correspondência pessoal, newsletters financeiras, reportes de companhias e o dito “junk mail”. Nos primeiros dias tratámos de dar caminho a toda a correspondência. Agora, com isso já atrás das costas, (alguns reportes e magazines menos importantes ainda por ler) iniciamos a feitura deste BOLETIM.

COMENTÁRIO

“Mergers and Aquisitions” não desapareceram do mapa. Companhias a engolirem outras companhias (por vezes chamadas beneficamente aquisições amigáveis, noutras hosteis.) continuam.

Quando regressámos a Toronto as discussões referentes à fusão entre empresas mineiras eram o tema do dia, com relevo para Inco e Falconbridge, cujas acções estão presentemente em alta. As de Falconbridge são negociadas à volta de $62.00 (durante o ano $62.00 - $22.19) e as de Inco já aumentaram 44% nos últimos doze meses ($78.50 – $46.65).

Inco fez uma oferta de 21.5 biliões de dólares aos accionistas de Falconbridge (cash a acções) pelas acções da companhia.

Competindo com Inco, uma firma anglo-suiça, Xsrata PLC, fez igualmente uma oferta “hostil” para adquirir Falconbridge. ($52.50 por acção).

Inco decidiu, então, pôr mais valores na mesa. Aliou-se a uma companhia americana produtora de cobre, Phelps Dodge Corp. Esta concorda em comprar o débito de Inco e pretende adquirir a Inco/Falconbridge por $14 bilião de dólares e 303 milhões de acções de Phelps. A nova empresa seria a combinação de Inco, Falconbridge e Phelps.

Se isto não bastasse, Teck Cominco também quer comprar INCO.

Ofertas, contra-ofertas e “poison bills”. Muita gente vai ficar rica...

O preço do petróleo continua a subir. Em Portugal já pagámos mais de 1.40 euros por um litro de gasolina, no Canadá o litro já ultrapassou a barreira de um dólar.

Ao contrário do que seria de esperar o entusiasmo pelo empreendimento conhecido por Oil Sands, em Alberta, abrandou um pouco. Ultimamente têm sido postas em dúvida a viabilidade e vantagens financeiras duma expansão do projecto. Para extrair o óleo do solo é preciso energia, usando gás (que também é caro); há falta de pessoal especializado e as despesas do projecto estão a aumentar dramaticamente. Previsões feitas sobre os custos de exploração parecem agora estar muito longe da realidade.

O Pembina Institute, membro da organização The Oil Sands Environmental Coalition, pediu ao Alberta Energy and Utilities Board para recusar a licença a Suncor Energy para expandir a exploração das suas operações de “oil sands”. A maior preocupação é a degradação da qualidade do ar. A poluição provocada por este género de operações é elevada e segundo o membro do Instituto o requerimento da companhia petrolífera deve ser recusado.

Recentemente o ex-candidato à Presidência dos Estados Unidos, Al Gore, fez comentários negativos quanto à viabilidade do programa, referindo-se à necessidade do uso de energia para produzir energia.

IPOs – INVESTMENT TRUSTS

Um dos artigos mais interessantes que lemos ultimamente refere-se a IPOs (Initial Public Offerings). Ele foi publicado no REPORTER ON BUSINESS (Globe and Mail – 6 de Julho de 2006) e o seu autor é Derek DeCloet.

Quando uma companhia decide tornar-se pública e ter as acções/unidades transaccionadas na bolsa inicia-se uma acção conhecida como IPO.

A companhia contrata uma instituição financeira como agente, para pôr o processo em prática. O agente (“dealer”) estuda a viabilidade do negócio, faz um balanço e a apreciação do seu valor levando em consideração capitalização, receitas previstas, etc. Criando um “pré-forma” (balanço contabilístico) o agente põe um valor na companhia. Após essa avaliação, ele faz as necessárias clarificações e recomendações, aconselhando à empresa a melhor maneira de “enfrentar” o mercado.

A instituição financeira pode actuar sozinha, no que se chama um “bought deal”, ou através dum “banking group” (sindicato composto por várias instituições financeiras) para oferecer as acções aos investidores. Por todo este trabalho agentes recebem uma comissão.

A fascinação dos investidores com investment trusts tem resultado na transformação de muitas companhias para este tipo de investimento. Banqueiros acumulam milhões por cada conversão de companhias.

O cronista usa os exemplos de duas companhias: SPINRITE e ENTERTAINMENT ONE. A primeira foi registada na bolsa de Toronto em Fevereiro de 2005. Os accionistas que compraram as unidades quando elas foram lançadas a público perderam 74% do investimento (mais se as distribuições – agora suspensas - forem levadas em consideração). Outros casos existem em que, aproveitando a euforia dos “trusts”, as instituições bancárias que os promovem, parecem não tomar as precauções necessárias.

Se investidores perderam muito dinheiro, os milhões arrecadados pelos banqueiros (conselheiros) estão garantidos.

Segundo o mesmo artigo, 13 business trusts que foram lançados na bolsa (went public) suspenderam distribuições. Na maioria do caso o problema é débito elevado. Por vezes, alguns recorrem a empréstimos do banco, para poder continuar a pagar aos “unitholders”. Há casos até em que os bancos, ao fazerem empréstimos a essas companhias, fazem-nos com juros mais elevados – como a clientes com crédito de risco. E são esses os mesmos bancos que recomendaram a venda de unidades aos investidores e receberam comissões chorudas...

Em resumo: quando um “investment banker” prepara uma empresa para a tornar em “investment trust” e a recomenda aos seus clientes, ele arrecada milhões em despesas de financiamento, organização, etc. Só que, quando a companhia é negociada na bolsa, ele “aperta a turquêz” e decide se deve ou não financiar a companhia e em que condições.

Uma solução, segundo Mr. DeCloet, é dar probidade ao acto. Desde que os bancos têm tanta responsabilidade na emissão e recomendação destas companhias no mercado público, estipule-se que parte das comissões que eles cobram sejam investidas nas companhias que trouxeram a público e que sejam obrigados a manter o investimento por três anos.

Neste momento, em que se fala tanto em “transparência” esta é uma óptima ideia, mas como muitas outras boas ideias, não vemos possibilidades dela “sair do saco”.

(20 de Julho de 2006)

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