ANO 10 .............................................. No. 64

NOVEMBRO - DEZEMBRO - 2006 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

A 31 de Outubro tínhamos o BOLETIM pronto e nos preparávamos para o transferir para a internet fomos surpreendido por uma notícia, possivelmente a mais importante deste ano, em referência com a Bolsa. O Ministro das Finanças do Canadá, Jim Flaherny, iria introduzir legislação, no Parlamento, alterando as normas que regulam Investment trusts.

Parte do BOLETIM referia-se a Investment ou Income trusts. Perante essa notícia inesperada, ouvida pela primeira vez no noticiário das 6 da tarde na televisão, o artigo do BOLETIM ficou imediatamente desactualizado. Assim, resolvemos adiar este número por alguns dias para o alterar. Tivemos que reescrever o texto e fazer outras alterações. Uma parte dele dedicado a uma companhia canadiana, Alcan, foi excluida. Ela aparecerá na nossa edição de Janeiro.

COMENTÁRIO

A decisão do governo federal de aplicar impostos nas distribuições dos Investment trusts dominaram as notícias nestes últimos dias. A dois meses do fim do ano esta será, sem dúvida, a notícia mais importante deste 2006. Abaixo comentaremos detalhadamente sobre o assunto.

Outros acontecimentos, igualmente dignos de referência: a baixa no preço do petróleo, depois das altas nos meados do ano; o estado da economia e a compra de companhias canadianas por instituições estrangeiras.

Petróleo: - O óleo, que chegou a $78.40 dólares americanos em meados de Julho deste ano, baixou consideravelmente nos últimos meses. No fim de Outubro era negociado a $58.73. Se os investidores em óleo não estão muito satisfeitos, automobilistas sentem-se mais aliviados. Económicas ou Política? Com eleições para o Congresso dos Estados Unidos este ano suspeita-se que se está a exercer pressão nos aliados do Presidente Bush para eles manterem a produção em nível elevado. Todavia a procura de produtos petrolíferos continua a aumentar e novas descobertas são raras. É certo que existem fontes alternativas de energia, mas os avanços nesta área são demasiadamente lentos para exercer grande influência no preço do óleo.

Segundo estatísticas, o crescimento da economia dos Estados Unidos está a abrandar. Aqui a Casa Branca não consegue alterar as condições económicas do país. Se o abrandamento continuar, as economias mundiais ressentir-se-ão e o Canadá não ficará imune.

Todos nos lembramos como Goldcorp assimilou Wheaton River numa “união” amigável. Rob McEwen, o CEO de Goldcorp, passou o testemunho a Ian Telfer, o antigo CEO de Wheaton River. Agora os dois "amigos" estão em disputa. Tudo porque Mr. Telfer está a organizar uma merger entre Goldcorp e Glamis Gold e está preparado para pagar 8.6 biliões dólares americanos pela última.

Se bem que a "merger" entre Goldcorp Inc e Glamis Gold poderá transformar a nova empresa numa gigante da indústria, nem todos os accionistas de Goldcorp estão entusiasmados.

Para Mr. McEwen, a transacção não só será difusiva para Goldcorp, pois que ocasionará a emissão de acções no valor de 67 por cento das acções da companhia, como esta ficará a financiar projectos de risco em que Glamis está envolvida. Mr. McEwen tem uma posição forte em Goldcorp, com acções no valor de milhões de dólares, e argumenta que a "merger" deverá ser posta à votação dos accionistas, Mr. Telfer considera que tal não é necessário. Essa é uma decisão que deve ser tomada apenas pelo "board" de directores.

Para Glamis, o "takeover" parece ser favorável, mas para Goldcorp já não há tanto essa certeza. Quando o "deal" foi anunciado, as acções da primeira subiram, enquanto as de Goldcorp desceram.

O "takeover" the companhias canadianas prossegue. Empresas estrangeiras continuam a comprar companhias canadianas. Num artigo, num jornal financeiro britânico, o cronista afirmou que se assim continuar a bolsa canadiana irá desaparecer.

Segundo estatísticas publicadas recentemente, os "takeovers" de empresas do país por estrangeiros estão avaliados em $78 biliões de dólares americanos. Esta importância é o valor total de 134 aquisições.

Investidores têm agora menor escolha de companhias públicas canadianas. Desapareceram Dofasco, Fairmont Hotels and Resorts, Hudson's Bay, Vincor e muitas outras. Sleeman Breweries Ltd. Foi comprada por Sapporo Breweries Ltd.; ATI Technologies INC adquirida pela segunda maior firma americana fornecedora de chips para computador - Advanced Micro Devices Inc.

A firma anglo-suiça Xstrata PLC adquiriu Falconbridge, depois de uma "luta" contra Inco Ltd. e Phelps Dodge Corp. e Inco foi comprada por uma companhia brasileira, Companhia Vale do Rio Doce. Esta promete manter pessoal ocupado no Canadá.

Mesmo companhias com problemas financeiros recentes foram assimiladas por instituições estrangeiras, como é o caso de Atlas Cold Storage Trust comprada por uma companhia da Islândia.

Income trusts

Se investidores pensavam que Halloween era só para miudagem eles estavam enganados. Nesse dia de bruxas e demónios o Ministro das Finanças do Canadá, mesmo sem se mascarar, pregou um grande susto a alguns investidores. E estes ainda não recuperaram do sobressalto.

No dia 31 de Outubro, após o fecho do mercado, o ministro, Jim Flaherty, anunciou alterações na legislação que regula Investment trusts, por outras palavras, anunciou a imposição duma taxa nas distribuições deste tipo de investimento, tornando trusts comparáveis com corporações na matéria de impostos.

A notícia foi dada após o fecho da bolsa de Toronto. Quando esta abriu, no dia 1 de Novembro, a queda foi vertiginosa, mais de 300 pontos nos primeiros minutos. Todos os trusts caíram em percentagens elevadas e as acções de BCE Inc. e Telus Corp., companhias que tinham anunciado uma conversão, desceram ainda mais.

Investidores, especialmente os reformados, reagiram negativamente à legislação proposta. Income trusts são populares com pensionistas. trusts pagam dividendos elevados, chegando a 15 por cento ou mais nas áreas de exploração e produção de óleo e gás.

Até ao presente Income trusts não pagam impostos ou, se os pagam, é um mínimo. A maior parte do cash existente é transferido para unitholders. Estes, por sua vez, pagam os impostos.

A estrutura dos Income trusts furta aos governos a possibilidade de receber impostos (corporation taxes) e rouba às companhias a possibilidade de crescimento. Produtividade é afectada quando grande parte dos lucros é transferida para unitholders e não é reinvestida na companhia.

O que ocasionou os conservadores a tomar uma decisão que antes de formar governo, tinha refutado?

Primeiro foi Telus que anunciou a intenção de se converter em Trust, depois foi BCE.

Após estes dois gigantes de comunicações terem declarado que se transformariam em trusts, Jack Intz, um técnico de impostos, concluiu que tais conversões resultariam numa redução de receitas para os governos, federal e provincial, à volta de $1 bilião de dólares por ano.

Se o sistema não fosse alterado, as conversões continuariam: teríamos a seguir as grandes companhias de petróleo e gás, Suncor, Encana e até bancos a optarem pela nova forma. Todos deixariam de pagar impostos. A sangria tinha que parar.

Ao que parece a pretendida conversão de Telus, alterou os planos de BCE. Até recentemente BCE tinha argumentado que o ramo das comunicações estava a transformar-se rapidamente e que, como trust, a companhia perderia a flexibilidade de responder às necessidades do mercado. Mas perante as declarações de Telus, BCE mudou de ideias e anunciou que se iria também transformar em trust. Agora as conversões certamente não se irão realizar.

Resta dizer que o novo imposto é imediato para as companhias que se transformarem agora, mas para os tusts existentes, há um período de graça de quatro anos; eles só começarão a apagar impostos em 2011.

Os Estados Unidos e a Austrália já passaram por situação semelhante e perante as "percas" de receitas, tomaram as mesmas medidas fiscais que o governo do Canadá está a tomar.

Estrangeiros têm investido imenso em trusts, especialmente os americanos, pois que o governo do Canadá retém apenas 15% das distribuições, devido a um acordo com os Estados Unidos. Estes serão os mais afectados.

Cremos que investidores reagiram desproporcionadamente ao acontecimento. Há muitos pontos positivos nesta decisão do governo. Citamos apenas alguns:

1) O que aconteceria se as acções de Telus e BCE fossem convertidas em unidades? Para Revenue Canada haveria uma chamada "deemed disposition" de as acções, isto é, elas seriam teoricamente vendidas. No caso das acções estarem a um valor mais alto do que quando tivessem sido compradas, isso resultaria em capital ganhos imediato e impostos a pagar. No caso de Telus, que têm aumentado bastante recentemente, os impostos seriam elevados.

2) Nas distribuições dos Income trusts além de juros e dividendos há ainda um componente - devolução de capital. Neste caso o custo das unidades vai sendo reduzido. Eventualmente o investimento é vendido e a diferença entre a compra e venda é capital ganhos – pagando taxas.

3) A partir do momento que a função dos trusts é distribuir Income aos unitholders, eles estão impossibilitados de comprar companhias com perdas - mesmo quando tal se enquadre na política de investimento da empresa.

4) Metade dos trusts em existência são os chamados "business trusts" - isto é, não são nem relacionados com óleo ou gás ou propriedades (REITs). Há trusts que têm tido actuação decepcionante, mas o simples facto de terem no nome a palavra trust têm atraído muitos investidores. Alguns para manter distribuições têm aumentando o débito, outros são forçados a suspende-las.

5) Ao distribuir quase a totalidade dos lucros pelos investidores, não existe reinvestimento de capital. Empresas perdem a capacidade de modernizar, aperfeiçoar e desenvolver novos produtos e tecnologias. Se para certas empresas o modelo de trust pode fazer senso, temos assistido a companhias envolvidas em tecnologia adoptarem esta forma, arriscando-se a desaparecer ou falir quando os seus produtos se tornarem obsoletos.

6) Investidores bem informados e até grupos de aposentados têm reconhecido que aos trusts falta transparência e responsabilidade.

7) Se a curto termo, a decisão de impor impostos nos trusts afecta negativamente alguns investidores, a longo termo eles possivelmente estarão melhor ao se acabar com esta especulação e conversão desordenada.

8) Se as conversões continuassem sem se pôr travão nas mesmas, eventualmente haveria uma falta de receitas. Sem fundos para cobrir despesas pública (saúde, educação, etc.) o peso dos impostos teria que recair nos ombros dos investidores individuais.

Para aqueles que compraram Income trusts pelas distribuições, resta dizer que, se bem que o valor das unidades tivesse baixado, as distribuições continuarão. Durante quatro anos o cash flow a distribuir pelos investidores não será afectado pela nova legislação, ele só será afectado pelas receitas das empresas.

(5 de Novembro de 2006)

Comentários? Escreva

Voltar ao Índice.


Copyright © 2006 á;lvaro Trigo