ANO 11 .............................................. No. 67

MAIO - JUNHO 2007 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Este BOLETIM sai atrasado e um mais pequeno do que o habitual. O próximo número sairá no 1 de Julho.

A primavera começou e com ela as reuniões anuais dos accionistas de companhias públicas. Muitas empresas escolhem Toronto como o local para terem as suas assembleias gerais. Accionistas, jornalistas, analistas financeiros e simples curiosos correm de reunião para reunião. Estes encontros são úteis, pois possibilitam uma comunicação directa entre investidores e administradores das empresas.

Igualmente, notícias afectando o mercado abundam, desde o julgamento de Lord Black, uma das personalidades mais controversas do Canadá, a ser julgado nos Estados Unidos por actividades financeiras ilegais, até às já tradicionais aquisições de companhias canadianas por entidades estrangeiras. Falamos deste assunto mais abaixo.

COMENTÁRIO

Mal tínhamos acabado de escrever o último número do Boletim quando a bolsa de Toronto teve uma descida forte e inesperada – 2.7%. A caída não resultou de uma baixa das bolsas de Nova Iorque, Londres ou Paris, mas sim da bolsa chinesa - o Shanghai Stock Exchange (descida de 8.8%). Numa economia global, um acontecimento numa parte do mundo afecta, imediatamente, a outra. A queda foi como um tsunami financeiro que varreu continentes.

Jeff Rubin, economista chefe de CIBC World Markets, e personalidade considerada na Bay Street, afirmou que a queda da bolsa chinesa não foi significativa, pois que aquela aumentara 140% no período de um ano.

Após o calafrio, a bolsa de Toronto voltou à calma habitual, mas o mais ligeiro “tremor” poderá afectar, novamente, o mercado. Não nos devemos esquecer que o rally actual da principal bolsa canadiana começou nos fins de 2002 e que subidas contínuas não duram eternamente. Por vezes, correcções fortes tornam-se necessárias. Não só refreiam a exuberâncias de alguns investidores, como trazem senso a preços não justificados.

No panorama petrolífero os dias de drillings contínuos parecem ter abrandado. A razão principal não é a do preço do óleo ter estabilizado, mas com os custos elevados com a procura de novos poços.

ACÇõES A CONSIDERAR

SHOPPERS DRUG MART

Não é a primeira vez que consideramos apresentar SHOPPERS DRUG MART aos nossos leitores. No passado, hesitámos, ao pensarmos que o preço das acções estaria elevado. Agora, decidimos fazê-lo.

Perante inovações, alterações e surpresas, que acontecem continuamente, torna-se necessário actualizarmo-nos, reconsiderar e analisar as firmas à luz de acontecimentos presentes. Conscientes das transformações do presente tentamos assim antecipar o futuro.

Situações e perspectivas parecem, por vezes, alterarem-se hora a hora, se não segundo a segundo. Duas notícias recentes influenciarão a actuação de Shoppers. Boas notícias e más notícias.

Comecemos pelas “más notícias”.

O governo da província do Ontário está decidido a reduzir as despesas de saúde pública e anunciou que pagaria menos às farmácias pelos produtos farmacêuticos ditos “genéricos”. A nova lei, não só reduz o preço pago pelo governo por medicamentos genéricos, como proíbe “rebates” que laboratórios, por vezes, oferecem às farmácias.

Estas medidas aplicam-se a produtos farmacêuticos vendidos através das receitas do ODB (Ontario Drug Benefit), isto é, programas para recipientes da terceira idade, assistência social e outros similares.

Estas “reformas” no sistema estão a ser postas em prática nas restantes províncias do Canadá.

Shoppers Drutg Mart diz que tal não irá reduzir as receitas da companhia.

No lado positivo, um departamento de Shoppers que é altamente lucrativa é o dos cosméticos (Beauty BOUTIQUE). A companhia acaba de anunciar que passará a distribuir, na sua linha de cosméticos, produtos da marca de prestígio (e preço elevado) Estée Lauder. Todos sabemos como a venda de cosméticos é altamente lucrativa e isto é uma boa notícia para a companhia. Há ainda a considerar que muitos dos cosméticos vendidos são importados e pagos em dólares americanos. Com a subida do dólar canadiano, em relação ao americano, importadores beneficiam do câmbio.

Shoppers Drug Mart está presente em todo o Canadá. Começou a sua existência com 17 farmácias em 1962 e tem crescido continuamente. Com 511 farmácias na província do Ontário acaba de inaugurar a número 1000 com um novo estabelecimento, também no Ontário (Don Mills).

Em Quebeque, Shoppers Drug Mart está estabelecido como Pharmaprix.

A companhia tem a sua própria linha de produtos, LIFE.

Com uma população cada vez mais idosa e de vida prolongada aumenta a procura de remédios, suplementos, vitaminas e outros produtos o que deverá beneficiar a firma.

As acções de Shopppers Drug Mart são negociadas na bolsa de Toronto, com o símbolo SC. Preço recente: $51.20 ($53.49/$40.223, o mais alto e mais baixo nos últimos doze meses). O dividendo é relativamente modesto (yield de 1.25%). O P/E é de 25.

NOTÍCIAS

1 - TAKEOVERS

Os takeovers de companhias canadianas continuam. Muitos deles são leveraged takeovers, isto é, aquisições de companhias feitas com débito. Nalguns casos as empresas que adquirem outras usam o cash flow das adquiridas para servir o débito.

O próprio governador do Banco do Canadá, David Dodge, afirmou, recentemente, estar preocupado com o aumento de fundos hedge e grupos de capital que, ao aquirirem companhias canadianas, reduzem o número de companhias públicas e a liquidez do mercado.

2 - BCE Inc.

BCE Inc. ofereceu-se para ser comprada. Após meses de apatia, a companhia dá notícias que enchem páginas e páginas de jornais. O board de directores consultou uma firma especializada neste tipo de aquisições – Kohlberg Kravis Roberts.

Para os accionistas de BCE, a notícia é boa. Frustrados pela actuação modesta da companhia (esquecem-se dos dividendos), receberam favoravelmente a notícia e o preço das acções ganhou movimento.

Entre os interessados: Ontario Teachers Pension Fund, o maior accionista de BCE Inc. (5%), que convidou uma firma americana especializada em buy outs e quer participar na compra e o Canada Pension Plan Investment Board.

3 - BARRICK GOLD CORP.

Barrick, a maior companhia mundial produtora de ouro, eliminou os últimos contratos de venda de ouro a longo prazo – conhecidos como hedging. Hedgindo é como um seguro, é uma garantia de venda a preço fixo. Infelizmente para Barrick, a companhia não pode tirar vantagem da subida do preço de ouro. Os seus contratos têm sido mais baixos do que o preço a que o metal tem sido negociado.

Para sair de hedging a companhia teve que despender $557 milhões de dólares americanos.

4 - LOBLAW COS. Ltd.

Em 19 anos, Loblaw, teve o seu primeiro prejuízo, no último trimestre. Concorrência, numa industria altamente competitiva, e a presença de Wall-Mart no Canadá, obrigou a companhia a uma despesa de reestruturação avaliada em $89 milhões de dólares. Incluídos neste despesa, $15 milhões de dólares para indemnizações a empregados despedidos e despesas com um consultante contratado para elaborar um plano acção para o ressurgimento da firma.

A companhia afirmou que irá reduzir preços, para melhor competir com outras organizações, investir em tecnologia e “trabalhar” nos Real Canadian Super Stores, do Ontário.

6 - ALCAN INC

A companhia americana Alcoa Inc. pretende adquirir Alcan Inc.

Alcoa afirma-se determinada em investir 5 biliões de dólares americanos em fundições no Quebeque e aperfeiçoar a fundição em Kitimac, na Colômbia Britânica.

O governo do Quebeque aprova o takeover, desde que não haja perca de lugares de trabalho. O ministro Federal das Finanças continua à espera dos resultados dum estudo feito pelo ministério para dar o seu parecer sobre a transacção.

Da maneira como as coisas correm não é para admirar que em breve outra companhia canadiana desapareça do mapa.


(15 de Maio de 2007)

Comentários? Escreva

Voltar ao Índice.


Copyright © 2007 á;lvaro Trigo