ANO 11 .............................................. No. 69

SETEMBRO - OUTUBRO 2007 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Quando investidores gozavam as férias de verão eis que os mercados financeiros mundiais sofreram uma queda vertiginosa. A origem do tsunam financeiro teve origem em problemas com hipotecas nos Estados Unidos.

Este número do BOLETIM é dedicado exclusivamente à turbulência que agitou os mercados mundiais, incluindo o de Toronto.

TURBULÊNCIA NAS BOLSAS MUNDIAIS

Quando no princípio de Agosto os mercados financeiros desceram precipitadamente bancos centrais (Banco Central do Canada, Banco Central Europeu, Reserva Federal dos Estados Unidos, entre outros) injectaram biliões no sistema para manter liquidez.

Tudo começou quando o maior banco francês, Banco Nacional de Paris (BNP Paribas), suspendeu o resgate de acções em três dos seus fundos. Os fundos estavam investidos em asset-backed securities e incluíam hipotecas nos Estados Unidos.

A raiz do problema teve origem no crédito imobiliário dos Estados Unidos. Algumas instituições americanas que oferecem hipotecas a juro baixo, estes geralmente conhecidas como subprime, confrontaram-se com um número avultado de empréstimos delinquentes e foram forçadas a entrar em bancarrota.

O problema, inicialmente limitado a algumas companhias envolvidas neste tipo de hipotecas, alastrou globalmente. Repentinamente investidores começaram a preocupar-se com os mercados de capital envolvidos em débito. Não só deixaram de pôr fundos em commercial paper, um produto que inclui hipotecas, como correram a redimir investimentos que se venciam. Resultado: instituições financeiras começaram a ter problemas de liquidez.

Crises das bolsas afectam economias mundiais e as acções rápidas de bancos centrais teve como objectivo deflectir a crise. A falta de dinheiro reduz investimento e torna o crédito mais caro, pois que para compensar um risco maior, investidores passam a pedir rendimento mais elevado para o capital investido.

No Canadá, a maior vítima do dito credit crunch foi uma companhia raramente mencionada nos jornais da especialidade e desconhecida da maioria do público - Coventree Capital Goup Inc.

Coventree foi fundada em 1998 por um grupo de advogados para competir com os bancos, que praticamente tinham ente o monopólio de asset-backed securities. Com $5.5 biliões de dólares em investimentos a vencerem-se Coventree não encontrou compradores para o seu papel e podia apenas redimir $613 milhões. A companhia foi, assim, obrigada a informar investidores para manterem as securities, pois estava impossibilitada de as redimir.

Coventree compra uma variedade de débito a longo prazo, reorganiza-o e revende-o a investidores e fundos de investimento em packages que se vencem a curto prazo. Estas novas packages são conhecidas como commercial paper Este produto é considerado como de pouco risco, pois que está seguros por bens.

A companhia, transforma débito em 9 diferente tipos de commercial paper e estabeleceu um negócio de 16 biliões em asset-backed securities.

Este é um produto que paga juro maior do que obrigações do governo do Canadá, daí a sua atracção para investidores.

Quando as hipotecas conhecidas como subprime falharam, investidores repentinamente amedrontaram-se do commercial paper. A falta de transparência preocupou-os. Este investimento terá ou não hipotecas delinquentes? Repentinamente deixou de haver compradores para o produto e sem compradores Coventree vê-se impossibilitada de pagar o commercial paper a vencer.

Poucos investidores no Canadá tinham conhecimento da existência desta companhia. Nós desconhecíamo-la até que tivemos a oportunidade de assistir à sua Assembleia Geral realizada em Toronto em Março. Ficamos impressionados não só com a actuação da companhia como também com a confiança que os administradores tinham na mesma. Dean Tai, que anteriormente fora um executivo na IBM, fez uma apresentação convincente. Notámos tambem o ambiente familiar reinante entre accionistas e administradores. A reunião pareceu um encontro de família. Accionistas não eram chamados shareholders mas sim owners.

No Canadá, além da acção do Banco Central, algumas instituições financeiras começaram a trabalhar num plano para resolver a crise. Concordaram em converter asset-backed commercial paper (aquele não emitido pelos bancos) em floating-rate notes. Estas notas não se vencem até os valores que as representam se vençam. À frente do grupo estava a Caisse de dépot et placement du Quèbec. Outros participantes: ABN Amaro, Barclays Capital, Desjardin Group, Deutch Bank, HSBC, PSP Investments, Merrill Lynch, National Bank e UBS.

O acordo entre as instituições financeiras para transformar as notas a curto prazo para longo prazo causou problemas para muitas companhias. Um exemplo: New Gold Inc., um dos clientes de Coventree, com $152 milhões em asset-backed commercial paper quis levantar $6 milhões de dólares mas ficou impossibilitado de o fazer.

Eventualmente, mercados de capitais restabelecer-se-ão, mas o mesmo não se pode dizer para Coventree. Agora vai ser difícil para a companhia encontrar clientes para os seus produtos. Será Coventree forçada a vender-se ou unir-se a outra instituição? Os administradores são bastante experientes e competentes, mas os problemas são enormes.

Quanto ao mercado financeiro, crédito pode começar a ser mais difícil, tanto para companhias como para consumidores. Até ao presente bancos e outras instituições financeiras têm oferecido empréstimos com condições bastante vantajosas para clientes. A situação poderá alterar-se.

Instituições financeiras serão, igualmente, mais cuidadosas a facilitar financiamento para mergers e aquisições. A probabilidade de takeover premiums e leveraged buyouts pareceram ter desaparecido no horizonte, pelo menos por estes tempos mais próximos.

Crédito fácil pode trazer consequências nefastas, como agora se está a verificar. Isto passa-se igualmente em Portugal. Pessoa conhecida disse-nos que teve que telefonar para instituições bancárias para que deixassem de oferecer ao filho (saído da escola, sem emprego e poucas perspectivas de o ter nos tempos mais próximos) cartões de crédito, ofertas de empréstimos, etc.

Crises aparecem e acabam por se desvanecer. Condições voltarão ao normal. Pessoas esquecem facilmente. Mas outros problemas podem estar a formar-se no horizonte. Inflação e recessão?

DEFINIÇÕES

SUBPRIME - Hipotecas subprime, são assim designadas pois que são oferecidas com um juro abaixo do primer no período inicial e, por vezes, mesmo, sem depósito inicial.

COMMERCIAL PAPERShort-term debt posto no mercado por bancos e outras corporações.

ASSET=BACKED SECURITIES (ABS)- Concessionários de vendas de automóveis que vendem a prestações, empresas cujos clientes pagam com cartões de crédito e instituições que oferecem hipotecas, vendem os seus créditos a terceiros. Estes créditos são conhecidos como asset-backed securities.

LIQUIDEZ - Como é que o Banco do Canadá promove liquidez?

De manhã, o Banco do Canadá verifica transacções em securities e contacta as maiores firmas de investimento para se certificar se elas são capazes de satisfazer as suas exigências a appropriate rates, (presentemente o target rate do Banco para short-term débito é 4.5 por cento).

Em caso de necessidade o Banco Central pode ajustar o mercado com a compra e a venda de short-term securities. Esta actividade é apenas por um dia. Se o problema persiste, o Banco pode repeti-la diariamente.

(14 de Setembro de 2007)

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