ANO 11 .............................................. No. 70

NOVEMBRO - DEZEMBRO 2007 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

O primeiro número do BOLETIM iniciou-se com a apresentação de uma companhia pública canadiana – BCE Inc., cuja subsidiária Bell Canada é um dos nomes mais reconhecidos do país.

Relendo o que escrevemos então, verificamos que BCE Inc. é hoje uma companhia totalmente diferente daquela de há onze anos atrás. Desapareceram as subsidiárias BCE Real Estate, Montreal Trust, Trans-Canada Pipelines, Teleglobo. Nestes anos assistimos ainda à deregularização de serviços telefónicos, à entrada de novas empresas nessa área e à agregação de telefone, cabo e internet serviços. Agora BCE Inc. irá desaparecer como companhia pública.

Nestes últimos anos BCE tem tido uma actuação modesta. Salvo pelo dividendo elevado, e aparentemente “certo”, o preço das acções tem-se mantido estático. Bastou apenas a oferta do Ontario Teacher’s Pension Plan para adquirir a companhia para o valor das acções dar um salto em frente.

Temos ouvido muitas queixas sobre os serviços oferecidos por Bell Canada. Com várias companhias a cortejarem serviços telefónicos e de televisão (cabo ou satélite) clientes de Bell têm agora a possibilidade de mudar de companhia.

COMENTÁRIO

Agora que estamos a chegar ao fim de 2007 perguntamos a nós próprios: qual a notícia mais importante do ano?

Possivelmente o avanço do dólar canadiano em relação ao americano. Este ano, a moeda canadiana subiu cerca de 25% em relação à americana. Agora ninguém faz troça do “peso” canadiano. A razão não é só devido a uma economia canadiana saudável, procura elevada de matérias-primas, reservas de gás e óleo, mas a uma moeda americana que desce em relação a todas as outras. O euro, a libra esterlina, o dólar australiano, o real brasileiro, entre outras, têm estado a valorizar em relação ao dólar americano.

“The Canadian dollar has never been worth so much...”, é o título de um artigo do Report on Business (The Globe and Mail).

Alguns investidores canadianos estão a olhar para o vizinho do sul, aproveitando o câmbio favorável. As Corporações do país têm oportunidade de adquirir empresas americanas em termos favoráveis. é de esperar que instituições bancárias canadianas, impedidas de fusão entre si, olhem agora para os Estados Unidos para alargar a sua influência. Até porque não há garantias de que o câmbio não altere o seu curso.

Um acontecimento que abalou o mercado foi a crise causada pelo “asset-backed-commercial paper (ABCP)”.

Investidores particulares, com fundos aplicados em companhias emissoras dessa espécie de crédito, viram os seus investimentos “cair”. Igualmente, companhias que depositaram quantias no ABCP estão presentemente impossibilitadas de as levantar. Diariamente tomamos conhecimento de mais companhias com depósitos “presos” em ABCP. Sherrit International e CP Rail aparecem agora na lista, lançando milhões de dólares em “writedowns” nos seus livros contabilísticos - $6 milhões e $21 milhões, respectivamente. Mas as maiores vítimas são empresas pequenas, muitas delas mineiras e de recursos escassos. Para estas, terem as suas economias “congeladas”, possivelmente por um ano, ou, se não as perderem, constitui problema grave.

Instituições financeiras, participantes do acordo de Montreal, (um grupo estabelecido para corrigir o problema), declararam que haveria uma declaração final a 15 de Outubro. Próximo dessa data, o grupo informou que tinha adiado a deliberação para meados de Dezembro.

Fundos “Money Market” são usados para para “estacionar” temporariamente fundos. Eles são considerados como relativamente seguros (pelo menos até agora...). Com a crise do papel comercial, investidores correram a redimir os seus investimentos neste tipo de fundos.

Recentemente, falando com Peter Calleja, Financial Planner com o Banco de Montreal, baseado no Noroeste de Toronto, ele chamou-nos a atenção para uma alternativa para Money Market Funds e T-Bills., G.I.Cs com possibilidade de redenção. Apesar de o vencimento ser anual, após um mês, o investidor pode levantar o seu investimento sem penalidade.

Recentemente um jornal financeiro apresentou uma lista de acções de companhias públicas com os maiores ganhos e as maiores percas durante o ano.

Acções de “energy trusts” tiveram as maiores descidas. True Energy Trust, Paramount Energy Trust e Trilogy Energy Trust, entre outras, viram o seu valor reduzido a cerca de metade.

No outro extremo da lista, acções cujo valor aumentou consideravelmente, Thomson Creek Metals Co., Sino-Forest Corp. e Research in Motion Ltd.

Sino-Forest Corp. é um caso interessante. A companhia tem terrenos na China, onde planta árvores de crescimento rápido. Após corta-las e vender a madeira, volta a planta-las. Ela tem beneficiado do crescimento da economia do país e do consequente entusiasmo de investidores por tudo ligado a ele.

Há uns anos atrás as acções Sino-Forest Corp. eram negociadas a 99 cêntimos. A primeira informação que tivemos sobre a companhia foi através de “Investor’s Digest” que apresentava Sino-Forest com um rácio p/e incrivelmente baixo. “Estarão investidores a perder uma oportunidade?” era o comentário do jornal. Presentemente as acções são negociadas à volta de $20.00.

Conhecemos um investidor que nos disse ter já comprado e vendido acções de Sino-Foresta duas vezes – e continua a seguir a companhia...

Confessamos que quando as acções eram negociadas à volta de um dólar, debruçamo-nos sobre a companhia. Com escritório em Mississauga (nos arredores de Toronto) ela era controlada por um investidor chinês através de ou acções de multiple voting ou acções “no-voting” oferecidas ao público.

Restricted voting, multiple voting, etc., significa que uma pessoa, família ou corporação controla os destinos da empresa embora possa ter nela um investimento mínimo. Quanto a nós isso é errado. Cada acção deve ter o mesmo valor. Uma acção, um voto.

Voltando a Sino-Forest, deixamos de pensar na companhia até que, recentemente, começamos a vê-la nomeada em jornais financeiros, onde aparece, frequentemente, em listas das “novas altas para o ano”.

Outra companhia que analistas financeiros continuam a falar com entusiasmo é Research in Motion Ltd. é difícil escapar uma conversa sobre companhias transaccionadas na bolsa sem que RIM não venha à baila. (num ano o valor das acções triplicou).

Provavelmente, mesmo que não estejamos à beira duma recessão, estamos na fase final dum ciclo de crescimento. Lucros estão a abrandar e atenção está posta nos Estados Unidos, onde, recentemente, o Federal Reserve Board reduziu o “juro”. Será isso suficiente para evitar uma recessão?

Uma preocupação é o crédito fácil, especialmente nos Estados Unidos. Pessoas compram o que não precisam com dinheiro que não têm. Isto pode crear problemas e uma crise de crédito, como aquela a que assistimos recentemente.

ROYALTIES EM ALBERTA

Uma Comissão nomeada pelo governo da província de Alberta recomendou um aumento substancial de “royalties” (pagamento de direitos pelo uso e exploração de óleo ou minerais) pagas pelas companhias de exploração com actividades na província.

Numa queixa comum, corporações protestaram, afirmando que, se as recomendações fossem “implantadas”, as actividades das companhias tornar-se-iam improdutivas. Algumas foram até mais longe, ameaçando reduzir ou suspender actividades na província.

O governo acabou por anunciar a sua decisão: um aumento de “royalties”, mas menor do que as recomendações da comissão. Entre a maioria da população que gostaria de ver as recomendações proclamadas na totalidade ou companhias que queriam manter o status quo, o governo foi a meio caminho.

O governo decidiu adoptar um aumento numa escala progressiva, que começa a aumentar quando o preço do óleo atinge $55.00 (US) o barril. A taxa mais elevada será de 40% se o óleo chegar a $120.00 o barril.

Companhias de exploração e produção de óleo e gás reclamaram, pedindo ao governo para reconsiderar a decisão.

Qual a reacção dos investidores? No dia seguinte após o anúncio do aumento do imposto, não houve as quedas de valores previstas pelas corporações, sinal de que investidores não entraram em pânico; alguns administradores de empresas envolvidas em projectos acabaram por confessar que poderiam trabalhar com os novos regulamentos.

Por outro lado, como pequena compensação para empresas, o governo federal, ao apresentar um mini orçamento, ofereceu uma pequena redução nos impostos corporativos.

IMPOSTOS E PERCAS DE CAPITAL

Estamo-nos a aproximar do fim do ano. Esta é a ocasião para pensar nos impostos deste ano.

Se tivermos ganhos e percas de capital esta é a ocasião para vender acções em que temos percas.

Acções de companhias que consideramos “casos perdidos” devem ser vendidas. A perca reduzirá o valor dos ganhos, e, consequentemente, o imposto a pagar.

Há situações em que o valor das acções baixou em relação ao preço pelo que as comprámos. No entanto continuamos a gostar da companhia e acreditamos que ela representa valor e, mais tarde ou mais cedo, as acções subirão. Por outras palavras, queremos manter as acções. Mesmo assim poderemos vende-las para as comprar mais tarde. As percas serão aplicadas contra os ganhos (e pode-se andar para trás três anos). No entanto, para as comprar mais tarde o investidor deverá esperar trinta dias para o fazer; caso contrário, o governo do Canadá aplicará o que refere como “superficial loss rules”, e o investidor não beneficiará dum futuro ganho de capital.

Vender “percas” com intenção de mais tarde comprar as mesmas acções só tem lógica se houver ganhos de capital que elas possam reduzir.

Isto pode-se tornar um pouco complicado. Assim, é recomendado que investidores que se encontrem nestas circunstâncias, tenham os seus impostos de rendimento preparados por um contabilista profissional ou alguém habilitado para os preparar.

FESTAS FELIZES

A todos os nossos leitores desejamos UM FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO ANO e BONS INVESTIMENTOS.

Entretanto, no próximo número, a sair nos primeiros dias de Janeiro, apresentaremos várias companhias no PORTEFÓLIO DO ANO. Não o percam.

(11 de Novembro de 2007)

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