ANO 13 .............................................. No. 74

JULHO - AGOSTO 2008 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Esta é uma edição reduzida do BOLETIM. Nela abordamos dois assuntos de importância: erros comuns feitos por investidores iniciados no mercado e realçamos a importância de ler e interpretar relatórios anuais de companhias.

Com muitos investidores em férias não comentamos sobre o mercado ou empresas públicas; isso reservamos para a próximo número.

ERROS COMUNS AO INVESTIR

Eficiência é a palavra de ordem em qualquer actividade económica e numa pasta de investimento concentrada em acções de companhias públicas é fundamental.

Ao investir na bolsa há erros comuns que devem ser evitados. Mesmo investidores experientes necessitam de se concentrar e reflectir sobre os seus investimentos e se estes são adequadas aos seus objectivos e condições pessoais. Abaixo apresentamos algumas ideias sobre o assunto:

1 – PLANEAMENTO.

Antes de partirmos para uma viagem fazemos as necessárias preparações. Antes de tomarmos uma decisão importante na vida temos que pensar nas suas consequências.

Investir na bolsa exige igualmente planeamento e um objectivo determinado.

O que pretendemos do nosso investimento? “Crescimento” a longo termo, protecção de capital, rendimento constante, planeamento para a reforma que um dia iremos gozar?

Se se torna necessário ter um objectivo quando se investe, os próprios objectivos podem-se alterar. Mudanças na situação da família, casamento, divórcio, falecimento, perca de emprego. Mesmo com objectivos concretos, alterações nos investimentos são por vezes necessárias.

2 – EXCITAMENTO.

Excitamento é, possivelmente, a maior causa de insucesso para investidores da bolsa.

Todos nós sabemos que existem indivíduos que vão ao casino e que, sofregamente, atiram fichas para a mesa só para estarem em acção permanente, ou, nos casinos modernos, põem moedas nas máquinas até as esgotarem.

Excessiva ambição pode constituir um problema para investidores.

Novos investidores devem dar tempo ao tempo, como é uso dizer-se. Acção disciplinada e “cabeça fria”. Nunca se devem entusiasmar excessivamente e querer estar sempre no meio da acção.

3 – ADAPTAÇÃO A MUDANÇAS DE CONDIÇÕES DO MERCADO.

Tal como a nossa vida se pode modificar, condições do mercado estão sujeitas a alterações. Investidores deverão responder e adaptar as suas pastas de investimentos às variações do mercado.

Alterações políticas e económicas afectam a economia. Juros e inflação podem ser uma indicação do futuro do mercado. Nestes últimos anos, matérias-primas têm impulsionado a economia do Canadá. No passado, isso nem sempre aconteceu. Houve épocas em que investir nessa área era considerado “dinheiro morto”.

Alterações nos impostos, aumento ou reduções em taxas, corporativas ou individuais, são factores a considerar. Recentemente, na província de Alberta, o governo provincial aumentou as “royalties” que certas companhias pagam ao governo. Isto constitui um exemplo do que pode acontecer, não só a qualquer empresa de exploração mineira ou petrolífera, como a qualquer outra..

4 - EXCESSO DE DIVERSIFICAÇÃO.

Quando se seleccionam investimentos, deve-se ter em conta a relação entre o capital e o número de companhias do portefólio.

Excesso de diversificação – possuir acções de muitas companhias -, reduz a significância de cada companhia numa pasta de investimentos. Isto é mais visível se o capital investido é relativamente pequeno. Por exemplo, se o investidor põe $30,000.00 e tem acções de 25 companhias, o lucro de uma delas pouca influência tem na pasta de investimento. Não contando com o facto de que as comissões, se bem que hoje mais baixas do que no passado, tirarão uma fatia razoável à importância investida.

É, igualmente, mais difícil seguir atentamente um portefólio de 25 empresas do que um de 10.

5- NO DIVERSIFICAÇÃO.

O contrário de excesso de diversificação é pouca diversificação. Isto pode, igualmente, causar problemas.

Neste caso, existe um risco razoável ao investirmos em acções num número pequeno de companhias. Se o nosso investimento estiver concentrado em duas ou três, no caso de uma delas ter problemas e estiver em queda, o portefólio será influenciado dramaticamente.

Antes de investir o nosso capital devemos investir o nosso tempo. Não nos devemos esquecer que existem outros investimentos além de acções de companhias públicas. Além de obrigações existem produtos diversos oferecidos por bancos e companhias de seguros. Simples depósitos, certificados de investimento, etc. O rendimento, neste caso, pode ser pequeno, mas, na maioria dos casos, relativamente seguro.

6 – LUCROS FEITOS MUITO CEDO.

Quando o valor do investimento aumenta, começa-se a hesitar se se deve ou não vender as acções.

Muitos investidores vendem acções prematuramente. é certo que têm lucro mas perdem o potencial de lucros ainda maiores.

Neste caso devemos analisar a situação, avaliar prós e cons. Situação da economia, situação da indústria e situação da empresa.

7 – DECISÕES TOMADAS TARDE DEMAIS.

Aqui temos a situação contrária – deixamos o prejuízo aumentar.

Se a empresa está em dificuldade, o preço das acções em queda e as perspectivas de recuperação não são favoráveis, há apenas uma decisão a tomar – vender. É melhor uma perca pequena, do que uma perca maior.

Quando temos lucros na venda de outras acções, prejuízos reduzem ganhos de capital e diminuem impostos a pagar.

8 – EXPECTATIVA EXCESSIVA.

Muitos investidores pensam que a bolsa é “dinheiro em caixa”, como é uso dizer-se, e que podem ter lucros imediatos e substanciais.

A história diz-nos que investidores que têm sucesso na bolsa são aqueles que investem a longo termo e aceitam a cadência lenta da bolsa. O dito “get rich quick” não é mais do que uma quimera, que deve ser deixado para especuladores.

CONCLUSÃO.

Os princípios alertados acima constituem ideias gerais e demonstram o que, geralmente se diz, senso comum. Mesmo eles são sujeitos a certa flexibilidade, dependendo das circunstâncias pessoais dos investidores.

Um parágrafo final. Investidores devem ler, estudar e analisar o mercado. Como temos escrito com frequência, o estudar nunca ocupa lugar e mesmo investidores experientes e cautelosos estão sujeitos a surpresas, estas nem sempre agradáveis. Mas, paciência e planeamento, aliadas a conhecimento e análise profunda, aumentam as probabilidades de produzirem resultados favoráveis.

Annual Reports

Muitos investidores quando recebem relatórios anuais das companhias em que investem põem-nos de parte e nunca mais pensam no assunto.

Isso é um erro, pois que esses relatórios constituem uma fonte de informação importante. Eles descrevem a situação financeira \e as perspectivas da companhia.

Annual Reports constituem uma fonte de informação que não deve ser descurada por investidores. Termos contabilísticos podem amedrontar, mas, com tempo, podem ser compreendidos e interpretados Desde o balanço do ano fiscal até ao relatório de lucros e percas, uma informação concisa encontra-se no Report e pode ser “decifrada” por qualquer um de nós.

Abrindo o Report encontramos termos tais como: Balance Sheet, Statement of Earnings, Statement of Retained Earnings e Statement of Changes in Shareholder’s Equity.

Algumas companhias produzem Reports volumosos que parecem trabalho de arte, outras limitam-se a produzir Reports mais modestos.

Além de analisar e comparar os números com os anos anteriores, não se devem descurar as notas que acompanham Statements. Nos comentários, a administração torna conhecida a sua opinião sobre a actuação e previsões para a empresa.

Activo e Passivo pode-se traduzir como assets e liabilities. Current Assets devem exceder Current Liabilities e a diferença será o Working Capital.

Numa companhia em boa saúde financeira o Activo deve exceder o Passivo. Quanto maior for a diferença, melhor a situação financeira da empresa.

Alguns investidores não compreendem o que se chama Goodwill. Goodwill é um valor abstracto e, por vezes, confesse-se, sujeito a certa manipulação. Goodwill representa valores como patentes, trademarks e estão na classe dos intangible assets. Um exemplo: o nome Coca-Cola representa valor.

Annual Reports reflectem a situação e possibilidades da companhia. Eles são muito importantes e devem ser lidos e compreendidos.

(30 de Março de 2008)

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