ANO 13 .............................................. No. 75

SETEMBRO - OUTUBRO ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Este número do BOLETIM sai consideravelmente atrasado. O próximo sairá no 1° de Novembro.

Após dois meses e meio de ausência, regressámos ao Canadá. Em Portugal assistimos ao aumento quase diário do preço de combustíveis. Manifestações de protesto dos camionistas e pescadores – apesar de estes pagarem muito menos pelo gasóleo do que os restantes consumidores, e até à falta de alguns alimentos devido a greves de camionistas.

Enquanto alguns pescadores chegaram a destruir peixe importado de Espanha a ser vendido nas praças do país, outros limitaram-se a ir vendê-lo a Vigo.

Em Portugal, tal como no Canadá, consumidores vão passar a pagar mais por empréstimos contraídos aos bancos. A culpa: falta de liquidez dos mercados monetários.

Vítor Constâncio, o governador do Banco de Portugal, afirmou que “o custo de financiamento para os bancos iria aumentar e que a culpa era da crise do subprime e da falta de liquidez nos mercados monetários”.

A crise em Portugal é uma crise estrutural, a que não se vê solução fácil ou imediata. Preço dos combustíveis, alimentos mais caros, crescimento económico reduzido, empréstimos mais difíceis de obter, desemprego a aumentar, tudo a contribuir para a onde de pessimismo que assola o país.

COMENTÁRIO

A bolsa de Toronto continua em queda. Uma ou duas sessões em subida são insuficientes para compensar descidas precipitadas e contínuas. Matérias-primas, que têm contribuido para a boa actuação da bolsa de Toronto e a valorização do dólar canadiano, parecem agora predestinadas para descida. A culpa: condições económicas dos Estados Unidos e o abrandamento das economias mundiais, agora com menos necessidade dos produtos canadianos.

Consumidores têm demonstrado resistência notável em face das condições do mercado. Mas, mesmo essa resistência tem os seus limites.

A atenção continua fixada nos Estados Unidos – a economia que mais influencia o Canadá. Com o preço da habitação a descer; o desemprego a aumentar; o crédito menos acessível e o aumento do preço de combustíveis e produtos alimentares, a economia americana encontra-se numa crise de grandes proporções. Mas se acontecimentos passados constituem um bom exemplo, ela será superada.

Investidores e consumidores têm sido afectados pelo preço de combustíveis. Em meados de Julho, o preço do barril de óleo chegou aos $147 dólares americanos. Depois começou a descida, devido ao receio de uma recessão económica e resistência de consumidores. Fala-se igualmente de especuladores manipularem preços.

Os bancos americanos continuam com problemas sérios. No segundo trimestre deste ano, lucros desceram 86%. Nos Estados Unidos, além dos grandes pilares da indústria, existem numerosas instituições bancárias, geralmente regionais, algumas apenas com duas ou três agências que podem facilmente entrar em bancarrota.

No Canadá, bancos têm sido igualmente afectados pela situação desencadeada pelo “subprime”. Afortunadamente a situação não é tão grave como nos Estados Unidos e eles recuperarão. Basta ver que os consumidores canadianos continuam a ser os únicos que não desiludem os bancos. Charges, sempre a aumentar, seja para visar um cheque, pagar a conta do telefone ou qualquer outra transacção... Vinte cinco cêntimos aqui, cinquenta ali... Acabamos de receber uma informação do President’s Choice Financial, que, como muitos outros consumidores, usamos. Depósitos e levantar dinheiro das máquinas, continua a ser gratuito, mas tudo o resto aumenta. Outro facto interessante. Assistimos, nestes últimos tempos, aos bancos reduzirem as horas de atendimento ao público e a redirigirem clientes para máquinas. Repentinamente, passaram a estar mais horas abertas e alguns até a abrir aos sábados? Que quer isto dizer? Simplesmente, que somos nós que iremos contribuir para o restabelecimento das finanças dos bancos. Consumer banking division é a divisão mais fiel das instituições bancárias.

BANCOS E COMPANHIAS DE TELEFONES

No Canadá, cinco dos seis maiores bancos acabam de emitir preferred shares. Apenas Royal Bank ficou de fora.

As instituições bancárias estão a refazer os seus cofres com emissões de preferred shares. CIBC e Bank of Nova Scotia, foram os últimos a emitir este tipo de acções. As acções preferidas do CIBC foram lançadas no mercado a $25.00 cada. Elas pagarão um dividendo de 5.35% nos primeiros cinco anos, que será reajustado cada cinco anos a um juro igual ao oferecido pelos five-year Government of Canada bonds acrescido de 2.18%.

A emissão das preferred do Bank of Nova Scotia oferecem um juro anual de 5% que, ao fim de cinco anos, será reajustado por períodos de cinco anos, acrescido de 1.88% prémio das obrigações do governo federal.

Para CIBC o aumento de capital é essencial, devido à fraqueza do seu activo.

No sector de comunicações o takeover de BCE (Bell Canada) pelo fundo de pensões do Ontario Teacher’s Union parece agora certo. Obstáculos foram inúmeros: legais, regulatórios e financiais. Seis meses mais tarde do que o esperado, mas sempre se realizará. BCE decidiu amenizar a transacção para os compradores ao não pagar dividendos nas common shares neste último período.

O preço a pagar pelo fundo de pensões é $42.75. A transacção realizar-se-á no princípio de Dezembro. Accionistas parecem não estar totalmente convencidos, pois que as acções estão a ser negociadas a menos de $40.00 dólares por acção.

Muitos accionistas de BCE têm-no sido por longa data. BCE era uma das companhias que se investia pelos dividendos. Investidores contavam com eles para suplementarem as suas pensões.

Com o resgate das acções para onde se “virarão” estes investidores?

As escolhas não são muitas.

Uma opção: TELUS, a segunda companhia telefónica do país. Telus, preenche esta lacuna. Aa acções são transaccionadas a $42.65 à data desta publicação, mas já chegaram a $65.85 este ano. Apesar de haver alguma preocupação no sector de telecomunicações sobre competição e a entrada de novas companhias em telemóveis, Telus parece suficiente “forte” para competir nesta indústria.

Outra substituição poderá ser MANITOBA TELECOM SERVICES, cujas acções são negociadas à volta do mesmo preço de Telus e que oferece um dividendo de 6%. Possivelmente falaremos mais em detalhe nesta companhia na próxima edição do BOLETIM.

NOTíCIAS

MAPLE LEAF FOODS INC

MAPLE LEAF FOODS foi a companhia mais nomeada nas notícias neste fim de Agosto. Com cem anos de existência, Maple Leaf é das mais visíveis e consideradas empresas canadianas.

Jornais, rádio e televisão têm-nos informado da trágica epidémica resultante do consumo de certos produtos da companhia. A bactéria (listeria) foi a causa de quinze mortes.

Maple Leaf foi forçada a retirar os seus produtos do mercado, o que resultou num prejuízo avaliado em 20 milhões de dólares, enquanto as suas instalações, na parte norte de Toronto, onde a epidémica teve origem, continuam a ser inspeccionadas para se averiguar a origem do problema.

Os prejuízos da retirada de produtos do mercado são enormes. Além dos prejuízos financeiros e de reputação, advogados preparam as chamadas class actions em nome de consumidores afectados.

A companhia deverá sobreviver, mas analistas não se manifestam sobre o que se virá a seguir.

Acções são agora negociadas à volta de $8.00 dólares.

CLEARWATER SEAFOODS INCOME FUNDS

ClearWater tornou-se uma companhia pública em 2002. Agora, seis anos mais tarde, voltará a ser privada. A empresa nunca preencheu as expectativas nem dos seus dirigentes, nem dos investidores.

Valorização do dólar canadiano, a decisão do governo federal de terminar os benefícios fiscais dos income trusts, redução de lucros e até avarias nos barcos, tudo contribuíu para que Clearwater nunca “navegasse” muito longe.

Agora, um grupo de investidores, liderados por insiders, irá privatizar ClearWater. A conversão está prevista para 24 de Setembro.

SLEEP COUNTRY CANADA INCOME FUND

Outra empresa a caminho de ser privatizada.

Por vezes é difícil compreender como uma companhia que vende só colchões e travesseiros possa competer com outras firmas que vendem isso e todo o resto, Leon’s, Brick, Sears, the Bay entre outros estabelecimentos.

No entanto, tudo parecia decorrer normalmente para os duzentas lojas de Sleep Country até que a crise no mercado imobiliário, especialmente nos Estados Unidos, afectou as receitas da companhia.

Dois fundos de investimento estão preparados para tomar conta de Sleep Country e privatizá-la. A notícia deu certa animação áss acções da companhia, que aumentaram $5.85, de $15.95 para $21.80 dólares.

(15 de Setembro de 2008)

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