ANO 14 .............................................. No. 77

JANEIRO - FEVEREIRO 2009 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Este é o primeiro número do BOLETIM de 2009. Entramos o novo ano após uma onda de pessimismo. Turbulência nos mercados financeiros, ondas de pânico nas bolsas e investidores a transferir economias para investimentos mais seguros.

Descidas de lucros; instituições à beira de bancarrota a serem salvas por governos; despedimentos de trabalhadores e até burlas de proporções globais... Gostaríamos de começar este BOLETIM num tom mais optimista, mas esta é a realidade.

Como prometemos no número anterior apresentamos neste número uma empresa de telecomunicações - MANITOBA TELECOM. Esta companhia estava a despertar o interesse de investidores da BCE (Bell Canada), pensando que esta seria privatizada e as suas acções seriam resgatadas. Como é do conhecimento geral BCE acabou por não ter sido adquirida pelo grupo de investidores canadianos e americanos e manter-se-à como companhia pública.

Além do habitual resumo do ano que passou, sugerimos investimentos que oferecem melhor “resistência” às intempéries do mercado.

Este ano marca o inicio dum plano de poupança oferecido pelo governo federal - Tax Free Savings Account. Após o R.R.S.P. este é o melhor plano de investimento aberto a qualquer um de nós. Grande flexibilidade e a possibilidade de acumular lucros “tax free”. Isto é algo de agradável para os contribuintes cansados de pagar impostos.

RESUMO DE 2008 (1)

O índice da bolsa de Toronto atingiu 15.073 a 18 de Junho de 2008. Esse foi o ponto mais alto do ano. Depois, uma abundância de más notícias provocou uma queda, por vezes abrupta do índice. A 31 de Dezembro ele fechou a 8.987 pontos.

Após uma série de descidas em Outubro, a 20 de Novembro a bolsa caiu 9%, com o sector mineiro e o de serviços financeiros contribuindo enormemente para a descida. Parecia que nada pior poderia acontecer, quando, no 1 de Dezembro, o índice teve uma nova queda dramática.

É impossível prever a direcção do mercado. Pequenas subidas são logo seguidas de grandes quedas. Nada bom para aqueles com coração fraco.

Na bolsa, vendas forçadas e liquidações contribuem para movimentos extremos do mercado. Confiança de investidores na economia atingiu o ponto mais baixo da nossa geração.

Bancos e companhias de seguros foram especialmente atingidos pelo descalabro. De matérias-primas... isso nem se fala. Nenhum sector escapou à razia.

Petróleo, após atingir $147.00 U.S. dólares o barril, começou uma queda dramática, com o preço actual à volta de $40.00 dólares. Más notícias para investidores no óleo, mas boas para consumidores, estes cansados de ver, diariamente, nas bombas de gasolina, preços de combustíveis a subir.

Companhias de seguros foram forçadas a aumentar as suas reservas. Alguns dos produtos oferecidos ao público garantem o capital investido, se estes se mantiverem na companhia por alguns anos. Assim, torna-se imperativo que elas tenham reservas adequadas para liquidações.

Islândia foi o primeiro país desenvolvido a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional. Os seus três maiores bancos afundaram-se e o valor da moeda – a Crona – desvalorizou-se. O desemprego, praticamente até então não existente, explodiu repentinamente.

No Canadá, um caso que causou ansiedade até ao último minuto, foi o da privatização da BCE (Bell Canada) que, acabou por não ter sido consumada.

Em Junho de 2007 um grupo liderado pelo Ontario Teachers’Pension Plan concordou em pagar $42.75 pelas acções da companhia. Nas vésperas de se fechar o contracto, a firma auditora, KPMG, afirmou que, com base das condições do mercado, a companhia não “passava” o teste de ”solvência”. Com um débito elevado (incluindo $32 biliões de dólares a serem fornecidos pelos bancos) o passivo excedia o activo. Quando a notícia do insucesso do “teste de solvência” foi divulgada, as acções de BCE desceram 34%.

Com este parecer, e com grande alívio, os bancos envolvidos no empréstimo viram-se desobrigados em financiar uma transacção que fora planeada quando condições do mercado eram diferentes e o crédito fácil de obter.

BCE, entretanto, pôs o caso em tribunal, tentando receber uma indemnização dos prenunciados compradores.

Outro caso preocupante para investidores - o dos títulos de crédito congelados (papel comercial). Um comité esteve continuamente a estudar e reorganizar os os investimentos no asset-backed commercial paper (ABCP). O governo federal dispos-se a colaborar na solução.

Houve um sem-fim de histórias em 2008. Todas desfavoráveis para consumidores e investidores. A crise do imobiliário nos Estados Unidos; o colapso das instituições financeiras à volta do globo; massivas intervenções de governos para salvar instituições à beira da falência. E se todas estas dificuldades não bastassem, assistimos à maior burla de sempre no mundo dos investimentos – o caso Bernard Madoff.

COMPANHIAS A SEGUIR

MANITOBA TELECOM SERVICES INC. (mbt)

Manitoba Telecom Services Inc., através da sua subsidiária MTS Allstream Inc., é a terceira companhia de comunicações do Canadá. A companhia oferece serviços telefónicos, linha fixa e telemóvel.

A divisão “Enterprise Solutions” opera nacionalmente debaixo do nome Allstream, enquanto MTS opera em Manitoba. A divisão de “Mercado do consumidor” está envolvida em telefone fixo, telemóvel, internet de banda larga, televisão digital e serviços de alarme e segurança no oeste do Canadá.

MTS Allstream tem uma rede de fibra óptica que se estende por 24.300 quilómetros e que, além de satisfazer os interesses dos clientes do país, fornece ligações internacionais de colaboração com outras empresas e através de acordos internacionais.

Num comunicado publicado a 17 de Dezembro, Manitoba Telecom, afirma que espera ter um crescimento até 2% e “free cash flow”, enquanto continua a executar uma estratégia a longo termo.

A companhia espera beneficiar da forte economia de Manitoba. A divisão “enterprise solutions” teve um aumento recorde de novos contractos e está numa posição financeira desafogada.

MANITOBA TELECOM é um investimento defensivo, cujas receitas parecem ser estáveis, oferece um bom dividendo. Naturalmente, num ciclo em subida, as suas acções não subirão muito, mas o dividendo proporciona compensação num mercado em descida.

Preço recente: $34.76 (alta-baixa para o período de 12 meses: $45.76 -$30.01). P/e de 15. Yield: 7% ($2.60 anuais).

TAX-FREE SAVINGS ACCOUNT

TFSA é um plano creado pelo governo federal. O plano é acessível a indivíduos a partir de 18 anos de idade. Cada indivíduo pode contribuir até ao máximo de $5,000.00 anualmente. Ganhos, no plano, não pagarão imposto. Importâncias tiradas do plano não pagarão imposto e podem ser repostas no plano no ano seguinte, sem consequências. Por exemplo: suponhamos que um indivíduo tem $5,000.00 num TFSA e retira $2,000.00 dólares. No ano seguinte pode contribuir até $7,000.00; isto é os $5,000.00 anuais mais os $2,000.00 tirados no ano anterior. Tudo isto tax-free.

O Plano aceita toda a espécie de investimentos: savings accounts, GICs., acções, obrigações, fundos de investimento, etc.

Para investidores há apenas duas decisões a tomar: qual a instituição a escolher e que tipo de investimento pôr na conta.

A partir do momento que esta conta é tax-free, Canada Revenue Agency tem que ter informação sobre ela, número de segurança social do contribuinte, etc. Para as instituições há também certo trabalho de controle (adquirir e manter informação pessoal e recordes de importâncias postas ou retiradas do plano). Assim pode haver um custo para abrir a conta e custos para retirar fundos ou fechar a conta. Até agora, ao que lemos, a maioria das instituições financeiras, incluindo bancos, não têm custos para registar oficialmente a conta. Se se investir em produtos sem ser depósitos à ordem ou certificados de aforro há custos na compra e venda de acções ou obrigações.

Torna-se assim necessário verificar custos associados ao plano e à espécie de investimento a utilizar.

INVESTIMENTOS DEFENSIVOS

Com as complicações nos mercados financeiros, investidores na bolsa defrontam-se com um dilema. Que fazer com seus investimentos? Onde colocar as suas economias?

Sair da bolsa? Possivelmente muito tarde. Começar a investir nela? Possivelmente muito cedo. Manterem-se na situação actual? Possivelmente a melhor decisão.

Uma boa decisão é manterem-se de lado e esperar por sinais

concludentes na direcção do mercado.

A dúvida é a seguinte: teríamos chegado ao fundo do mercado? Naturalmente, ninguém tem a resposta. Há sempre dois factores importantes a considerar no valor das acções: o seu valor intrínseco e o valor que investidores lhes atribuem. Claro, tudo isto abstraindo o facto de acontecimentos futuros que possam afectar a economia.

Chegar-se-à ao ponto em que a bolsa estará tão baixa que reflectirá a recessão actual. Ao contrário, se a queda continuasse, acções chegariam a zero...

Num mercado como o actual torna-se difícil saber o que comprar. Se o leitor, apesar de todos os problemas, pretende investir as suas economias apresentamos algumas sugestões abaixo.

G.I.Cs e SAVINGS ACCOUNTS

Esta é uma “defensiva extrema”. Geralmente, o nosso primeir tipo de investimento. O rendimento é minguo, mas a segurança é definidamente confortante.

T-BILLS

Treasury Bills constituem o maior e o mais líquido investimento no chamado short-term money market.

Semanalmente o Banco do Canadá, actuando como agente do governo vende T-Bills a um grupo de bancos e firmas de investimento. Estas notas de crédito são negociadas massivamente e reflectem juros correntes.

Se bem que possam ser compradas por investidores directamente, a forma mais prática, sobretudo para o pequeno investidor, é através de Fundos de Investimento.

T-Bills oferecem juro baixíssimo, reflectindo condições actuais do mercado, mas no lado positivo, sendo uma obrigação do governo federal, não têm risco.

Tradicionalmente aqueles que investem em T-Bills, fazem-no à espera de oportunidade para investimentos mais produtivos.

ROYAL BANK (ry)

Bancos estão na “defensiva”. A deterioração económica afecta instituições financeiras. Recentemente, Royal Bank emitiu mais acções (preferred shares) em resposta a insistência do governo federal para que bancos tenham capital adequado. Ao mesmo tempo o governo pretende que bancos facilitem o crédito. Não foram as facilidades de crédito que nos puseram neste estado? Uma das áreas de actividade dos bancos é emprestar dinheiro, mas, certamente, querem ter a certeza de que o receberão mais tarde.

Mesmo com actividade financeira reduzida e lucros a diminuir, a maioria dos bancos constituem bons investimentos. Será interessante esperar por sinais de recuperação económica e seguir o preço das acções, para começar a investir no Royal Bank.

O banco paga $2.00 de dividendo anualmente, uma yield superior a 4%.

TRANSCANADA CORP. (trp)

TransCanada representa um investimento defensivo. As condutas para o transporte de gás ou óleo não são afectadas pelo preço dos produtos. No entanto, o preço das acções está em baixa.

Ano após ano, resultados têm sido favoráveis, tanto nas condutas como com Bruce Power. Ao preço actual das acções, o dividendo é superior a 4%.

ENBRIDGE INC. (enb)

Enbridge constitue outro investimento conservativo.

Enbridge transporta óleo e gás através das suas condutas, tanto na América do Norte como internacionalmente. O preço das acções anda à volta de $40.00 e a yield é superior a 3%.

SHOPERS DRUG MART CORP. (sc)

Shoppers tem mais de 1000 estabelecimentos no Canadá. A parte de farmácia beneficia do envelhecimento da população, cada vez a precisar mais de remédios. Além disso, vende produtos de beleza e cosméticos, que têm um margem elevada de lucro.

Recente queda de preço constitui boa oportunidade de compra.

EMERA (ema)

Este é um das nossas companhias preferidas. Fornecendo electricidade, preços são regulados, e aumentos de tarifa aprovados, pelo governo. As actividades são na costa Atlântica do Canadá e no estado americano do Maine. Sem grandes “rasgos”, as acções não têm grande flutuação. Este investimento pode ser monótono, mas representa estabilidade.

FORTIS INC. (fts)

Sendo o que se diz “power utility”, a companhia pertence a uma área defensiva. Consumidores necessitam sempre de gás e electricidade.

Em 2007 Fortis comprou Terasen, uma companhia de gás da Colômbia Britânica, o que aumentou os lucros de Fortis.

A companhia tem uma estratégia de crescimento interno e de aquisições que se coadunam com a sua rede de negócio.

(11 de Janeiro de 2009)

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