ANO 14 .............................................. No. 78

MARÇO - ABRIL de 2009 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

Devido à nossa ausência do Canadá em fins de Abril os dois próximos números do BOLETIM sairão em forma mais reduzida e visando especificamente ideias gerais.

Neste número, além do COMENTÁRIO habitual, temos um artigo sobre minas. Ele coincide com a Convenção Mineira, realizada em Toronto.

COMENTÁRIO

Se o leitor está confundido, irritado e perdeu a fé na bolsa, e naqueles que a recomendam, não está só. Outros investidores, especialmente os recém chegados, estão a abandoná-la jurando nunca mais investir em acções.

A queda contínua do mercado não só causa pânico, como aumenta a falta de confiança no sistema financeiro.

Com a abrandamento da actividade económica e o aumento de despedimentos, não se vislumbra uma recuperação do mercado nos tempos mais próximos.

Aqueles mais experientes, e com tempo à frente, mantêm-se calmos e consistentes. Há mesmo os que pensam que agora é que se estão a criar boas oportunidades de compra.

RESUMO DE 2008 (2)

Além da crise provocada pelo “crédito fácil”, derivativos compuseram o descalabro dos mercados financeiros. Derivativos constituíram um monstro que se tornou incontrolável. Toda a espécie de investimentos são dissecados, re-empacotados e vendidos como “produtos de primeira qualidade”. Derivativos, constituem produtos exóticos que se encontram à margem de qualquer regulamentação. A sua expansão global agravou uma situação financeira já enfraquecida pelo abrandamento da actividade económica.

Muitos não compreendem a complexidade desses produtos, mas negociavam neles pensando que estavam imunes de qualquer colapso.

E que dizer do caso Madoff? – Este não era uma pessoa qualquer. Era um indivíduo bem conhecido nos meios financeiros de Wall Street, administrador dum fundo hedge, registado na U.S. Securities and Exchange Commission e que até já fora presidente da Nasdaq.

O seu fundo hedge afirmava ter encontrado o método de equilibrar opções puts e calls, eliminando o risco de prejuízo e aumentando a possibilidade de lucro.

Investidores afluentes, bancos, fundos de investimento e até instituições de caridade aceitaram as afirmações de Maldoff. Com lucros tão elevados dividendos eram reinvestidos no fundo. No papel, lucros aumentavam ano após ano.

Incrivelmente, indivíduos usavam investimentos desse hedge fundo como garantia de empréstimos para compra de propriedades e de outros valores. Resta dizer que nem todos estavam convencidos na infalibilidade do sistema promovido por Madoff.

Muitos derivativos foram inventados nas duas últimas décadas por matemáticos e os bancos de Wall Street vendiam tais produtos aos seus clientes, com promessa de lucros superiores.

A queda do crédito deixou investidores, por esse mundo fora, com “derivativos” para os quais não existe mercado.

MINING

Minas é uma actividade cujos lucros são muito incertos e o sector não é recomendado para iniciados ou aqueles que pretendem investimentos “mais seguros”. No Canadá, o sector tem grande preponderância e a produção e exportação de matérias-primas grande influência na economia.

Não é de admirar que a maior convenção anual de minas se realize no Canadá, em Toronto.

A convenção, Prospectors & Developers Association of Canada, mais conhecida como P.D.A.C. realizou-se no Metropolitan Toronto Convention Centre de 1 a 4 de Março. Ela consta de duas exposições separadas. Uma para profissionais: geologistas, investidores e outros interessados e outro, Mining Investment Show, aberto ao público, com registo grátis.

Este ano, a Convenção despertou menos entusiasmo do que nos anos anteriores e foram registadas as ausências de algumas companhias conhecidas que tradicionalmente têm os seus “booths”. Mesmo o pavilhão do Brasil não ofereceu o seu café tradicional, a que alguns já se tinham habituado.

Até meados do verão o preço de matérias-primas aumentou substancialmente. Repentinamente, entrou-se em recessão e começou a haver redução de procura. Com excepção do ouro, preços de metais não preciosos, tais como: cobre, zinco e outros têm estado em queda. Diminuição de produção e exportação contribuíram para a queda do valor de acções de companhias envolvidas na exploração e produção de matérias-primas.

Escolhemos três exemplos abaixo que ilustram a situação do sector mineiro. Uma companhia grande em dificuldade financeira; uma pequena que está a fazer uma recuperação e a terceira, também em dificuldade, que causou protestos em Portugal.

TECK COMINCO LTD. é uma companhia produtora de cobre, zinco, carvão metalúrgico e participação em vários projectos nas “oilsands” de Alberta.

No ano passado, a companhia adquiriu Aur Resources por $4 biliões de dólares. Aur produz cobre – (o preço do cobre, tal como outras matérias primas, após ser vendido a preço elevado, caiu precipitadamente).

Após essa aquisição, Teck Cominco pagou $14 biliões de dólares, em acções e dinheiro, por 80% das acções de Fording Income Trust (produtor de carvão). Além da diluição das acções de Teck, o débito da companhia aumentou consideravelmente.

Com a crise dos minerais, receitas das empresas adquiridas são agora substancialmente menores do que as antecipadas. Teck contava, certamente, com o rendimento das firmas adquiridas para reduzir débito. No quarto trimestre a companhia apresentou um prejuízo de 1 bilião de dólares, devido a writedowns e revisões de receitas. Redução do débito é agora uma preocupação.

Entretanto, Teck Cominco suspendeu o pagamento de dividendos, adiou o projecto de Fort Hills, e desistiu do projecto Petaquilla. As acções são negociadas à volta de $4.35 dólares, uma diferença enorme do mais alto preço dos últimos doze meses, quando chegaram a $52.90 dólares.

Se as grandes companhias mineiras estão a confrontar problemas, com algumas excepções, companhias pequenas atravessam crises ainda maiores.

LA MANCHA é uma excepção à regra. A companhia está envolvida na produção de ouro, possivelmente uma área melhor do que outras matérias-primas. Com a queda do mercado de minerais, as acções de LaMancha começaram uma queda progressiva. Inicialmente, com bons “reports” de analistas, as acções chegaram a 57 cêntimos, para depois, acompanhando a queda do mercado, descerem até 4 cêntimos.

Em fins de Novembro LaMancha fez uma apresentação, para analistas e investidores, na baixa de Toronto. A apresentação, com um almoço modesto, foi de pouca duração. O apresentador afirmou que a companhia estava em boa situação financeira, com cash (e equivalentes) de 9 milhões de dólares, linha de crédito de $3 milhões, sem débito, estava apenas envolvida na exploração de ouro (a área não afectada pela quedo dos minerais) e tinha ainda $7 milhões de dólares investidos em papel comercial (congelado). Segundo ele, as acções, negociadas então à volta de 10 cêntimos, não mereciam ser negociadas a menos de 23 cêntimos.

Talvez pela apresentação, a segunda em pouco tempo, ou a reconsideração de que a companhia representava “valor” as acções começaram a subir. A um ponto tinham descido até 4 cêntimos, agora, nos fins de Fevereiro, estão a ser transaccionadas a 49 cêntimos.

LaMancha tem explorações na Austrália, Sudão e Costa do Marfim.

O terceiro exemplo que escolhemos de uma mina em dificuldade é o de Lundin Mining, investida em Portugal. A companhia adquiriu EuroZinc Mining Corp. em 2006 e produz zinco, cobre e chumbo. Além de Portugal tem operações na Suécia e Irlanda.

As acções da companhia são negociadas à volta de 90 cêntimos ($0.77-$10.32 baixa e alta para o ano). Escolhemo-la precisamente por estar investida em Portugal (e não é a única canadiana).

Lundin Mining que controla Somincor (a mina de Neves-Corvo) e Pirites Alentejanas (mina de Aljustrel) suspendeu a extracção e exploração de zinco nos dois complexos mineiros, devido a baixa de preço do metal no mercado internacional. Com a produção parada e em situação de manutenção apenas, a companhia aguarda melhores tempos para reiniciar produção.

Isto não caiu bem nos mineiros afectados pelos fechos. Manifestações, vigílias e outras formas de protesto seguiram-se à suspensão de actividades das minas.

O Autarca de Aljustrel reivindica uma nacionalização da mina idêntica ao BPN. Segundo o autarca o governo “tem o dever político e moral de se empenhar na busca de uma solução o mais rápido possível para a mina de Aljustrel continuar a laborar”.

O autarca acrescentou que o primeiro-ministro português, José Sócrates, participou na cerimónia simbólica de retoma da produção comercial da mina, criando assim grande expectativa na popula,cào que se sente presentemente “defraudada”.

A companhia, em dificuldades financeiras,esteve à beira de ser adquirida por outra companhia canadiana - Hudbay. Esta ofereceu-se para adquirir Lundin, mas a Ontario Securities Commission ordenou Hudbay para submeter a compra a um voto de accionistas. Hudbay, consciente da oposição à transacção, desistiu da oferta de compra das acções de Lundin.

(8 de Março de 2009)

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