ANO 15 .............................................. No. 85

MAIO - JUNHO 2009 ............ Director:Álvaro Trigo


ABERTURA

Este número do BOLETIM trata essencialmente sobre a influência das incertezas nos mercados financeiros. Como tudo na vida o imprevisto tem uma influência definitiva nas nossas atividades – seja um vulcão na Islândia, um desastre ecológico no Golfo do México ou uma decisão do governo do Ontário.

Acidentes e imprevistos; cataclismos causados pela natureza e problemas causados pelo homem. Se os primeiros são impossíveis de antever e estão fora do nosso controle, os segundos já são de possível deteção, embora escapem invariavelmente à nossa percetibilidade.

Acontecimentos recentes disputam a infalibilidade daqueles que se sentem seguros e versados na previsão e evolução dos mercados financeiros. Na bolsa, como tudo na vida, não há certezas absolutas.

COMENTÁRIO

O mundo é feito de incertezas. A erupção dum vulcão na Islândia causou um caos sem precedentes no movimento de pessoas que usam viagens aéreas.

Os problemas causados pela erupção provocou um pandemónio nos passageiros das companhias de aviação. As cinzas do vulcânicas afetaram milhares de viajantes à volta do mundo, tanto os que iniciavam viagens e partiam para portos de destino, como os que queriam regressar aos seus pontos de partida.

O fecho do espaço aéreo na Europa não só afetou viajantes à volta do mundo como resultou em prejuízos de milhões de dólares para as companhias de aviação e alguns dos serviços dependentes de turismo e viagens de negócios. Como é costume houve os que beneficiaram do desastre – hotéis, que acomodaram viajantes paralisados em portos de partida, bem como restaurantes que os alimentaram.

Não só milhares de pessoas viram os seus planos de viagem transtornados, como companhias de aviação sofreram prejuízos incalculáveis.

Se investir em companhias de aviação que fazem carreiras regulares é já arriscado nos melhores dos tempos, o problema inesperado provocou prejuizos incalculáveis e baixas no valor das ações.

Isto traz-nos ao assunto deste comentário: fatores inesperados, negativos ou positivos, que afetam o valor de investimentos.

Já referente apenas ao Canadá, outro caso oferece um exemplo de fatores contribuintes para a saúde financeira das companhias públicas cujas ações são transacionadas na bolsa.

O governo do Ontário acaba de introduzir legislação que reduzirá o preço dos medicamentos genéricos em, pelo menos, 50% para 25% do preço dos medicamentos “brand-name.” Ao mesmo tempo as farmácias deixam de receber as receitas conhecidas como “professional allowances”, que as companhias produtoras de genéricos lhes oferecem.

Para o governo provincial esta medida poupará milhões de dólares, pois que ele paga medicamentos para indivíduos recebendo assistência social e para reformados,

Esta decisão do governo provocou fortes protestos das farmácias. Companhias como Shoppers Drug Mart. A companhia, que tem mais de 1,170 farmácias, viu o valor das suas ações descer precipitadamente. Agora há a possibilidade de que outras províncias canadianas sigam o exemplo do Ontário.

A companhia estava a contar com muitas patentes das “branded drugs” expirararem e poderem ser copiadas e oferecidas no mercado como remédios genéricos.

Outro exemplo de notícias que afetam o preço das ações foi uma notícia de que uma subsidiária americana de EXTENDICARE, Extendicare Health Services, Inc. (EHSI), que administra as operações naquele país estava a ser investigada pelo U.S. Department of Health and Human Services (DHHS), Office of the Inspector General. A razão: possível violação em documentação e faturação submetida ao governo em violação do U.S. Social Security Act. Essa notícia foi suficiente para que as ações de Extendicare, transacionadas na bolsa de Toronto, tivessem uma queda superior a 10%.

EUROPA EM CRISE FINANCEIRA

As notícias que recebemos da Europa não são agradáveis. A posição da Grécia, o país iniciador da crise financeira, é periclitante. À beira da bancarrota, teve que recorrer à ajuda dos parceiros da União Europeia para sair da situação em que se encontra. A ajuda fundada com biliões de euros encontrou muita resistência, pois que aqueles que souberam administrar as suas finanças não querem financiar aqueles que nunca o souberam fazer. Mas, uma recusa de suporte e ajuda traria consequências imprevisíveis, e possivelmente devastadoras, para a União Europeia e o euro.

O mau estar financeiro espalhou-se como uma doença contagiosa. A “tragédia grega” revelou que outros países se encontram, igualmente, em má situação económica.

Com a classificação da Grécia no primeiro lugar de risco de bancarrota, dentro do número dos 66 países monitorizados, a agência de notação de crédito Standard & Poor's (S&P) baixou o o rating da dívida pública grega de BBB+ para BB+. Este rating é é considerado "lixo", ou na gíria "junk bonds".

Quanto a Portugal, um país com baixa produção e dívida pública elevada, Standard & Poor’s desceu em dois níveis o valor a longo prazo da dívida portuguesa de A+ para A-.

Em relação ao Produto Interno Bruto, Portugal tem atualmente um deficit público de 9,4%. um débito público de 76.8% e a produção apresenta um mínguo aumento de 1%.

A intenção da classificação de S&P é indicar aos investidores institucionais o risco que correm em investir em títulos e obrigações de países com ratings baixos.

Sacrifícios são necessários para estabilizar e melhorar a situação dos países afetados. Quanto a Portugal, Kolek Stefan, do banco Unicredit, disse à AFP que "quanto mais tempo a crise atual se prolongar, mais o plano de austeridade (atual) corre o risco de ser irrealista e exigir novas medidas".

A crise afecta o euro. A moeda da comunidade continua a descer em relação às várias moedas e ao dólar canadiano. Portugueses residentes fora de Portugal são afectados de diferente maneira. Aqueles que recebem pensões portuguesas estão a ver o valor das suas mensalidades descer, outros que cambiam dólares canadiados por euros, beneficiam da desvalorização da moeda europeia.

INVESTMENT TRUSTS

A 31 de Outubro de 2006, o Ministro das Finanças do Canadá, Jim Flaherty, anunciou legislação em que trusts passarão a pagar impostos, tais como corporações, a partir de 2001. Com a nova legislação, as conversões de trusts em corporações começaram.

PRECISION DRILLING é a maior companhia canadiana de equipamento e serviços para a indústria do gás e do óleo. Na sua intenção de se alargar, adquiriu uma companhia nos Estados Unidos, pela qual pagou caro; a seguir veio a queda do mercado e a baixa do preço do óleo. Com débito elevado, distribuições foram suspensas em Fevereiro de 2009 e o preço das ações desceu precipitadamente. Agora anunciou a sua intenção de transformar-se em corporação e de não pagar dividendos, optando por se tornar uma companhia de growth.

Outra companhia que se irá converter em corporação é YELLOW PAGES INCOME FUND, a empresa que publica as conhecidas páginas amarelas. Atualmente, Yellow Pages paga aos investidores $0.80 anualmente. A partir de Janeiro como corporação passará a pagar $0.65. Dividendos terão o habitual tax credit, o que componsará a redução da distribuições.

Tal como estas empresas muitas outras estão na corrida para conversão antes do fim do ano. Conversões têm que ser aprovadas pelos investidores em Assembleia Geral.

REITs, que estão isentos da legislação, continuarão como trusts. Eles beneficiarão da conversão, pois que muitos investidores que preferem ou necessitam de cash flow, serão atraídos pelas distribuições elevadas. O aumento de juros poderá provocar um declínio ligeiro em valor, mas a tendência, a longo termo, é de aumento de preços.

(Nota: este número do BOLETIM, e subsequentes, é escrito à brasileira, cortesia do novo acordo ortográfico (Governo Português).

(4 de Maio de 2010)

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