ANO 15 .............................................. No. 88

NOVEMBRO - DEZEMBRO 2010 ............ Director: Álvaro Trigo


ABERTURA

O fim do ano aproxima-se. Esta é a ocasião para analisar a saúde das nossas pastas de investimento e pensar na declaração de rendimentos do ano corrente, a fazer nos princípios de 2011.

Ao examinar o nosso portefólio encontramos ações que foram vendidas a preços superiores ao da compra. Isto resulta em ganhos de capital. Simultaneamente encontramos outras transacionadas agora a preços inferiores àqueles a que as compramos. Acerca destas deparamo-nos com um dilema. Deveremos ou não mantê-las, na esperança de uma recuperação? É a queda temporária ou a companhia perdeu a atração que tinha quando investimos nela? Uma decisão a considerar é vender estas ações.

Com ganhos de capital, devemos considerar a venda de “percas”. Venda de ações em que temos prejuízos reduzem ganhos de capital e, consequentemente, impostos a pagar.

COMENTÁRIO

Não há falta de notícias – no Canadá e mundialmente. A turbulência verificada nos mercados financeiros deixa investidores inquietos e indecisos nas decisões a tomar.

No panorama canadiano, se há dois meses atrás o tema principal de conversação nos meios financeiros eram Magna e Frank Stronack, agora o assunto do dia tem sido a venda ou não venda de POTASH CORP. of SASKATCHEWAN a uma companhia australiana - BHP Billiton Ltd.

Lendo jornais financeiros é impossível não deparar com notícias, comentários e as mais diversas opiniões sobre o assunto. A maior resistência à venda de Potash foi da província onde a maior das suas minas está localizada. Para Saskatchewan, a companhia é importante demais para ser adquirida por uma entidade estrangeira, pelo menos nas condições dessa oferta.

Após o desejo manifestado pelo companhia australiana de adquirir a canadiana, Potash anunciou imediatamente um “shareholder rights plan”, geralmente conhecido como “poison pill”

Entretanto o governo federal deparou-se com um dilema. Por um lado, a sua filosofia de “free trade” e a crença de que “o mercado sabe melhor” e deve ser livre de restrições e influências governamentais; por outro lado, a pressão enorme do governo provincial, onde o partido conservador tem suporte substancial e bastantes deputados eleitos.

Um pouco contra a expectativa geral, o governo do Primeiro Ministro Harper, adepto do “comércio livre,” bloqueou a venda, dando à companhia australiana um prazo de 30 dias para apresentar proposta mais favorável. E o que se passará ao fim dos 30 dias? Para muitos a transação está liquidada.

Em 1989, o governo da província de Saskatchewan privatizou Potash Corp. Até então a companhia era praticamente desconhecida dos canadianos. Mas a enormidade da mina em Saskatchewan e acontecimentos recentes, que demonstraram a importância de adubos no aumento de produção agrária, contribuíram para o reconhecimento da importância do potássio.

O outro tema de interesse e preocupação é a situação da economia mundial e situação financeira de inúmeros países. Notícias barradas de pessimismo causam confusão e receio pelos nossos investimentos.

Quem está impedir a recuperação da economia mundial? A Europa, cujos países sofrem de instabilidade económica e financeira, com alguns à beira da bancarrota? Os Estados Unidos, com um défice maciço e a continuar a imprimir dinheiro desatinadamente? A China, que se recusa a valorizar a moeda e que espalha produtos de baixo custo pelo mundo fora?

A situação global preocupa e rasgos de esperança são logo obstruídos por ondas de pessimismo. Nunca a economia e a política pareceram tão interligadas como na conjetura atual.

Após a Grécia e a Irlanda pedirem auxílio financeiro ao exterior, olhos estão expostos em Portugal. Medidas de austeridade, agora estabelecidas, compreendem o corte de despesas e aumento de impostos. Serão elas medidas suficientes para restaurar a saúde financeira da comunidade?

O governo dos Estados Unidos vai contribuir com $600 biliões de dólares (U.S.) para estimular a economia do país, uma decisão criticada pela maioria dos parceiros económicos, mas aprovada pelo Canadá.

A decisão da Reserva Federal de “criar” dólares para comprar “treasuries” (uma maneira de imprimir mais dinheiro-papel) garante uma desvalorização da moeda americana. – Naturalmente países que compram o débito americano, vêm o valor dos seus investimentos reduzido em termos reais.

Com um défice orçamental de $1.42 trilião de dólares, pessimistas creem que o declínio económico dos Estados Unidos é agora evidente. Nesta contingência, a confiança no valor do dinheiro papel diminui e a atração pelo ouro aumenta.

Como sair do impasse atual? Economistas que advogam “comércio livre” soam o alarme e criticam protecionismo que, segundo as suas opiniões, travam o crescimento da economia global.

China, Índia e outras economias asiáticas, têm sido os motores da recuperação mundial, após a crise financeira mundial, mas as economias dos Estados Unidos e outros países ocidentais têm travado essa recuperação.

Ouro e prata continuam a despertar grande interesse nos investidores preocupados com a situação económica. Menos noticiados, mas não menos apreciados, metais raros estão nos telescópios de alguns analistas e comentadores financeiros. Dezassete minerais são considerados raros. Eles são usados em muitos produtos modernos: carros híbridos, telemóveis, ipods, câmaras digitais, supercondutores, painéis solares e até armas nucleares. O problema com esta espécie de elementos não é apenas encontra-los, mas produzi-los economicamente.

VOTING OU NO-VOTING

A realidade é esta: nem todas as ações têm o mesmo valor.

Há dois meses atrás o “assunto do dia” era Magna e Frank Stronack. Stronack começou a empresa numa pequena garagem, em Toronto, durante os anos 50. Vinte anos mais tarde, com o benefício de acionistas, foi criada uma classe de ações - B – com direito a 300 votos cada uma, permitindo assim que ele, com um menor capital envolvido, controlasse a companhia.

Frank Stronack plano para desmantelar o sistema duplo de ações de MAGNA INTERNATIONAL provocou controvérsia, devido às suas exigências, e trouxe para a frente da discussão o sistema conhecido como “dual”. Frank Stronack exigiu um prémio elevado para transformar as suas ações em ações ordinárias (uma ação, um voto)

A ideia de dar maior poder a alguns acionistas, em detrimento de outros, vem do tempo em que famílias dominavam certos negócios, precisavam de capital mas não queriam perder o controlo das suas empresas. Assim nasceu o “dual-class” de ações.

Apareceram, então, ações de “multiple-voting” e, noutros casos, ações sem direito a voto. Tal prática, comum no Canadá, é desconhecido noutras países.

Entre as Companhias com este “dual system” lembramo-nos de Rogers Communications, Bombardier, Quebecor, Shaw Communications, entre outras, que são controladas por indivíduos ou famílias.

Investidores que compram ações com restrições de voto, creem que a companhia é bem dirigida, tem futuro e não se preocupam por terem ou não palavra na sua administração. é certo que há casos em que investidores sem direito a voto têm beneficiado, mas este princípio é injusto e sujeito a abuso.

(20 de Novembro de 2010)

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