ANO 16 .............................................. No. 92

JULHO - AGOSTO 2011 ..........Orientador: Álvaro Trigo


ABERTURA

Este número do BOLETIM FINANCEIRO sai atrasado. Umas férias há muito planeadas em Portugal, aliadas a alguns afazeres, atrasaram a sua preparação.

Ausentes das eleições federais do Canadá, tivemos a oportunidade de assistir às realizadas em Portugal. Os debates televisivos entre os leaders portugueses revelaram-se muito mais interessantes do que os do Canadá. Enquanto no Canadá a discussão é entre os leaders dos partidos principais, onde, por vezes, falam todos ao mesmo tempo, em Portugal o debate é apenas entre dois leaders. Assim, há várias sessões em que os dirigentes dos diversos partidos se confrontam. O ex-primeiro-ministro, Sócrates, revelou-se um orador hábil. Com a sua eloquência soube contornar perguntas difíceis. Mas o dom da palavra apenas consegue enevoar a realidade. Participantes nas discussões jamais delinearam, no caso de formarem governo, quais as medidas a tomar para confrontar a situação económica e financeira do país.

COMENTÁRIO

Este comentário difere dos do passado. Não é uma dissertação ou reflexão sobre o panorama financeiro canadiano, mas uma observação sobre o estado da economia em Portugal.

A situação financeira e económica do país é grave. Entre a população há a noção de que a situação em que ele se encontra é má e que ainda irá ficar pior. Portugueses estão-se a preparar para cortes de pensões, congelamentos de ordenados, despedimentos de excedentes de mão-de-obra (especialmente nas dezenas de instituições, criadas num ambiente de largueza económica, e que ninguém sabe para que servem) e outras medidas penosas para a população numa economia já em recessão.

Mil milhões de euros (leia-se, um bilião no continente americano) foram depositados até ao final de Junho no Banco de Portugal. Esse valor é parte dum empréstimo de 78 mil milhões. Em contrapartida o país compromete-se a tomar medidas de austeridade extrema, que irão afetar todos os portugueses.

Recentemente a agência Moody’s Investors Service Inc. baixou o rate do crédito do governo português e no seu relatório afirmou que era pouco provável que o país conseguisse adquirir fundos nos capitais internacionais em 2013, como planeara. Sendo assim, para evitar o pior, o país precisaria de outro bailout.

Com as obrigações da Irlanda e Portugal classificadas como junk bonds, são agora a Espanha e a Itália que vêm os seus bonds despromovidos e são forçadas a oferecer yields mais altas, as mais elevadas desde que o euro foi introduzido na União Europeia em 1999. Isto reflete a perceção de investidores de que estes países oferecem maior risco.

A crise europeia começou na Grécia e alastrou a outros países, quando se descortinou que excessos de empréstimos, défices, etc. existiam, igualmente, por várias bandas, apressando o que, mais tarde ou mais cedo, se viria a descobrir.

A dívida da Grécia excede os 350 mil milhões (350 biliões) de euros (30,000 Euros por cada um dos seus 13 milhões de habitantes). O débito continua a aumentar e prevê-se que chegue a 166% do total da produção doméstica. Tal é uma situação insustentável. Toda a ajuda financeira até agora oferecida é insuficiente e, afirma-se, nos meios bem informados, que, mais tarde ou mais cedo, o país irá entrar em bancarrota. Se tal acontecer as implicações para o resto da Europa são profundas e não é de desconsiderar que a república helénica saia do euro e regresse a uma moeda nacional (o dracma ou outra a considerar). Se tal acontecer, Portugal poderá encontrar-se na mesma contingência.

O governo grego, confrontando a pior recessão desde os anos 70 e com um desemprego elevadíssimo, especialmente entre os mais jovens (40%), impôs medidas de austeridade duras, altamente impopulares e que têm provocado desordens. Tais desacatos, resultantes duma frustração popular, apenas agravam uma situação, já por si, desesperada.

Ao contrario dos gregos, que sempre gostaram de protestar e têm uma tradição de rebeldia e ideias anárquicas, a população portuguesa parece resignada e compreender as medidas impostas pela troika para o empréstimo e aceites pelo governo.

REAL RETURN BONDS

Confessamos que sempre fomos céticos acerca de obrigações como investimento. A falta de transparência (para usar o termo agora tanto em voga) de comissões pagas por este produto continua a ser um problema. Na compra ou venda de ações o leitor sabe o preço de compra, de venda e a importância da comissão. No caso de obrigações não existe tal visibilidade, pois que se fica sempre às escuras sem saber quanto a outra parte recebeu ou pagou.

Felizmente, existe uma alternativa à compra de bonds individualmente - fundos de investimento. Estes fundos incluem obrigações com diferentes prazos de resgate e cujo valor é determinado ao fim do dia. Mais recentemente começaram a aparecer ETFs.

Um problema com bonds é que eles são influenciados pelos juros. O maior risco é inflação. Se juros sobem, eles, a dar um juro fixo, passam a ter menos valor. Neste caso o preço dos bonds desce, para manter a relação entre o principal e o juro de acordo com o mercado.

Como exemplo, num período de aumento de juros, um bond de $1.000.00 a dar um juro de 3% pode começar a ser transacionado a menor valor, se bem que na data de redenção o valor nominal será sempre $1,000.00. Com o aumento de juros nenhum investidor irá pagar $1,000.00 por bonds para receber um juro de 3%, quando produtos similares dão 4 ou 5%. Dependendo do tempo até o investimento se vencer, e outras características, tais obrigações descerão de valor.

Entretanto, um ETF lançado no mercado nestes últimos anos veio solucionar o problema e tranquilizar um pouco aqueles preocupados com a inflação - Real Return Bonds. Nestas obrigações juros são ajustados à inflação; igualmente ajustada à inflação é a importância a receber na data da liquidação.

Reconhecendo a vantagem deste produto financeiro, ETFs (que são negociados nas bolsas como ações) têm visto o seu custo aumentar.

STOP LOSS ORDER

Stop loss order é uma ordem para vender ações quando o seu preço desce até um determinada importância. O objetivo da ordem é “conter as percas”. Quando ações descem de valor e investidores querem controlar as percas stop order transforma-se em market order.

Em principio este tipo de ordem faz sentido. No entanto, podemo-nos confrontar com situações imprevisíveis. Por exemplo: más notícias afetam a companhia e há um embalanço do mercado. Todos querem vender, mas ninguém as quer adquirir a esse valor. A cotação desejada do “stop loss” não se efetua, pois que não há compradores a esse preço. A descida continua e pode ser precipitada e as ações, em market order, serão vendidas a um preço muito inferior ao da sell order.

Recentemente, reguladores exprimiram preocupação com este tipo de ordens quando não têm um stop limit. A partir de agora, todos os stop orders devem ser acompanhadas de um stop limit que não pode ser mais do que 20% do stop order.

(24 de Julho) de 2011)

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