ANO 16 .............................................. No. 93

SETEMBRO - OUTUBRO 2011 ..........Orientador: Álvaro Trigo


ABERTURA

Custa a creditar que o verão está, praticamente, passado. Com as férias atrás das costas, começamo-nos a concentrar nos nossos investimentos.

Torna-se difícil escrever algo positivo sobre a bolsa. Notícias são desanimadoras. Na Europa, incerteza reina, sem se saber como solucionar a crise financeira que atinge a União; nos Estados Unidos, desemprego e um défice gigantesco, ameaçam a estabilidade financeira e económica global.

Inicialmente, a nossa ideia era de apresentar neste boletim uma companhia que resistiria melhor às vicissitudes atuais, no entanto, contemplando o panorama global, reduzimos este número a um breve comentário e notícias de sobre o mercado canadiano.

COMENTÁRIO

A crise económica e financeira que atravessamos tem sido comparada com a de 2008. No entanto, existem diferenças fundamentais. Desta vez, a crise não é confinada apenas a instituições bancárias. Agora são os governos que estão em dificuldade. Certamente, numa inter-relação financeira, a crise afeta igualmente o sistema bancário, dado que muito do débito, que consta do ativo dessas instituições poderá não ser pago.

Em 2008, a crise teve origem em securities, principalmente hipotecas, empacotadas em títulos de investimento a curto prazo, cujo valor era impossível de determinar. Esses títulos de crédito foram criados e seguros por instituições financeiras americanas. Agora os grandes devedores são os governos europeus, com capacidade para impor impostos, despedir excesso de mão-de–obra e legislar medidas fiscais.

Medidas de austeridade nos dois lados do Atlântico, pretendem remediar a situação preocupante, mas garantem a continuação de desemprego elevado e redução de produção das economias nacionais.

Nos Estados Unidos o desemprego é superior a 9%. Planos do presidente Obama, a enviar ao Congresso para aprovação, propõem um estímulo de biliões de dólares. Uma cláusula do programa é deprimente para o Canadá – a utilização de made in the USA materiais em trabalhos públicos.

Na Europa, os olhos continuam postos na Grécia, onde o programa de austeridade reduz emprego e provoca protestos de rua. Uns, possivelmente mais realistas, preconizam uma falência controlada como solução para o país e até o abandonamento do Euro; outros, incluindo os governos da Alemanha e França, garantem que a Grécia é parte integral da União Europeia. Uma ideia prevalente é uma emissão de obrigações pela União, para a aquisição de fundos a atribuir ao governo helénico. Uma falência do país causaria prejuízos para instituições possuidoras da dívida grega e repercussões em toda a Europa.

NOTÍCIAS

Sino-Forest Corp.

Sino-Forest Corp. é uma companhia de plantações de madeira, cujas principais atividades são: aquisição de propriedades, cultivo de fibras de madeira, produção e venda de madeira na China. Ela tem escritórios em Hong-Kong e Mississauga, Ontário.

Ações de Sino-Forest começaram a ser transacionadas na bolsa de Toronto em 1995. Enquanto há anos atrás, negociadas à volta de um dólar, elas chegaram a $26.64 dólares em março deste ano e, segundo informação da companhia, o último lucro anual foi de $2.46 dólares por ação.

Entretanto uma bomba rebentou. Num comunicado preparado, em 2 de Junho por short-seller, Carson Block’s Muddy Waters LLC, afirmou-se que a companhia falsificara relatórios financeiros, exagerando a área e valor das suas propriedades. Sino-Forest contestou o reporte e iniciou a sua própria investigação.

O que se seguiu foi, obviamente, a queda de preço das ações, com volumes massivos negociados na bolsa de Toronto. Para tornar o caso mais misterioso, um fundo de investimento de Singapura começou a acumular ações.

Investidores, confusos, sem saber em quem confiar, proporcionaram flutuações elevadas de preço. Num dia as ações desciam 10%, vendidas por aqueles que queriam desembaraçar-se delas; no seguinte, subiam 5 ou 6%, compradas por aqueles que pensavam estar a comprar algo de maior valor.

O caso tomou nova feição, quando a Ontario Securities Commission emitiu uma cease-trade-order para as ações de Sino-Forest. A comissão exigiu, ainda, a demissão de cinco diretores da companhia. No entanto, reconhecendo que tinha excedido a sua autoridade, o pedido de demissão foi retirado. Entretanto, esses diretores demitiram-se.

Sino-Forest está agora sujeita a inúmeras class action lawsuits, por firmas de advogados. Uma das últimas firmas a entrar na corrida dos queixosos foi a firma Harwood Feffer LLP, em representação de possuidores de ações da companhia e que está investigando possíveis reivindicações contra Sino-Forest, diretores e administradores, em referência de fraude e falsificação de práticas contabilísticas.

Este caso revela-nos o seguinte: torna-se difícil compelir companhias a apresentar provas seguras e irrefutáveis dos seus bens em localizações que não são facilmente acessíveis. é, igualmente, difícil verificar a exatidão de relatórios financeiros de companhias cujos assets residem em jurisdições estrangeiras, nomeadamente China, Indonésia e outras.

As ações de Sino-Forest, além de serem negociadas na bolsa de Toronto, são ainda negociadas nos Estados Unidos (over-the-counter).

MIGAO CORPORATION

No passado dia 7 de setembro assistimos à Assembleia Geral da companhia,em Toronto.

Migao é outra companhia baseada na China produtora de produtos químicos. Segundo o relatório da companhia, mais de 80.000 toneladas de nitrato de potássio foram vendido aos seus clientes. A companhia tem escritório em Toronto e na China (Pequim).

O relatório anual é surpreendentemente exíguo. Doze páginas em que se apresentam as vantagens de nitrato de potássio (2 páginas), sulfato, potássio (2 páginas), carta aos acionistas (2 páginas) e o resto dedicado à boa atuação da companhia. Não aparecem relatórios financeiros, nem informação detalhada das atividades da firma. Não é de admirar que um dos acionistas presentes se voltasse para a assistência, e, de relatório na mão, o exibisse vigorosamente, questionando administradores que espécie de relatório era esse tão exíguo de informação.

Será caso para perguntar: estaremos perante outra Sino-Forest Corporation?

RESEARCH IN MOTION LTD.

Research in Motion Ltd., o “darling” da tecnologia canadiana está em problemas. Ações tiveram uma queda de 20%. Razão: lucros desanimadores e a convicção de que a companhia na conseguirá recuperar a perca de mercado. Fundos em tesouraria foram reduzidos, devido à aquisição de algumas patentes de outra estrela do passado, Nortel, despesas de compensação para 2000 empregados despedidos e melhoramentos no BlackBerry smartphones.

Competição é atroz e inovação constitui grande incógnita. Produtos de Apple e Google continuam a ganhar mercado. iPod’s, iPad’s e, agora, telefones Android, tiram uma fatia do mercado nestes produtos. Num ano, a percentagem de smartphones produzidos por RIM desceu de 19% para 12%.

Administradores da companhia estão confiantes no futuro. Dizem que a situação melhorará para o resto do ano e em 2012 e que BlackBerry 7 está a ter grande aceitação por consumidores.

Uma coisa é certa. Na área desta tecnologia, transformações rápidas e inovações são suficientes para o sucesso ou insucesso duma companhia.

Ações de Research In Motion são transacionadas na Bolsa de Toronto e NASDAQ Stock Market.

(21 de setembro de 2011)

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